Punk psicodélico

Punk psicodélico
(Mário Pacheco)

A diversão e a simplicidade dos sintomas da febre do punk rock, impregnaram o psicodelismo em 1968.

O desprezo pelos grandes ídolos britânicos não existia entre o pessoal das chamadas bandas punky psychedelic que invadiram a América (principalmente) entre 1965 e 1968. Pelo contrário, os garotos eram entusiasmadíssimos pelos grupos de sucesso da época, tudo fazendo para imitar os Animals, The Who, o Pink Floyd, os Yardbirds e os Stones. Eram fenômenos típicos da explosão do rock, gravavam geralmente um disco e sumiam.

Os punks dos anos 60 eram todos alegres, bem vestidos e cabeludos, alimentando a cuca com ácido e entusiasmados com os grupos da moda, tentando refazer a qualquer custo o som da guitarra Gibson Les Paul de Jeff Beck e o órgão de Alan Price, cantando e  rebolando como Mick Jagger. Não primavam pela competência musical: tudo muito simples, passageiro e tal como os grupos dos anos 70, o negócio era fazer rock pelo rock, ninguém se preocupando se o resultado era bom ou ruim.

O negócio era tocar, formar seu próprio grupo e, se possível, gravar e ganhar algum dinheiro com isso por isso era bom ouvi-los.

Não era acidental que esses grupos fossem, em sua grande maioria, americanos, pois, afinal, os ingleses influenciavam bastante a garotada e os modelos mais puros era mesmo cantores com Jagger, Keith Relf e grupos como o Who que representava o sonho de quatro garotos tocando junto e conquistando o mundo. E como não poderia deixar de ser, eram todos devidamente estereotipados e rapidamente embalados para o consumo e a planejada inutilidade posterior. Glória efêmera e lixeira, tudo muito american way of life.

Dos grupos punk, anos 60, os que ficaram mais famosos foram os associados ao psicodelismo - cuja conduta das bandas de San Francisco em princípio se recusavam a negociar com as gravadoras, este não era o caso de alguns outros grupos inferiores, à procura de uma chance, lançados para faturar a moda underground e psicodélica. Count Five, Blue Magoos e Electric Prunes (Ameixas Elétricas) foram os mais interessantes e sucedidos do punk psicodélico.

Os Blue Magoos, de Nova York, chegaram a ficar em quinto lugar entre as 50 mais na parada nacional em 1966, com a crua e enérgica (We ain’t got) Nothin’ yet escrita por eles. Na contracapa de seu primeiro álbum - "Psychodelic Lollipop" - uma obra-prima da pretensão: “Este é o debut da banda mais excitante dos últimos cinco anos (era 1967, pobres Jimi Hendrix e Syd Barrett...) os fundadores de uma nova música” etc e tal. Não eram.

Como grupo, o seu som era uma tremenda miscelânea: órgão à Alan Price, dos Animals; o clima musical remetendo ao Pink Floyd e uma vontade tremenda de repetir o virtuosismo de Jeff Beck. Pretensioso e confuso, mas interessante e gostoso de ouvir. Em fevereiro de 1967, The Spectres, pré-Status Quo, gravariam uma versão madura de (We Ain’t Got) Nothin’ yet que não teve a mesma sorte do original americano - talvez por no hit-parade inglês constar o supercompacto Penny Lane na face “A” e Strawberry fields forever no “B” o cântico liturgico da psicodélia, o primeiro avulso de Lennon & McCartney desde Love me do / P.S. I love you a não atingir o primeiro lugar.

O pessoal do Count Five de San Jose, Califórnia, confessava abertamente que passara um ano e meio ouvindo discos dos Yardbirds e do Who. Resultado: um hit maciço em 1967, Psycotic reaction, uma cópia barulhenta de I´m a man um compacto dos Yardbirds que fracassara quanto ao hit-parade, e cinco álbuns sem sucesso enquanto a crítica eternamente os comparava aos Yardbirds...

Típicos exemplos de fãs esforçando-se em imitar os ídolos - o apogeu dessas bandas aconteceu quando muitas abriram shows de seus ídolos na América - e apesar de extintas e incompreendidas essas punky bands lançaram as sementes do culto que trinta anos depois reforçaria o argumento desse livro...

Mas a vulgaridade não era o caso dos Electric Prunes, um grupo punk por azar: de seu som elaborado, conseguiram um efeito com câmaras de eco, pedas e um reverb original, marco na evolução das técnicas de estúdio da época (o compacto I Had Too Much To Dream Last Night – cuja ambiguidade do título é intraduzível aludia a um excesso de “sonhos auto-induzidos” foi lançado no Brasil, em 1967 e  uma outra faixa Kyrie Eleison na trilha-sonora do filme Easy Rider). Sua obra maior foi a Missa em Fá Menor, gravada em novembro de 1967, que antecedeu obras como "Jesus Christ Superstar" e "Tommy", do Who, podendo ser considerada como obra pioneira do gênero das óperas-rock ao lado de "Ogdens’ Nut Gone" dos Small Faces e "S. F. Sorrow" dos Pretty Things.

A canção Mess in F Minor (Cordeiro de Deus, dai-nos a paz), é realmente uma missa, cantada em latim e tocada com guitarras e toda a parafernália eletrônica. Se tivessem aprimorado o estilo, entrariam para a história do rock, mas pelo lado da glória. Calaram-se, após quatro álbuns, dois anos de atividades e, às vezes, trocas completas de formação.

O restante dos grupos eram geralmente, bandas de sucesso regional, sem importância imediata como Question Mark and The Mysterians uma banda texana que no seu primeiro disco 96 Tears trazia uma sonoridade de garagem, Seeds, Shadows of Knight, Barbarians, Standells, todas elas levadas pelo desejo de tirar um som a qualquer custo. De comum com os punks dos anos 70 ficou o espírito do rock, como diversão e simplicidade.

Outra coisa que certamente não aconteceu foi a influência dos  punkers originais em gente como Lou Reed, Stooges e MC5, muito além da simples diversão, essas incorporavam a rebelião, marginalidade e o niilismo, componentes dos grupos punks  dos anos 70.

Se inicialmente o punky psychedelic foi considerado um subproduto pelos críticos de rock, pelo menos, atingiu tranquilamente o objetivo da diversão imediata. Hoje graças ao formato digital boa parte dessas “porcarias” podem ser encontradas, quer melhor diversão?

 

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