Gal Costa: a estrela que se apaga (2022)

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Não temos tempo de temer a morte !!!

 Gal Costa: a estrela que se apaga

por Prof. Aroldo José Marinho

Gal Costa cumpriu seu destino: inspirar e brilhar. Ser uma referência necessária num momento histórico especial. Tinha algo de bossa nova, mas fez crescer sua energia roqueira e segurou o rojão quando os gorilas do AI-5 mandaram os líderes baianos para Londres. Ela sempre foi inspirada e insultadora, andou a descobrir talentos. Não quis ser nada e ser tornou uma artista completa. Ela combateu o bom combate aos nos dar belas canções. Para o descanso, lá onde estão os artistas talentosos e originais. A coroa dos justos ficou para nós que tivemos a honra de ouvir canto abençoado e humano.

ZEROTropicalismo: o que era movimento que tinha Gal Costa durante ditadura

por Diego Albuquerque/Colaboração para Splash

11/11/2022 04h00

Uma das maiores vozes da MPB, Gal Costa morreu na manhã de quarta-feira (9), aos 77 anos. Desde seu surgimento no meio artístico nacional, a cantora foi uma das grandes representantes brasileiras, não só quando o assunto é música, mas também quando é política, afinal, ficou conhecida como um importante nome do movimento chamado de Tropicalismo, surgido no fim dos anos 60.

Alguns dos maiores clássicos do movimento foram lançados por ela, como "Baby" e "Divino, Maravilhoso". Com o exílio de Caetano e Gil, forçados pela ditadura a deixar o Brasil, Gal liderou a resistência artística do grupo no Brasil. Um dos grandes destaques dessa fase foi o hit "London, London".

Também conhecido como Tropicália, o movimento foi um grande marco cultural brasileiro e teve seu auge nos anos de 1968 e 1969 por marcar profundamente diversas formas de expressão artística, como a música, o cinema, o teatro, a poesia e as artes plásticas.

O surgimento do Tropicalismo no país foi um reflexo de movimentos similares ao redor do mundo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o auge da Guerra Fria, diversas ideias relacionadas à modernidade e à sociedade de consumo passaram a ser questionadas, incluindo críticas aos movimentos armamentistas, muito pelos conflitos armados que marcaram a primeira metade do século 20.

Nesse contexto, surgiram diversos movimentos políticos e artísticos em todo o planeta, como o maio de 68, na França, ou a Primavera de Praga, na Tchecoslováquia. Além dos movimentos de independência dos países africanos. Foi então que surgiu a Tropicália, no Brasil.

Além dessa influência vinda de fora, o contexto histórico do Brasil também deve ser levado em consideração para o surgimento do Tropicalismo. Em 1964, houve um golpe militar no país que, no final da década, endureceu ainda mais a tentativa de controle sobre o que podia ou não ser dito e publicado em território nacional.

As perseguições políticas e censuras promovidas pela ditadura militar na época não afastaram o movimento Tropicalista dos debates políticos. Os artistas que pertenciam a esse movimento concentraram suas obras no foco da leitura crítica sobre a realidade brasileira da época e às críticas ao governo ditatorial no país.

Principais nomes do movimento

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinam, Tom Zé, Nara Leão, Gal Costa, Os Mutantes e Rogério Duprat foram os principais nomes do Tropicalismo na música. Em junho de 1968, eles lançam o álbum Tropicália ou Panis et Circencis, um manifesto musical do movimento. A obra ficou conhecida por ter referências entre a música popular brasileira, o rock'n'roll, o concretismo e a cultura pop.

Um dos eventos mais marcantes do período foi o III Festival de Música Popular da TV Record de 1967, no qual foram apresentadas "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, "Domingo no Parque", de Gilberto Gil, e "Roda Viva", de Chico Buarque, canções de grande importância para a MPB, recheadas de críticas ao governo da época.

Já nas artes plásticas, Hélio Oiticica foi um nome importante, com obras como "Seja Herói, Seja Marginal" e "Tropicália". Na literatura, Augusto de Campos, com "O Balanço da Bossa", foi um dos destaques. No teatro, a peça "O rei da vela", de José Celso, além de toda sua influência no Grupo Oficina. No cinema, o Tropicalismo também exerceu fortes influências, sobretudo, no Cinema Marginal, com diretores com Rogério Sgarzela e Andrea Tonacci.

Aumento da repressão

Apesar do impacto cultural que o movimento obteve, o aumento da repressão da ditadura militar, com a implementação Ato Institucional nº 5, em 1968, intensificou as perseguições políticas e acirrou o clima de tensão no país.

Em 22 de dezembro de 1969, Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos e, posteriormente, exilados, após se apresentarem em uma boate do Rio de Janeiro ao lado de Os Mutantes. O exílio desses dois representantes do movimento acabou esfriando o cenário musical da época, porém, alguns artistas como Gal Costa permaneceram no país representando o movimento até o afrouxamento da repressão.

LEONARDO RODRIGUES
OPINIÃO
O dia em que Gal Costa desbundou e lançou o melhor disco de rock brasileiro
Leonardo Rodrigues
Colunista do UOL
09/11/2022 13h46

Para quem nasceu nos anos 1980 como este colunista, e conheceu Gal Costa, que morreu hoje, por trilha de novela e sua versão de "Lanterna dos Afogados", o epíteto "uma das maiores vozes brasileiras" nunca fez cócegas.

Pudera: minha imagem construída era de uma cantora popular e afinadíssima, porém careta, domada pela indústria e que refletia uma música popular brasileira envelhecida e em franca decadência. E evidentemente eu não poderia estar mais equivocado.

Só percebi esse erro de avaliação há pouco mais de dez anos —antes tarde do que nunca—, quando ouvi, pela primeira vez e com a devida atenção, Fa-Tal - Gal a Todo Vapor (1971), primeiro álbum ao vivo não de uma uma das maiores vozes brasileiras. Mas da maior.

Gravado de forma charmosamente precária no teatro carioca Tereza Raquel, uma série de concertos dirigidos pelo poeta e compositor Waly Salomão, o LP coleciona verbetes. É o segundo disco duplo da história da MPB. Foi eleito pela revista Rolling Stone o 20º melhor disco nacional. Recentemente, foi redescoberto e reapresentou Gal à nova geração.

Mas nada disso se compara ao fato de ser o trabalho em que a artista se revelou na carne: uma intérprete anárquica, intensa e musicalmente eclética, fórmula que regeria uma nova e breve fase da carreira. A da Gal radical.

Acho que aquele psicodelismo que havia antes, nos anos 60, com Jimi Hendrix e Janis Joplin, aquilo que havia quando eu fiquei aqui no Brasil, enquanto Caetano e Gil estavam exilados, era um 'radicalismo', digamos assim. Gravei alguns discos em que eu usava o grito como expressão de canto. Não que eu ache que isso seja regra. A música pode ser assim ou não.me disse Gal em entrevista em 2015

Em termos sonros, Fa-Tal é um salto tremendo em relação aos já excepcionais e intensamente tropicalistas Gal Costa (1968) e Gal (1969). E é fascinante perceber como Gal se expôs dúbia. De uma verve estridente e roqueira. De uma bossa suave de beleza estonteante. Um acinte em termos de presença de palco (o show foi registrado em filme por Leon Hirszman) e interpretação para uma jovem de apenas 26 anos.

Com Fa-Tal - Gal a Todo Vapor e seu repertório calcado no folclore baiano, Ismael Silva, Caetano, Jorge Ben, Luiz Melodia, Roberto e Erasmo, Gal recebeu da imprensa a alcunha de "musa do desbunde". A partir daí virou capa de revista e viu sua popularidade decolar em tempos nebulosos de censura e — apesar ou por causa disso— de uma contracultura pujante.

Em miúdos, se você nunca deu uma chance a este marco da discografia brasileira, produzido por Roberto Menescal, faça um favor a si mesmo.

O álbum é dividido em duas partes. Na primeira, acústica e reverente, Gal surge quase tímida com violão em punhos e gigante em sua pequeneza. A segunda é totalmente diferente: intensa, beirando o ríspido, em que brilha não só uma voz navalhante, mas uma banda fantástica ancorada em Lanny Gordin, lenda da guitarra conhecida como "Jimi Hendrix brasileiro".

Esse trecho, em sua robustez, peso e energia transgressora, talvez seja o melhor disco da história do rock made in Brazil, que até ali nunca havia eclodido tão tropicalista e brasileiro.

Não quer perder tempo? Eis um guia expresso de audição de Fa-Tal - Gal a Todo Vapor em três destaques:
"Como 2 e 2": Sozinha, Gal adiciona camadas doces e profundas à melodia inconfundível de Caetano Veloso, famosa com Roberto Carlos, e nos faz perguntar se seria possível alguém em qualquer tempo se aproximar deste nível de sentimento. Lindo.

"Dê um Rolê": A artista se apropria do verso "Eu sou amor da cabeça aos pés" —ela é—, da música de Moraes Moreira e Luiz Galvão, e obtém a proeza de melhorar uma canção dos Novos Baianos. Melodia crescente e um festival de riffs e distorção a cargo de Lanny Gordin.

"Vapor Barato": Começa com um lindo vocalize simulando um solo de guitarra wah-wah e termina com Gal indo a Marte em agudos rasgados que jamais quis repetir. É a versão definitiva da definitiva canção de Waly Salomão e Jards Macalé.

Citar apenas três faixas é raso e insuficiente diante da experiência intensa e sinestésica que é escutar "Fa-Tal", seja em mídia física ou streaming. Um disco obrigatório para quem nunca compreendeu Gal Costa e que me fez, sem medo, descer Elis Regina ao posto de segunda maior cantora brasileira. Mas sem dúvidas é um excelente começo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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