13 DE ABRIL DE 2023

Das antigas, eu conheci o casal Gilberto e Mônica. Ainda não sabia que eram músicos e que eram integrantes da banda Sapiens, que migraram de São Paulo. Eles vendiam tecidos de seda oriental e lenços de cetim e eu pensei que eram rajneesh e que o guru deles era Osho.
Nossos caminhos voltaram a se cruzar quando ofereci uma permuta: vocês podem tocar e as outras bandas poderiam usar o seu amplificador Marshall? Depois da música, Gilberto foi trabalhar com mecânica de automóveis, um serviço pesado. Algumas pessoas o viam no supermercado. – Aquele seu amigo estava me estranhando, fazendo de conta que não me conhecia.
Por termos quase a mesma idade, mantínhamos uma comunicação fácil, evitando situações pavorosas. Podia encontrá-lo no bar Barbarella, no Conic, bebendo uma cerveja. Ele era preocupado com a sua carreira musical.
Teve uma noite em que pudemos escapar da camisa de força das músicas autorais e voltar aos dias do rock’n’roll tocando clássicos. A noite foi cintilante, com Mônica na flauta, Mandalla na voz e na bateria, nas guitarras Robson e Gilberto e, como uma coluna de sustentação, Thomé segurava o contrabaixo. Naquela noite, Gilberto solou despreocupadamente, se soltou ostentando uma cara de felicidade de menino. Assim como muitas coisas que fizemos, poucos curtiram a intensidade daquela noite memorável.