FORBA: Crônicas e Suas Trincheiras
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A Arte Continua: Crônicas do FORBA
🎸 Uma Estação de Conexão Sonora
O Teatro Sesc Silvio Barbato se transformou numa verdadeira estação de conexão sonora, reunindo bandas da Sudoeste/Octogonal, Cruzeiro e Taguatinga. Os mais descolados promoviam um verdadeiro intercâmbio musical, apresentando suas bandas uns aos outros – era quase um desfile de estojos de guitarra cruzando os bastidores.
⚡ Turno Noturno: Juventude em Alta Voltagem
Logo no começo da tarde, a jovem e barulhenta Turno Noturno tomou o palco com duas guitarras, baixo e bateria, espalhando sua mensagem em altos decibéis. A adrenalina juvenil era palpável: se pudessem, tocariam sobre pranchas de skate, com o lema “skate or die” estampado na alma.
O vocalista Ricardo foi elevando o tom, conclamando seus parceiros de banda aos microfones para gritos e explosões sonoras – uma verdadeira marcação de território. Deixaram a impressão honesta de uma banda em construção, vivendo o agora com intensidade. Depois do show, foram fazer o que melhor sabem: namorar, andar de skate e seguir pulsando em rock cru e sincero.
🖤 Os Candangos: Do Sonho ao Juízo Final
"Na moral": não passe muito tempo com eles, ou você corre o risco de virar um d’Os Candangos.
A banda vive um cotidiano sujo, errante e visceral – como se tivesse saído das páginas de uma biografia dos Rolling Stones. No centro, brilha a figura de Magu Cartabranca, vocalista e justiceiro de palco. Bem vestido, com o tradicional keffiyeh palestino, soltou a frase que atravessou o teatro:
“Criancinhas mortas, não.”
No palco, o entrosamento era evidente. Magu lançava poesia, olhar e presença, enquanto Rodrigo mostrava que uma guitarra só pode falar mais do que duas – timbre, pegada e domínio absoluto. Ao fundo, projeções da própria banda: fragmentos de vidas e memórias. Foi um grito à nova geração: o rock ainda pode ser um modo de vida.
Ao final, Os Candangos partiram rumo ao Cruzeiro, com mais planos, mais encontros – como quem ainda acredita no impossível destino de uma banda das antigas.
🔥 Dimi Souza: A Chama do BRock
Veterano da cena de Taguatinga, Dimi Souza carrega em si a missão de manter viva a chama do BRock dos anos 80. No palco do FORBA, ele defendeu essa causa com firmeza, guiando o público por um repertório potente:
“Ícaro”, “Salmo 21”, “Equilíbrio”, “Instinto”, “Armadilhas” e o hino pessoal “O Amor Vence a Tudo”.
Sua voz não busca imitar Renato Russo, mas lembra a energia de bandas como Uns e Outros. Os dedilhados remetem a Johnny Marr e ao The Smiths, e sua banda é sólida como pedra:
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Crizanto Reis (guitarra solo)
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Bob (guitarra-base)
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Helmar (bateria)
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Betão (baixo)
Todos músicos experientes e educadores da nova geração. O espírito do BRock ainda vive – e Dimi é um de seus arautos.
🚀 Sonda Mãe: Rock Interestelar
A apresentação da Sonda Mãe foi uma verdadeira viagem cósmica. Capitaneada por Claudinei (ex-Boca Preta), a banda combinou psicodelia, peso e irmandade com os vocais de Lino Neto.
Ao lado de Adelson, nas guitarras, Claudinei criou uma muralha sonora – riffs descolados, criativos e livres. A cozinha da banda (Ilton no contrabaixo e Sérgio na bateria) mostrou entrosamento de veteranos, com solos próprios e momentos de destaque. A nave pousou no FORBA com força e distorção, provando que o rock extraterrestre de Taguatinga está mais vivo do que nunca.
🎨 Os Dammes: Romance, Arte e Protesto
Sérgio Dame, no contrabaixo e vocais, e Salma, sua companheira e parceira de palco, deram ao FORBA um dos momentos mais marcantes. Evocando os festivais de MPB dos anos 80, os Dammes misturaram baião, rock autoral, artes plásticas e letras de protesto.
A banda – com uma guitarra de identidade visual única, bateria criativa e percussão pulsante – construiu uma narrativa musical viva, costurada com projeções assinadas pelo próprio Sérgio, também artista plástico. O show foi um ateliê de som, cor e sentimento.
Uma das apresentações mais bonitas da noite – e mais ousadas.
✊ A Resistência de Sempre
O que está acontecendo? É simples: o FORBA, suas bandas e seu público travam uma batalha diária para manter vivos os espaços de arte. Lutam contra jogos de futebol, streams de bandas consagradas, ausências de público.
Mas, se faltam ouvidos atentos, sobram decibéis, coragem e entrega visceral. Afinal, o que seria de nós, artistas, se estivéssemos sempre cercados por gente igual? A arte precisa do risco. Precisa da diferença. Precisa de resistência.
Ontem foi o dia da arte.
Hoje é o dia do metal doom barulhento.
E amanhã... a arte continua.