FFLANGER: o zine holandês que transforma o som local em arte gráfica

Em tempos em que a cena independente sobrevive em espaços digitais dispersos, ainda existem publicações que mantêm viva a tradição do zine impresso como manifesto cultural. Um bom exemplo vem da Holanda: o FFLanger, local music magazine que circula de forma artesanal, conectando a música underground às artes visuais.

Na capa, a arte gráfica aposta na simbologia do efeito sonoro. O desenho lembra um pedal de guitarra, com seus knobs de regulagem e o foot switch característico, transformado em uma espécie de entidade cósmica que ocupa o centro de uma paisagem montanhosa. A escolha não poderia ser mais coerente: afinal, o próprio nome da publicação faz referência ao flanger, efeito clássico usado em guitarras, baixos e até vocais, capaz de torcer o som e criar atmosferas psicodélicas.

A edição de julho-agosto de 2025 traz na contracapa uma figura curiosa: um personagem de aparência meio humana, meio animal, com cabeça de elefante e fones de ouvido, que segura um cartaz com o logo da revista e um código do Spotify. O detalhe não é gratuito — basta escanear para acessar uma playlist de bandas locais, criando um elo entre o papel e o digital, entre a velha escola do zine e o presente das plataformas.

O resultado é um objeto cultural que funciona em duas camadas. De um lado, a dimensão estética, que resgata a tradição do desenho underground e da capa de disco psicodélica, transformando cada número em um artefato colecionável. De outro, a função prática, divulgando a cena independente com playlists e informações locais.

O FFLanger mostra que a cena alternativa europeia ainda aposta no impresso como gesto de resistência cultural — e que a música local pode ganhar força quando se alia à arte gráfica e ao espírito faça você mesmo.