hawkwind: estamos olhando para você (2022)

Dedicado a Renato Mello que me abriu os músculos que cobrem e protegem os olhos

12 DE NOVEMBRO

HAWKWIND: ÁCIDO, NUDEZ E PESADELOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA

Afinal, porque é que os HAWKWIND foram uma das bandas mais radicais do rock dos anos 70?

Por José Miguel Rodrigues - https://www.loudmagazine.net/

É praticamente impossível perceber se o rock psicadélico teria existido sem eles, mas uma coisa é certa… Por esta altura, o nome Hawkwind já tem um lugar garantido no panteão da melhor música britânica. Hoje, quando são vistos como uma banda que transcende o tempo, o espaço e muitas das sub-culturas musicais a que deram origem, dizer que são lendários acaba por soar a eufemismo. Movidos por uma enorme vontade de fazerem apenas o que queriam, da forma como queriam e no momento que escolhiam, ao longo de mais de quatro décadas nunca se curvaram perante a comunicação social, nunca fizeram os que as pessoas esperavam deles e, ao longo de um percurso mirabolante, sempre fizeram questão de desafiar todas e quaisquer convenções. Olhando para trás e para o seu legado, talvez resida precisamente aí o segredo da sua importância transversal a uma série de tendências no espectro da música pesada mais aventureira. Dave Brock, o guitarrista, ocasional vocalista e, sempre, mentor do colectivo britânico guiou-nos por uma viagem alucinante.

Dave Brock sempre foi a principal fonte de energia e direcção por trás dos Hawkwind, por isso a lógica dita que este artigo comece por aflorar a sua carreira no anos pré-Hawkwind. Feitas as contas, foi esta cadeia de eventos que levou à formação da banda e à direcção que tomaria ao longo dos anos. Provavelmente, se Brock nunca tivesse decidido pegar num banjo ou tocar em vários grupos de jazz na recta final dos ANOS 50, uma das mais destemidas bandas britânicas no que toca à criatividade nunca teria existido. Foram, de resto, esses primeiros anos, passados em grande parte a emular o espírito de Nova Orleães com os The Gravnier Street Stompers que, uma década mais parte, inspirariam a criação do seu colectivo de sempre. Uns anos antes tinha-se dado o momento da revelação; o músico descobriu a guitarra eléctrica, começou a frequentar os clubes mais in da altura e, desde bem cedo, mostrou interesse na exploração do instrumento muito para lá do convencional. Junte-se a isto a sua visão muito pessoal do mundo, a lenda diz que nos 60s era comum vê-lo em manifestações, e estavam semeadas as sementes para tudo o que viria a seguir. O fertilizante fê-las crescer nos anos seguintes, primeiro através de uma relação chegada com Eric Clapton e participações nos The Dharma Blues Band e The Famous Cure, com os quais atingiu alguma exposição e fez digressões; foi também neste período que se cruzou pela primeira vez com o malogrado Nik Turner, outra peça essencial no percurso dos nossos heróis. Este último projecto manteve-se no activo até 1969, altura em que os músicos decidiram seguir caminhos distintos. O de Brock foi passado a tocar em pubs e nas ruas de Londres, a fazer o que podia para sobreviver.

estamos

NASCE O MITO

Durante uma das suas actuações improvisadas em Tottenham Court Road, Brock cruzou-se com o baixista John Harrisson, que trabalhava naquela zona. A amizade cresceu e, com a ajuda de Mick Slattery (ex-The Famous Cure) e de um baterista, Terry Olis, encontrado através de um anúncio no Melody Maker, começam a fazer música juntos. Nik Turner, que o guitarrista tinha reencontrado numa noite em que estava a tocar à porta do famoso Marquee – situado exactamente no mesmo prédio dos escritórios da editora Charisma, onde sete anos depois estariam a assinar um contracto – inicialmente juntou-se a eles como roadie, mas o seu saxofone teimava em sair da caixa durante os ensaios e, uns meses depois, passou a membro oficial do colectivo. Acompanhados também por Dik Mik começam a dar os primeiros concertos e, em Notting Hill, uma curta jam de dez minutos bastou para que Douglas Smith, um agente da Clearwater Productions, os contratasse. Ainda com a designação Hawkwind Zoo gravam uma maqueta de dois temas antes de trocarem Slattery por Huw Lloyd Langton e serem contratados pela United Artists, que editou o single «Hurry On Sundown» e a estreia homónima de longa-duração em 1970. Ouvidos agora, os temas mostram claramente a curiosa fusão de rock, blues e pop, condimentada de forma selvagem pelo free jazz com texturas electrónicas. O que lhes ainda lhes faltava a nível de sofisticação era compensado pela originalidade da abordagem e, ao vivo, apoiados num elaborado show de luzes e movidos a drogas psicadélicas, os músicos começavam a estabelecer a sua identidade própria e a crescer.

“Andávamos um bocado ao sabor da inspiração, sendo que nessa altura o que mais nos preocupava era passar ao público a ideia de que não era mau, de todo, se deixassem a cidade para voltar ao campo. Queríamos mudar qualquer coisa, era esse o conceito do mundo em que vivíamos na altura. Era um sonho, que de certa forma acabou por tornar-se real.“

Mostrando desde cedo que os Hawkwind sempre foram mais um colectivo de músicos com um mesmo estado de espírito do que uma banda com formação rígida, foi com Dave Andersson (ex-Amon Düll II) que se fizeram à estrada logo a seguir à edição do disco de estreia e, durante os doze meses seguintes, mantiveram-se sempre em digressão. Muitas são as peripécias que viveram nessa altura, mas há uma que ficou para sempre gravada na memória colectiva da geração de 70. Em AGOSTO, a banda passou uma semana a tocar à porta do FESTIVAL DA ILHA DE WIGHT, em protesto para com o preço demasiado elevado dos ingressos. Jimi Hendrix, que actuava no evento, saiu do recinto para vê-los e, durante o seu concerto, dedicou um tema ao “the cat with the silver face”… Nem mais nem menos que Nik Turner, que tinha pintado a cara de prateado nesse dia. Entretanto a imprensa já tinha dado por eles, traçando elogios à sua abordagem arrojada e o perfil do grupo começava a crescer. A sua música também. «In Search Of Space», editado 1972, deu sinais de um amadurecimento impressionante a todos os níveis. Agora um septeto, com a entrada da performer Stacia, que tinha subido ao palco em Glastonbury, acabando por transformar-se noutra peça-chave dos concertos desta fase, os músicos continuaram a apostar em instrumentais bastante longos, mas começaram a introduzir as primeiras vocalizações e mostravam-se mais concentrados na manutenção de um ritmo poderoso. O resultado era repetitivo q.b. e, combinado com o show de luzes e a abundância de drogas no palco e fora dele, tinha um efeito hipnótico sobre o público – os Hawkwind estabeleciam uma missão, tomar de assalto os sentidos da plateia, de todas as formas possíveis e imagináveis.

“Foi a fase da total alucinação psicadélica. Decidimos pôr a frase “trying to take people on a trip without taking trips” na contra-capa do primeiro álbum, mas isso só funcionava na teoria porque na altura toda a gente tomava LSD – na banda e no público.”

VOOS MAIS ALTOS

Aquela que é comummente vista como a fase mais influente e importante da carreira da intrépida troupe britânica começa exactamente nesta altura e, não estranhamente, coincide com o início da colaboração com um dos músicos mais lendários de que há memória no universo do rock’n’roll. 1972 e 73 foram anos de enorme expansão em todas as frentes, culminando num single que alcançou o #3 do top de vendas britânico e um álbum que trepou à posição #9, com concertos esgotados um pouco por todo o lado. A escalada para este período de sucesso tinha começado, no entanto, no VERÃO DE 71, no exacto momento em que Dave Anderson deixou o colectivo e foi substituído por um ex-roadie de Hendrix, Ian Kilmister. Mais conhecido como Lemmy, o baixista trouxe consigo um amigo de longa data, Simon King, com quem já tinha tocado nos Opal Butterfly, para completar a secção rítmica. A entrada de ambos funcionou como a proverbial lufada de ar fresco no seio do colectivo e o contributo do futuro líder dos Motörhead, um guitarrista transformando em baixista, tornou a música mais densa e mais pesada, mas também um pouco mais melódica, orelhuda e envolvente. A experiência, que nesta altura contava também com os préstimos de Robert Calvert, durou apenas dezoito meses e, a 13 DE FEVEREIRO DE 1972, materializou-se no palco da mítica Roundhouse, em Londres. A incontornável «Silver Machine» foi captada pela primeira vez nessa ocasião e, depois de misturada em estúdio, com a voz de Calvert (afastado temporariamente por problemas mentais) a ser substituída pela de Lemmy, acabou por ser disponibilizada em single no Verão desse ano, trepando ao #3 da tabela de vendas no Reino Unido.

“Tivemos o nosso maior êxito comercial de sempre no VERÃO DE 1972 e esse foi um momento mesmo muito importante na nossa carreira. Naquela altura ainda éramos uma banda jovem e isso permitiu-nos fazer muitas coisas com que, até então, só tínhamos sonhado. Comprámos o nosso próprio P.A. e três carrinhas, para transportarem todo o material e o grupo. A ‘Silver Machine’ funcionou como uma espécie de libertação, deixámos de estar dependentes fosse de quem fosse para tocarmos. Podíamos ir a qualquer lado e estava garantido que íamos dar o nosso espectáculo; levávamos todo o P.A., a equipa, a Stacia, as projecções e as luzes.”

De um momento para o outro, os Hawkwind transformaram-se num nome familiar e a «Silver Machine» tocava em todas as jukeboxes. Apareceram no Top Of The Pops, mas, como esperado, trocaram as voltas à BBC. Primeiro recusaram-se a ir aos estúdios do canal público britânico e, depois, exigiriam que enviassem uma equipa para os filmar a tocar o tema ao vivo num concerto. O interesse que, na altura, rodeava Brock, Turner, Lemmy e companhia era de tal ordem que a BBC concordou. O terceiro álbum, com o título DOREMI FASOL LATIDO, chegou a 24 DE NOVEMBRO DE 1972, dando continuidade à improvável explosão de reconhecimento público que, uns escassos anos antes, era impensável. O disco atingiu a posição #14 do top britânico, o que, na altura, ainda representava um número considerável de discos vendidos e, pela primeira vez, os músicos viram-se com dinheiro na carteira. De seguida, no topo da criatividade, trataram então de idealizar e montar a engenhosa SPACE RITUAL TOUR. Um motim de cores, dança e música, com luzes, slides, filmes e projecções, o espectáculo – que habitualmente durava mais de duas horas – afirmou-se como suficientemente aventureiro para lhes granjear elogios da indústria e dos seus pares, esmagando de uma vez por todas a ideia de que eram apenas um bando de freaks de Notting Hill a brincar às bandas. Nas digressões de 72 e 73, deste e do outro lado do Atlântico, o SPACE RITUAL foi usado para promover DOREMI FASOL LATIDO, um álbum mais pesadão e espacial, que deve ter deixado muitos dos que apareceram nos concertos para ouvir temas na mesma onda da «Silver Machine» a coçar a cabeça. SPACE RITUAL, o álbum, foi captado em concerto em Liverpool e Londres, editado a 11 DE MAIO DE 1973 e furou uma vez mais as tabelas no Reino Unido e, pela primeira vez, nos Estados Unidos.

“Eram outros tempos. Ao contrário do que se passa hoje em dia, arrecadámos uma boa maquia com as vendas dos discos e, depois de termos comprado o P.A. e as carrinhas, investimos tudo o que sobrou na construção de um cenário a sério, na criação de adereços e também em instrumentos. Comprámos luzes, máquinas de fumo, roupas e, basicamente, tudo aquilo de que nos lembrámos.”

ASCENSÃO E QUEDA

Durante 1973, os Hawkwind atingiram o seu pico, a todos os níveis. Fizeram digressões no Reino Unido, na Europa e nos Estados Unidos, venderam mais discos que nunca. No entanto, também perceberam rapidamente que um sucesso tão repentino acaba sempre por revelar-se uma faca de dois gumes. Quando, um ano depois de «Silver Machine», editaram «Urban Guerilla» como single, tornou-se óbvio que tinham perdido o comboio que os tinha colocado nas bocas do mundo. O SPACE RITUAL, por seu lado, revelou-se tão impressionante na sua grandeza que acabou por atrofiar o crescimento criativo do grupo, que se se viu atirado para uma daquelas rodas de hamster, onde, durante boa parte da sua carreira futura, passou o tempo a tentar repetir o génio do passado. Não teve ter ajudado que aquele “comprámos tudo aquilo de que nos lembrámos”, proferido pelo Dave Brock, deva ter incluído também doses massivas de drogas. Actualmente, vendo os vídeos daquela altura, com a Stacia a ondular ao sabor do transe psych de temas como «Born To Go», «Space Is Deep», «Orgone Accumulator» ou «Master Of The Universe», percebe-se que não devem ter sido poucas. É sabido que o space rock, rock psicadélico ou o que quer que lhe queiram chamar este mês, sempre esteve ligado ao consumo de substâncias ilícitas. Muitas, de preferência. Numa altura em que o LSD constituía a “fritaria” de eleição dos músicos e do seu público, não deixa por isso de ser curioso que aquela que é vista como a formação clássica do colectivo tenha acabado por desintegrar-se totalmente no momento em que Lemmy foi dispensado… Por ter sido apanhado com a droga errada.

“Muitas das pessoas que passaram pela banda ao longo dos anos eram músicos e artistas criativos e excêntricos… O Lemmy foi, definitivamente, um deles. Quem sabe o que teria sido da «Silver Machine» sem aquela voz? O Robert Calvert foi outro, um letrista fantástico e muito criativo, que contribuiu muito para a música que fizemos nessa fase. O Dik Mik foi a outra peça essencial na criação do SPACE RITUAL… Um pioneiro no que toca à música electrónica e que contribuiu imenso para os discos em que participou. Eram tipos com ideias arrojadas e decidimos ir em frente, investindo tudo o que tínhamos na criação de um concerto grandioso, como nunca ninguém tinha feito na altura.”

Acompanhada pelo teclista/violinista Simon House e por Michael Moorcock, que tomou o lugar de Robert Calvert como poeta, a banda grava HALL OF THE MOUNTAIN GRILL e WARRIOR ON THE EDGE OF TIME, em 1974 e 1975 respectivamente. Os dois revelaram uma abordagem ainda um pouco mais dinâmica e, a espaços, versátil, à música dos Hawkwind, mantendo-se até hoje como dois títulos incontornáveis no catálogo destes intrépidos aventureiros. Quiçá os últimos, dirão alguns. Uma coisa é certa, foi nessa altura que escreveram e gravaram «Motorhead», a última composição de Lemmy para o grupo. Em MAIO DE 75, voltam a fazer o voo transatlântico e era imperativo que a digressão fosse um sucesso para se afirmarem de vez na América Do Norte. Na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá, Lemmy foi apanhado com uma quantidade indiscriminada de sulfato de anfetamina e, de seguida, detido pelas autoridades, que tomaram a substância por cocaína, um crime mais grave. Preocupados com um hipotético falhanço da tour, os restantes músicos deixaram Lemmy para trás – literalmente! – e seguiram caminho com Paul Rudolph no baixo. De volta a Inglaterra, o Sr. Kilmister formou os Motörhead. Já em 1976, a banda vê Stacia partir e opta por separar-se da United Artists e do seu management, sendo que os novos selo e manager nunca conseguiram captar na globalidade a essência do projecto, preferindo incentivar uma mudança profunda na sua imagem em vez de fomentarem a individualidade que os tinha caracterizado até então. Não é por isso estranho que tenham terminado os 70s divididos e sem enfoque, com alguns elementos a torcerem por uma abordagem mais pop. No meio de um enorme rebuliço de disputas internas e constantes mudanças de formação, os discos ASTOUNDING SOUNDS AMAZING MUSIC, QUARK STRANGENESS AND CHARM, 25 YEARS ON e PXR5 são o reflexo de um grupo fracturado, demasiado inconsistente para fazer jus ao que tinha ficado para trás.

“O sucesso é relativo, pode manifestar-se de outras formas muito gratificantes. É estranho, mas talvez porque tenhamos definido desde cedo a personalidade da banda ou talvez porque sempre trabalhámos com músicos que, antes de fazerem parte do grupo eram nossos fãs, a verdade é que, independentemente de quem tocou nos discos, todos soam a Hawkwind. Às vezes parece que nos transformámos em algo maior… Algo mais que só uma banda de rock’n’roll. É uma coisa estranha, mas às vezes acho que nos transformámos numa entidade que está muito além do mundano.”

Apesar do relativo regresso à forma com LEVITATION e SONIC ATTACK, de 1980 e 81, que revelaram inclusivamente um acréscimo da quota de peso numa altura em que a N.W.O.B.H.M. estava ao rubro, os Hawkwind não mais conseguiram repetir o êxito atingido no período inicial da sua carreira, mas também nunca deitaram a toalha ao chão, caminhando a passos largos para a marca dos 50 anos de carreira depois de terem sobrevivido aos ANOS 80 e 90, no meio de um frenesim de experimentação que lhes permitiu, para o melhor e para o pior, continuarem a gravar e a tocar ao vivo de forma regular. Vinte e seis álbuns depois, o guitarrista Dave Brock mantém-se como único elemento sobrevivente da época dourada, mas os Hawkwind – e a imensidão de projectos que lhes estão associados, como era o caso do Nik Turner’s New Space Ritual, nunca deixaram de mostrar que há bandas para as quais o sucesso não se mede, de facto, pelas tabelas de vendas. Há muito que estão arredados dos tops e das salas maiores, a não ser que decidam interpretar um clássico na íntegra, como aconteceu com o SPACE RITUAL, a 22 DE FEVEREIRO DE 2014, perante uma O2 Sheperd’s Bush Empire totalmente esgotada, mas o profundo impacto que tiveram em diversas gerações de músicos continua a ser incomensurável.

José Miguel Rodrigues

A venerar o poder do riff há mais de três décadas, começou a dar os primeiros passos no underground através do tape-trading e das fanzines, e durante anos aperfeiçoou a entretanto desaparecida arte do corta e cola. No final dos 90s começa a colaborar com o jornal BLITZ e, uns anos depois, marca presença na génese das revistas RIFF e LOUD!, onde se mantém até hoje como director. Acumula discos na esperança de, um dia, aparecer no programa «Hoarding: Buried Alive».

17 DE NOVEMBRO

REMEMBERING NIK TURNER BY CELEBRATING HAWKWIND

As we mourn the loss of an archival Hawk, we revel in the brilliance of their new álbum

Enquanto lamentamos a perda de um Hawk de estimação, nos deleitamos com o brilho de seu novo álbum

Tim Sommer - https://rockandrollglobe.com/

O milagre Hawkwind continua com o lançamento de WE ARE LOOKING IN ON YOU, seu melhor álbum em décadas.

Esta coleção ao vivo de 19 faixas, gravada em 2021, pode convencer alguns filhotes totalmente não familiarizados com uma das maiores e mais originais bandas de rock de todos os tempos de que Hawkwind é incrível, estupendo, inigualável, incomparável, digno de seu tempo e seus poços mais profundos de afeto.

Amigos, somos todos advogados do homem das cavernas descongelados tropeçando em um mundo que mal entendemos, arrotando elogios obrigatórios ao Cheap Trick porque esse é o triste e pálido direito de nascença de nossa geração. Fazemos o possível para não levantar a poeira da morte nas janelas da vida, embora eu ataque você com esta verdade: o truque barato não é inevitável, a impermanência é. Hoje, em uma manhã que se abriu com o frio lento da neblina transparente e deslizou suavemente para descansar sob o escurecimento de um céu cor de leite gelado sobre um tapete de folhas meio úmidas mudando de vermelho para amarelo e para castanho musgoso, estou obrigado a direcioná-lo para este milagre (já aludido):

Imagine um ato - qualquer ato - que, 53 (!) anos em sua carreira, lança um álbum que é tão bom que, se alguém NUNCA tivesse ouvido aquele ato antes, poderia se tornar um ávido fã do ato APENAS com base naquele novo álbum. Imagine essa improbabilidade! Em outras palavras, considere os lançamentos recentes de qualquer ato de arquivo - McCartney, Springsteen, Costello, Van Morrison, Deep Purple, quem quer que seja; e imagine tocar, digamos, Only the Strong Survive para alguém que NUNCA tinha ouvido Springsteen antes. Poderia Only the Strong Survive fazer de alguém um fã de Springsteen para o resto da vida? Aplique esses mesmos critérios a, ohhhh, McCARTNEY III de 2020 ou o recente THE BOY NAMED IF de Costello, e assim por diante. Ou seja: imagine seu artista de arquivo favorito sem história, legado ou discografia, exceto seu lançamento mais recente. Você poderia se tornar um fã apenas com base nesse álbum? Se não houvesse nenhum outro álbum disponível, você poderia tocá-lo para alguém e fazer com que eles vissem o que você vê, conseguissem o que você ganha? “Pal o' mine, meu jovem amigo, eu quero que você entenda porque eu tenho gritado os elogios de The Boss por quase 50 anos, então eu vou tocar com você Only the Strong Survive!” Isso faria algum sentido? Não, claro que não. Talvez se você abrisse uma garrafa de Rye e falasse e falasse por cerca de 180 minutos, eles poderiam pensar que o álbum estava bom - não é algo que eles ouviriam novamente, mas ok - mas eles não entenderiam por que Bruce era tão importante para você, eles iriam? Cara, alguém não deveria ser melhor do que seu lançamento mais recente, ou não se incomodar?

Posso pensar em um punhado verdadeiramente escasso de artistas legados (que estou definindo como artistas que lançam álbuns há quarenta anos ou mais) cujos últimos / mais recentes álbuns podem ser tocados sem NENHUM prefácio para um ouvinte novato, mas o novo ouvinte poderia se tornar um fã para a vida. Quero dizer, pense nisso. Quantos desses gatos com quem você cresceu podem lançar um novo álbum e você pensa: “Huh, esse álbum é muuuuito bom, eu poderia tocá-lo para alguém que nunca ouviu falar desse artista, e eles entenderiam totalmente .” É verdade que consigo pensar em alguns: ROUGH AND ROWDY WAYS de Bob Dylan. O último álbum de Scott Walker, SOUSED. MINDHIVE DE WIRE. Todos esses são álbuns que podem fazer NOVOS fãs de ouvintes novatos. E agora WE ARE LOOKING IN ON YOU, do Hawkwind, um novo álbum ao vivo impressionante que se destaca como um manifesto de tudo que é absolutamente brilhante sobre o Hawkwind.

estamos

Hawkwind We Are Looking In On You, Cherry Red Records 2022

Agora, quero discutir Hawkwind e sua história contínua, incrível e VIVA, sem discutir a morte; mas a morte muito recente de Nik Turner, um importante (embora confuso) membro de história do Hawkwind, tornou isso impossível. Mas, novamente, a morte, como o nascimento, está em cada palavra que escrevemos, falamos, pensamos; quando somos abençoados com uma encarnação humana, há apenas duas coisas que nos são garantidas por esta primogenitura: nascimento e morte. Portanto, devemos amar e fazer amizade com a morte e alcançá-la como um amigo querido, embora misterioso; é mais uma parte de nossa vida do que as coisas que aceitamos como os tijolos mais fracos de nossa experiência garantida, coisas como nossa primeira lembrança de ser apanhado por um pai radiante após a escola infantil, nosso primeiro grito de alegria pelo triunfo de um favorito equipe de esportes, nosso primeiro beijo, o primeiro toque de música que era essencial para nós, nossa primeira percepção de que o Cheap Trick havia dito absolutamente tudo o que eles tinham a dizer em seu segundo álbum e tudo desde e incluindo HEAVEN TONIGHT foi uma recauchutagem diminuindo e desaparecendo, e assim por diante; essas coisas, essas coisas que formam nosso caráter, nossa nostalgia, o livro de nossas lágrimas, os Legos quebrados e desbotados de nossa inteligência e sabedoria, são muito menos importantes para abraçar, amar, do que a morte.

Afinal, uma encarnação humana não nos deve nada além de nascimento e morte; o que fazemos no meio, esses pequenos e grandes atos de graça e avareza, são apenas pedrinhas que se transformam em pó que se transformam em areia que se transforma em um mar que um dia encolherá e desaparecerá. Portanto, honro a morte e honro a vida de Nik Turner, mas por um momento deixarei de lado a morte de Nik Turner, aos 82 anos; Eu vou deixar a morte, tão onipresente que até as estrelas e o sol não são eternos, entrar nas asas por um momento e, em vez disso, focar um pouco da luz dourada do AGORA, ainda que impressionante, da vida, no triunfo de Hawkwind: o fato de que uma banda formado no mesmo ano em que o terrível Woodstock lançou um álbum essencial.

Todos os fenômenos poluídos são insatisfatórios, disse o Buda. Ou seja, quando abordamos algo, qualquer coisa, sob o véu da ignorância – sendo a ignorância definida, em grande parte, pela incapacidade de reconhecer a impermanência –, no final das contas, ficaremos insatisfeitos com o resultado. O punhado de Baked Lays na palma da sua mão nunca irá satisfazê-lo, não é? Você sempre vai querer mais e então ficará arrasado quando ainda mais não puder satisfazê-lo. Nenhuma guloseima salgada, nenhum doce, é eterno, sempre reabastecendo. O passado nunca pode ser lembrado, vivido ou reproduzido para qualquer coisa remotamente parecida com a sua satisfação. Não importa o quanto você tente desesperadamente, você não pode fingir que o novíssimo disco de Springsteen, cheio de covers uivando de uma forma melhor descrita como supurante, poderia realmente convencer qualquer fã novato a amá-lo tanto quanto você amava em 1979. Tudo o que temos é o desaparecimento rápido agora. E AGORA eu amo pra caralho o novo disco do Hawkwind.

O que você precisa saber sobre Hawkwind, passado e presente: você já sonhou que Stereolab e Voivod tiveram um bebê e, em vez de mandá-lo para a pré-escola, eles apenas o colocaram em um planetário onde estavam jogando “Interstellar Overdrive” e “Astronomy Domine” em um loop, repetidamente? Este é o som que Hawkwind tem produzido e destilado aproximadamente desde 1971. (Considerando Hawkwind, especialmente na sequência considerável de um triunfo como WE ARE LOOKING IN ON YOU, deixa o velho Tim um pouco sem fôlego, então, por favor, perdoe alguns dos suspiros que segue.) O próprio som do Hawkwind, aquela estranha transformação do jambandismo e da britadeira Velvet Underground que previu tanto o krautrock quanto o punk (e parecia ser a melhor destilação possível da repetição de Terry Riley/Steve Reich para o hard rock), não tinha antecedentes aparentes, aceite se você imaginar o que teria acontecido se alguém baseasse todo um gênero na ideia dos Stooges e Neu! unindo-se para fazer apenas as melhores e mais hipnóticas partes do álbum MACHINE HEAD do Deep Purple enquanto exibem a incrível sequência de colapso do tempo no FINAL DE 2001 repetidas vezes.

Nunca, nunca houve uma banda como Hawkwind - eles são um gênero em si mesmos - embora todos, desde Sex Pistols a PiL, White Hills, William Orbit, Killing Joke, Sleep e assim por diante, tenham tentado destilar sua essência - e ninguém faz Hawkwind melhor do que Hawkwind, e é por isso que WE ARE LOOKING IN ON YOU, uma coleção de 19 faixas gravada ao vivo em 2021, é tão notável: veja, Hawkwind AINDA faz Hawkwind melhor do que qualquer outro. Este álbum atordoa, desliza, hipnotiza, hipnotiza, agita, queima e geralmente fornece uma master class em spacerock. E eu afirmo isso novamente, porque é um maldito milagre: mesmo se WE ARE LOOKING IN ON YOU fosse o primeiro e único álbum do Hawkwind que você já ouviu, você entenderia, entenderia, entenderia porque Hawkwind é um dos maiores e mais exclusivas bandas de rock de todos os tempos, entenda porque elas precisam fazer parte da sua vida.

E o engraçado é que, claro, WE ARE LOOKING IN ON YOU é tudo isso, e nem é o melhor álbum ao vivo do Hawkwind. SPACE RITUAL, de 1973, é provavelmente um dos três melhores álbuns ao vivo já lançados (apenas o WHO'S LIVE AT LEEDS e JERRY LEE LEWIS'S LIVE AT THE STAR CLUB têm classificação superior, na minha opinião); e Hawkwind, que lançaram oficialmente 13 (!) álbuns ao vivo, já têm duas outras coleções ao vivo absolutamente essenciais em seu catálogo (além de WE ARE LOOKING IN ON YOU e SPACE RITUAL), THE BUSINESS TRIP de 1994 e DREAMWORKERS OF TIME, o coleção bastante impressionante de sessões da BBC entre 1985 e 1995 que foi lançada apenas no ano passado. Surpreendentemente, estamos olhando para você, na verdade, contribui para a imagem do Hawkwind. Em 2021/22, a banda parece ter aperfeiçoado uma espécie de drone punk cremoso e sonhador (em oposição ao baque mecânico mais agitado, espinhoso, squonky e silencioso que eles adotaram em álbuns ao vivo anteriores); se o Hawkwind da era Lemmy/Turner da METADE DOS ANOS 1970 parecia ter um pé no Blue Cheer/proto-Motorhead, outro pé no Krautrock, uma mão no proto punk e outra em TUBULAR BELLS, o impressionante – aí está essa palavra de novo – 2021 /22 Hawkwind em WE ARE LOOKING IN ON YOU soa como o Steve Miller da era FLY LIKE AN EAGLE e os Sex Pistols se unindo para gravar versões de “Sister Ray” e “What's Go On”. O que quer dizer que WE ARE LOOKING IN ON YOU é o melhor punk cremoso dos sonhos que você já ouviu, ponto final e, surpreendentemente, 53 malditos anos de carreira, Hawkwind fez um de seus álbuns verdadeiramente essenciais. Esta é uma banda que parece estar em sua era de ouro, não como uma banda formada no ano em que Richard Nixon se tornou presidente.

Aqui está outra maneira de ver isso: embora esta coleção contenha um bom punhado de material da era Lemmy, 2021/22 Hawkwind toca essas coisas como se tivessem sido realmente escritas para essa ideia da banda. A transição de “Born to Go” (gravada pela primeira vez em 1971) para “Peter Gunn” é transcendente e emocionante, assim como a extensão de “Brainstorm” de 1972 para uma jam em espiral e sinuosa (em uma faixa separada chamada “Neurons”). Embora a abertura do álbum “Magnu” tenha visto a luz do dia pela primeira vez em 1975 (e pelo menos meia dúzia de versões foram lançadas desde então), a renderização em WE ARE LOOKING IN ON YOU é a melhor até agora (ponto de comparação: em qualquer um dos os vários álbuns ao vivo do Who lançados nos últimos trinta anos, a única faixa deles é remotamente melhor do que a versão de estúdio?). "Uncle Sam's on Mars" de 1979 surge como um clássico honesto do Hawkwind - eu nunca o havia considerado sob essa luz antes - e sua extensão para uma jam hipno-punk de 8 minutos em "USB1" faz esse par (o quarto e a quinta faixa da nova coleção) uma afirmação absolutamente inflexível de que Hawkwind 2021/2022 pode lançar músicas tão boas quanto qualquer outra que já lançaram. Há momentos fracos aqui? Claro: “Right to Decide”, a melhor faixa de estúdio de Hawkwind em toda a era pós-Lemmy, é mais fraca e menos focada aqui do que em outros lançamentos ao vivo (as versões em DREAMWORKERS OF TIME são notavelmente superiores); e não sei por que eles incluíram uma versão acústica de "It's Not Unusual" (sim, AQUELA "It's Not Unusual"). Mas tudo isso é compensado por versões honestamente impressionantes de “Spirit of the Age”, “Levitation”, “Space is Deep” e uma incrível e cativante jam de oito minutos que se baseia em “Born to Go” intitulada “Star Explorador." “Star Explorer”, como “Uncle Sam’s On Mars”/”USB1”, faz o que praticamente nenhuma faixa nova de uma banda de 53 anos poderia fazer: fazer você se apaixonar pelo grupo novamente.

Agora, para Nik Turner, por quem, para ser perfeitamente franco, sempre tive sentimentos conflitantes. Turner esteve no Hawkwind durante toda a primeira era crucial, ou seja, de 1969 a 1976 (e ele fez uma segunda passagem breve na banda, de 1982 a 1984). Embora Turner não fosse necessariamente o arquiteto do notável som space-punk/star-drone/metal machine de Hawkwind, ele era um avatar, símbolo e mago de sua estranheza. E eu honro isso. Seus guinchos de saxofone, interjeições vocais estranhas e declarativas, pintura facial, andanças de palco e murmúrios ajudaram a afirmar Hawkwind como um fenômeno hippie britânico definitivo dos ANOS 1970 e além. Além disso, ele escreveu ou co-escreveu algumas de suas faixas definitivas, como "You Shouldn't Do That", "Master of the Universe" e "Brainstorm". Também honro que Turner tenha casado Hawkwind com uma tradição musical muito importante, uma espécie de tribalismo do free jazz dentro da estrutura do space rock/artrock, que é uma forma de expressão que admiro cada vez mais. Turner é o elo entre o proto-punk profundo e hipnotizante de Hawkwind e os gritos terrosos e cintilantes de Gong, Fred Frith, Zorn, os lados mais elegantes de Can e Soft Machine, e o incrível e imensamente desvalorizado Here & Now (talvez, depois de Hawkwind, o melhor exemplo de punk e jamband se casando alegre e ruidosamente – por que mais pessoas não estão interessadas em Here & Now?). E embora eu sempre tenha tido, digamos, paciência limitada com esse tipo de música – honestamente, na maioria das vezes o Gong sempre foi melhor no papel do que no disco – eu admiro profundamente a ideia: liberte seus dedos e Sun Ra seguirá. O que é tudo para dizer que se Turner não necessariamente personificasse o que eu amo em Hawkwind – e eu amo a MÁQUINA, a agitação, carrilhão, cachoeira/máquina de vento, cravação de estacas, punk rock / krautrock / eletrioclash / trance / Deep Purple em Berlim às 4 da manhã / Sex Pistols em um loop K-Hole ao lado de Hawkwind, e isso está TUDO terrivelmente em exibição em WE ARE LOOKING IN ON YOU - Turner pintou o mesmeranimal Hawkwind com um tipo essencial de estranheza tribal britânica, e eles essencialmente abandonaram esse tipo de gong quando ele saiu. E se Turner não é o lado de Hawkwind que colocou uma britadeira no planetário e o atordoou, ele é o lado de Hawkwind que pintou seu rosto de verde e vestiu um manto com capuz e vagou por Stonehenge carregando um incensário soprando profanamente / rapé xamânico sagrado enquanto cantarola encantamentos através de uma palheta de saxofone. Entendi? Então respeite.

Agora, é verdade que o guitarrista/vocalista/chefe Hawk Dave Brock (o único membro consistente do Hawkwind desde 1969) culpou Turner pelo fato de Hawkwind não fazer uma turnê pela América há décadas (e não tem intenção de fazê-lo). Brock acredita que as diversas bandas de Turner dos últimos vinte/trinta anos, algumas das quais foram erroneamente rotuladas por promotores americanos como Hawkwind, poluíram o mercado americano de turnês para o autêntico Hawkwind (quando chega a hora, concordo com Brock, e isso quebra meu coração que provavelmente nunca veremos o poderoso Hawkwind deste lado do Atlântico). Mas quando vejo a estratégia de turnê americana de Turner dentro da estrutura de outras bandas jammy/squonky que fizeram turnê sob variações de um nome “pai” – Gong, Soft Machine, até mesmo Yes – suponho que admiro um pouco o desejo de Turner de divulgar e fazer barulho estranho, mesmo que fizesse xixi no pool genético maior de Hawkwind.

Então: um brinde à estranheza artística e aos sonhos tribais britânicos de Nik Turner! E viva o poderoso Hawkwind, que desafiou toda a lógica e precedente e lançou um álbum absolutamente essencial, convincente e emocionante, 53 anos depois de sua vida útil. Defina os phasers de sintetizador e guitarra em atordoamento e vá Om Mane Padme Drone!

Tim Sommer

Tim Sommer é músico, produtor musical, ex-representante da Atlantic Records A&R, WNYO DJ, correspondente da MTV News, VH1 VJ e membro fundador da banda Hugo Largo. Ele é o autor de Only Wanna Be with You: The Inside Story of Hootie & the Blowfish e escreveu para publicações como Trouser Press, the Observer e The Village Voice. Saiba mais em Tim Sommer Writing.

estamos 1

A HISTÓRIA POR TRÁS DA MÚSICA: A OBRA-PRIMA DO ROCK ESPACIAL DE HAWKWIND, 'SILVER MACHINE'

ARUN STARKEY - https://faroutmagazine.co.uk/

TERÇA, 29 DE NOVEMBRO DE 2022 09:00 GMT

A primeira vez que ouvi a peça 'Silver Machine' de Hawkwind, de 1972, com cerca de 11 anos, simplesmente não conseguia compreender o que estava ouvindo. Exceto o trabalho de Jimi Hendrix e Black Sabbath, eu pensei principalmente que os artistas de rock da época eram um tanto enfadonhos em comparação com as bandas que capturaram minha imaginação naquele estágio - Korn, Deftones e outros.

Foi em um programa da BBC Four que me deparei com a faixa, e dizer que estava enfeitiçado era um eufemismo. Embora o verso da música seja baseado em um arranjo típico de blues de 12 compassos, havia um groove notavelmente pesado na faixa que eu nunca tinha ouvido antes. Este som foi aumentado pelos vocais estrondosos de Lemmy Kilmister e o solo totalmente fascinante de Dave Brock. De muitas maneiras, esta foi a primeira faixa de rock espacial. Sem sua influência, você poderia dizer adeus a elementos de shoegaze, pós-rock e psicodelia posterior.

Este era o som de drogas que expandiam a mente. Embora eu não soubesse na época, seria o início de uma longa jornada para levar meu próprio cérebro e meu corpo ao limite. As ondas encharcadas de eco da guitarra de Brock emergiram intermitentemente de dentro para me lembrar o quão à frente de seu tempo a banda e a faixa estavam. Mais tarde, aos 18 anos, recebi uma cópia da estreia homônima de Hawkwind em 1970 e fui alertado sobre como eles são negligenciados - mas isso é uma história para outro dia.

Embora existam elementos da música que não envelheceram bem, quando você pega 'Silver Machine' no contexto de 1972, é difícil negar o quão impressionante deve ter sido ao ouvi-la pela primeira vez. Foi um sucesso tão grande que a música alcançou o terceiro lugar nas paradas do Reino Unido e voltou às paradas quando foi relançada em 1976, 1978 e 1983. Há uma potência sobrenatural na faixa, com o argumento de que esta foi a última Viva a contracultura antes da chegada da nova época.

Além do mais, a música enganou a todos. Não era tão sério quanto pensávamos, e os ouvintes foram alvo de uma grande piada do vocalista Robert Calvert e do resto da banda. No entanto, foi interpretado literalmente e ajudou a reenergizar o rock.

A faixa foi gravada pela primeira vez ao vivo no show beneficente GREASY TRUCKERS no The Roundhouse, Londres, em 1972 e pode ser encontrada em outras compilações. Ainda assim, o disco em que é mais conhecido é o relançamento e a versão remasterizada de IN SEARCH OF SPACE. Os overdubs da gravação original foram aplicados e mixados no Morgan Studios, com Douglas Smith e Dave Robinson supervisionando os procedimentos. Brock mais tarde assumiu os créditos de produção sob o pseudônimo de Dr. Technical.

Lembrando-se do show beneficente do GREASY TRUCKERS, o baterista Simon King observou mais tarde como a música é uma dívida para o blues: “[The Greasy Truckers] era meu terceiro show e eu não sabia o que estava fazendo. Eu não tinha feito nenhum ensaio e pensei que ‘Silver Machine’ era uma música de Chuck Berry – sério.”

Os créditos de composição do single são compartilhados entre Robert Calvert e Sylvia MacManus, nenhum dos dois na gravação que todos conhecemos. Sylvia era a então esposa de Brock, e ele estava usando o nome dela para pressionar os editores a melhorar seu negócio.

Quanto a Calvert, ele escreveu a letra e cantou a liderança na gravação original ao vivo. No entanto, o resto da banda sentiu que a performance era muito fraca para o lançamento do single, então eles regravaram em estúdio. Na época da dobragem, Calvert - que sofria de transtorno bipolar - havia sido seccionado e não estava disponível para cumprir suas funções. Permitindo Lemmy trabalhar como vocalista, em um momento significativo em si.

Lemmy disse mais tarde: “O vocal [de Calvert] era sem esperança, mas ele nunca percebeu isso. Isso mostra o quão louco ele estava. Parecia o capitão Kirk lendo ‘Blowing in the Wind’. Eles tentaram todo mundo cantando menos eu. Então, como último tiro, Douglas disse: 'Tente Lemmy'. E eu fiz isso em uma ou duas tomadas.”

Douglas Smith também lembrou: “Lemmy simplesmente tinha a melhor voz para isso. Claro, Bob não ficou satisfeito quando descobriu.

Embora possa não ter ficado inicialmente claro, a letra é na verdade uma paródia de viagens espaciais. As palavras foram diretamente inspiradas por um ensaio do escritor simbolista francês Alfred Jarry – HOW TO CONSTRUCT A TIME MACHINE. Calvert interpretou o trabalho como uma descrição de como construir uma bicicleta e então pegou sua leitura e a transformou em sua maior trilha. Ele explicou: “Li este ensaio de Alfred Jarry [sic] chamado 'Como construir uma máquina do tempo' e notei algo que acho que ninguém mais pensou porque nunca vi nenhuma crítica à peça para sugerir isso. Parece que percebi imediatamente que o que ele estava descrevendo era sua bicicleta”.

Acrescentando: “Ele tinha essa mentalidade. Ele era o tipo de cara que acharia uma boa piada escrever este artigo que soa muito informado, cheio de física realmente boa (e tem um pouco de física adequada), descrevendo como construir uma máquina do tempo, que é na verdade sobre como construir uma bicicleta, enterrada sob essa cortina de fumaça da física que parece autêntica. Jarry começou a fazer essa coisa chamada 'Patafísica' [sic], que é uma espécie de ciência da piada francesa.

O vocalista concluiu: “Muitos intelectuais franceses notáveis formaram uma academia em torno da ideia básica de inventar teorias para explicar as exceções às Leis do Universo, pessoas como o dramaturgo Ionesco. A Faculdade de Metafísica. Achei uma ótima ideia para uma música. Naquela época, havia muitas músicas sobre viagens espaciais, e era a época em que a NASA estava realmente fazendo isso”.

“Eles colocaram um homem na lua e planejavam colocar estacionamentos e barracas de hambúrguer e tudo lá em cima. Eu pensei que era hora de criar uma música que realmente enviasse tudo isso, que era 'Silver Machine'. 'Silver Machine' era apenas para dizer, eu tenho uma bicicleta prateada e ninguém a pegou. Eu não acho que eles iriam. Eu pensei que eles pensariam que estávamos cantando sobre algum tipo de máquina de viagem espacial cósmica. Na verdade, eu tinha uma bicicleta de corrida prateada quando era menino. Eu tenho um agora, na verdade.

“O único ser humano de quem Lemmy já teve medo (e considerando o quão duro Lemmy era ... isso é um elogio e uma declaração).
“Robert Calvert deveria ser classificado como 'O Che Guevara de escrever letras e liderar uma banda'.”
(NEIL DAVIDSON)

estamos 2

 

Articles View Hits
11392872

We have 1036 guests and no members online

Download Full Premium themes - Chech Here

София Дървен материал цени

Online bookmaker Romenia bet365.ro