UVA: Um Domingo que Valeu por Mais de Quatro Décadas (1978-2025)
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Amizade desde 1978 — Ely, Joel, Zé Otávio e Mário — 27 de Abril de 2025.
Ao olhar para a foto de ontem, ainda apegados às camisetas, vejo Ely Mendes vestindo a camiseta dos Sex Pistols e eu desfilando com a de Janis Joplin, aliás, a grande musa dos nossos dias na Uva. Não foi Joelzinho quem trouxe de Ribeirão Preto, entre 1979 e 1980, o primeiro LP dos Sex Pistols? Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols tornou-se um dos discos mais disputados dele naquela época.
Ruídos
And we're gonna groove, a-yeah, groove
And we're gonna groove, baby, babe, baby
We're gonna love, a-love, love, love
Until the break of day
E nós vamos curtir, a-sim, curtir
E nós vamos curtir, baby, baby, baby
Nós vamos amar, amar, amar, amar
Até o amanhecer
Love Me Two Times
Pedimos um minuto pela sua apreciação — este é mais um capítulo breve, iniciado numa manhã ensolarada, com predisposição a chuvas encantadoras.
A história começa na padaria da QE 19, onde dividíamos um café com Ely e Danny, velhos amigos dos bons tempos da QE 34. Ao nos despedirmos, Danny deixou um recado:
— "Dê um abraço no Joel e agradeça a ele por ter me apresentado ao Molly Hatchet e ao Marco Antônio Araújo!"
O curioso é que, ao transmitir a mensagem para Joel, ele foi ainda mais fundo:
— "...e Ram Jam também!" — acrescentou com um sorriso.
Eu sabia que eles tinham os pés — e os ouvidos — fincados no southern rock, fãs também de bandas como 38 Special. Essa seria a trilha sonora perfeita para aquele domingo especial.
Nascemos Para Ser Selvagens
Born To Be Wild
Dê partida ao seu motor
Get your motor running
Caia na estrada
Head out on the highway
Em busca de aventura
Looking for adventure
E de tudo o que aparecer em nosso caminho
And whatever comes our way
E mais uma vez, o badalar dos sinos tocou em nossas cabeças, e lá fomos nós, rumo ao Guará 1, para completar o trio que se uniria ao seu inspirador, Joelzinho, o mascote do time de futebol da várzea quando criança, e na adolescência, o mestre-cuca da UVA (Uva, um veículo cultural movido pelos nossos próprios passos e ações naquele tempo). O acróstico UVA variava entre "União dos Vagabundos Alcoólatras" até "Uma Visão do Amor". A verdade é que, de 1978 a 1982, éramos como crianças, mas já com um perfil que apontava para as aventuras de sexo, drogas e rock and roll. Hoje, no contexto do politicamente correto, provavelmente não seríamos aceitos como alcoólatras naquela idade, entre os 18 e os 20 anos, que significavam duas décadas de vivência.
O salto atemporal
Aquele movimento artístico-roqueiro incipiente, no coração da W3 Sul, no meio da década de 70, no Galpãozinho, contava com o apoio do governo e tinha expoentes de Salvador e São Paulo. As bandas eram, em sua maioria, compostas por músicos egressos da UnB, o que as distanciava da essência do underground. O verdadeiro underground só ganharia corpo no início dos anos 80, impactando nossa alvorada existencial. Estávamos no lugar certo, na idade certa, vendo muitas casas e tentativas culturais florescerem pela cidade, todas convergindo para o "Conic". No Bom Demais, não teria sido Cássia Eller quem tomou e bebeu o copo de vodka da mesa do Joelzinho? E eu, Joelzinho, não teríamos assistido Cida Moreira cantando com Renato Russo no show de lançamento do primeiro LP do Legião Urbana na Sala Funarte? Na fila da frente, não estava Isnaldo Lacerda, do Sebo do Disco, se esbaldando? A festa teria rolado depois do show e, mesmo com os convites em mãos, não teríamos ido porque não tínhamos carro? E no dia seguinte, os produtores culturais nos contavam sobre os excessos e os "pegas"? Não teria sido Ely quem me apresentou Antonio Augusto, então guitarrista do Malas & Bagagens? Naquele tempo, nossa índole só aceitava shows "0800"!
Adianta a Fita
Hoje, estamos focados na realização da nossa aposentadoria do serviço público. Antes de quebrar o braço ao cair da escada enquanto pintava uma parede, Joel também se dedicava ao trabalho com reciclagem e hortas comunitárias. Zé Otávio foi professor, e eu e Ely estamos na disputa para ver quem vai largar o cargo público primeiro – e, no meu caso, estou mais adiantado. Nossa reunião de hoje supera as de qualquer astro do rock, porque aqui não há disputas de ego. Na verdade, nunca brigamos ou tivemos qualquer tipo de discussão séria, o que é positivo, pois a maioria dos episódios foram tranquilos, e até as situações mais difíceis foram superadas. Tudo girava em torno da loja de camisetas Head Collection, no Conic, onde Joel, Geraldo e Fellipe CDC vendiam bottons, demos, moletons e roupas para as várias tribos do setor. Eles também patrocinavam shows underground.
Além do Rock, Cerveja, Política e Futebol
Este é o quadrilátero de assuntos que estavam riscadinhos sobre a mesa do bar de esquina no Incra 8. Para nos reunirmos, rodamos mais de 50 quilômetros. O papo inicial foi rápido, mas o melhor aconteceu quando fomos à casa da neta de Joel e Tânia para a peixada na brasa. Tudo simples: arroz com feijão e quiabo. O peixe era de água doce, o Tambaqui, que desconfio que tenha ido parar na grelha depois de ser pescado em um barco à margem da Barragem do Descoberto, sob a vigilância das chácaras. Isso porque a pesca na barragem é proibida para preservar a qualidade da água, e qualquer atividade pesqueira ou recreativa na área deve seguir as normas ambientais locais.
Coisas do Destino
Como o meu celular era o único com carga, foi o escolhido para se conectar ao Bluetooth. A música que rolou foi The Doors, essencial para a trilha de nossa geração, e também a música “When Love Comes to Town”, o encontro entre U2 e B. B. King. Joel queria ouvir Led Zeppelin IV, mas, enquanto isso, rolou John Lee Hooker e Creedence também. Durante o almoço, a trilha sonora foi de Marco Antônio Araújo, e parecia que estávamos reunidos com nossas famílias, como em um daqueles almoços de domingo.
Joel comentou que aquele domingo valeu por 10 anos e ficamos de repeti-lo com mais frequência. Depois, pegamos a estrada novamente para deixá-lo em sua casa na QNR. Já a caminho de casa, o telefone tocou e alguém no carro sugeriu que estacionássemos, achando que alguém poderia ter esquecido algo. Mas não era nada disso. O feliz Joel ligou para anunciar que o Flamengo tinha feito o quarto gol em cima do Corinthians no Maracanã. Não consegui evitar de rir.
"Então Jesus aproximou-se, tomou o pão e o deu a eles, fazendo o mesmo com o peixe."