O DIA EM QUE CONHECEMOS RENATO RUSSO (1982)

 1985 20 anos sem Renato Russo... (1996-2016)

   por Mário Pazcheco

   Para os fãs não existem lugares intransponíveis e as oportunidades jamais serão desperdiçadas. Contudo, algumas vezes podemos nos arrepender mas não deixará de ser divertido.

   Em 1980-81, Renato Manfredini poderia ser visto durante a exibição dos filmes Help! Magical Mystery Tour e Alucinados do Som e da Guerra na Cultura Inglesa. Pois, somente lá poderíamos pagar para ver essas cópias desgastadas e originais de Help! e a cópia importada de Magical.

   Você encontraria Renato Manfredini na Rua das Farmácias na 102 Sul, na Livraria Presença. No Conic, comprando um disco de Arnaldo Baptista e não Sex Pistols! Na Ciclovia do Lago Norte, no Ceasa ou no Ministério da Agricultura.

   Como eu não saia à noite pelas bandas de lá só poderia encontrá-lo de dia.

   Eu conheci o contrabaixista, cantor, letrista e líder Renato Russo em outubro de 1982, no Show dos punks - o negócio era tão jurássico que muitos juravam que fora uma apresentação do Aborto Elétrico.

   Fui conhece-lo no Guará II, no início da noite, numa semana de outubro, pouco antes do primeiro show da Legião Urbana na Brasília de 1982. O encontro aconteceu num canto mal iluminado, num tête-à-tête improvisado e arrumado pelos amigos.

   Esse dia renasce em mim algumas vezes. Posso me lembrar da nossa proximidade – as feições do rosto de Renato Russo escondidas pela barba fechada daria um bom esboço (foi o que eu pensei naquele momento). Seu ar de estátua grega, no rosto másculo carregava a simetria para uma caricatura, seus olhos inteligentes eram rápidos como bolas de pinball saltando por cima das lentes, a cultivada barba negra dava-lhe uma cara bastante respeitosa. Ele se parecia com os jovens professores de cursinho. Nosso idioma e assunto era rock’n’roll, não o barulhento dos Sex Pistols e sim a psicodelia dos Beatles, a revolta de 1968.

   O fluxo da conversa foi cortado pelo flash de um corpo se movendo... Me imagino caindo em cima de Renato Russo, desatinadamente e animadamente conversando sobre a cena do rock Brasil, da cena dos fanzines. Livros de rock da Brasiliense e discos da Baratos Afins. Ele me disse que saia nos jornais todos os dias, e eu: - como? Se eu leio os jornais todos os dias e eu jamais li nada?

   Poderia começar um pequeno livro com a manhã cinzenta desse dia. Ao meio-dia pendurado no telefone, depois da aula, convidei os amigos para o show dos punks. Esse relato utópico é mentiroso (pois eu já estudava à noite e não de dia).
Por duas décadas, eu não saberia que esse dia viria a ser tão promocional. Para mim, este dia renasceu pela primeira vez em 1988 e com o passar dos anos sempre foi-se repetindo com novos matizes e horizontes. Não preciso consultar a minha caderneta estudantil para saber que as notas vermelhas me acossavam. Que era fim de bimestre e meu pesadelo estava vivo. Que eu tinha ido ao show como um último sopro de liberdade pois na sexta-feira seguinte, a sala de aula me esperava.
Sai dali impressionado, o carinha curtia Beatles para caramba e me falara dos discos experimentais deles. Fiquei sabendo que ele era ligado nos Beatles no ano de 68 e no casal Lennono.


1985: Célia, "uma menina me ensinou tudo" e eu em nossos macacões assistindo à Legião Urbana - foto encontrada no Facebook mas não marquei a página   

Quatro meses depois (fevereiro de 1983) voltamos a nos encontrar numa palestra do Maharishi Mahesh Yogi, vulgarmente chamado de "o guru dos Beatles". Sobreviveu a lembrança do Renato Russo falando: “dentro do disco vem um pedaço de bolo” - essa frase: “dentro do disco, um pedaço de bolo” ecoou dentro da minha cabeça até o dia em que encontrei o Álbum de Casamento de John e Yoko e finalmente entendi o seu recado, o tal pedaço de bolo era uma foto triangular colorida impressa que vinha dentro do álbum como um dos adereços. 

Funarte-1985. A banda agora era quarteto, o guitarrista tinha saído. Havia duas caras novas no palco e Renato Russo não mais tocava o contrabaixo. Eu fui no show da Legião Urbana no Verão Cultural de 1985. Eu estava na primeira fila histérico e empolgado e pedindo músicas e chamando Renato Russo de traidor do movimento.
A cabeça remodela a memória como quer - um clarão e a gente pode se lembrar de uma câmera em cima do palco acompanhando a dança incansável do crooner.
Esta fita sobreviveu e vai virar filme agora - será que captaram eu da plateia gritando como louco? Sei lá tenho medo.

Hoje eu fiz uma pesquisa no google e encontrei isso: http://noticias.uol.com.br/busca/?tag-id=72110&tag-texto=%20Giuliano%20Manfredini

Parece que a história de Brasília e do site Do Próprio Bol$o de alguma maneira estão entrelaçados à história da Legião Urbana que me abriu caminhos e fronteiras. Por isso, resolvemos disponibilizar na grade as matérias com a Legião Urbana como tema.

Foram 30 anos do show de lançamento do primeiro disco da Legião Urbana e ano que vem 20 anos sem Renato Manfredini.
A Reuters TV está planejando um especial sobre o ídolo e nos procurou pra arrecadar materiais inéditos e pessoas que pudessem colaborar.

Do show ia me esquecendo
Sobre o show, e a sua postura jamais vi alguém próximo comentando. Não sei quais os motivos levam as pessoas a se silenciarem quanto a isso. Me lembro do contrabaixo vermelho. Dos pulos e das palavras de luta e do coro "Guará, Guará!". Renato Russo tocou como se estivesse possuído, para ele o show ocorreu. O amplfiicador do guitarrista engasgava e interrompia, para ele a noite foi péssima, mas Renato Russo agiu como se não tivesse outra chance.
Desconheço como o público invadiu o mezanino, o meu vizinho Marcelo "Radioativo" com o microfone numa das mãos, agitava a galera. Foi o show mais punk que eu testemunhei. Diferente dos outros shows de rock, naquele show, o público participava, era contagiante e empolgante. Não achei amador, achei naturalmente explosivo. Assim seriam as apresentações da Legião Urbana, do Capital Inicial e Plebe Rude. Naquela noite também tocaram os Metralhas, um deles vive hoje na Itália. Não seguiram em frente.

O Show dos punks foi um divisor, foi quando os Magrellos do Guará I conheceram a Turma da UVA do Guará II e passaram a agitar juntos.
A entourage dos punks era atraente, eles compartilhavam a fama e a amizade. Eu só curtia a curiosidade. Trinta anos depois, uma menina ainda me ameaçava: "apronto um escarceu se você não tirar o meu nome do texto". Tatiana (Tati) uma das produtoras deste evento apareceu na minha casa porém jamais achamos necessário relembrar como foi a ralação para produzir o show e descolar a aparelhagem. As meninas chegaram com a aparelhagem da banda em cima do caminhão com longa carroceria de madeira. Ledo engano, o pai do Renato, o Sr. Manfredini chegou dirigindo uma kombi. Todos passaram pelo portão de acesso que permanece no mesmo lugar. No portão dos fundos do Estádio do Cave é que deveria estar a placa de homenagem com os dizeres "A Legião Urbana surgiu aqui". Adoraria ser chamado para o cerimonial.

 

manuscrito

 

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