Manifesto do Fluxo Infinito da Marginália (2025)
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Sou fruto do fluxo infinito da marginalia.
O que seria isso? Talvez o grito surdo da Beat Generation traduzida para o português.
Foi Brian Eno, produtor e integrante do Roxy Music, quem disse:
"O primeiro álbum do Velvet Underground vendeu apenas 10 mil cópias, mas todo mundo que comprou uma dessas cópias formou uma banda."
Não era preciso saber quem era o Velvet Underground — a frase em si já rugia.
Rugia com um despropósito iluminado, como se dissesse:
“Você pode se realizar por impulsos magnéticos vindos da face de um LP.”
Era um eixo. Um ímã. Um eletrochoque. Uma dádiva.
Noutra época, tentei Burroughs.
“Cidades da Noite Escarlate” foi o livro mais penoso que consegui terminar.
Antes, lia Jack Kerouac em português de Portugal —
Quando caiu em mãos brasileiras, tudo fez mais sentido.
Foi aí que comecei a sacar o trampo dos tradutores — tipo Leminski.
Pra espetáculo próprio, eu já compartilhava do jeito e da maneira deles.
Não era como aquele empresário que tirava o disco do plástico, julgava não precisar de outra opinião —
Esse nunca escutou Zaratustra, nem Raul Seixas.
Antes de ser escritor, fui aluno (óbvio).
Comecei a escrever fora dos fanzines como biógrafo,
onde o forte são as linhas temporais e as evidências.
Mergulhei na vida dos outros.
Assim, escrevi suas biografias e, de quebra, transformei a minha em ficção impressa.
O bom do trampo de ser escritor é que você se acha bacana.
Circula por círculos.
Conhece talentos verdadeiros como Gicello ou Zeferino.
Nunca tive inveja deles —
Tinha meu próprio estilo.
Mas vi com os olhos que eles ajudaram muita gente na capital.
Não quero saber de livro laureado.
Tô atrás dos manuais sujos da vida,
aqueles que falam com gírias, com drogas, com sexo, com liberdade —
com tudo que antes era escondido ou censurado.
Com disparates, a vida é melhor.
Conheço muitos por nome — e esqueço todos.
Entre eles: Bukowski, Camus e Caio...
(Caio Prado não, Caio Fernando Abreu.)
No carretel de entrevistas conduzidas por Gustavo Dourado Armagedon,
diss(e)eram que na próxima temporada serei entrevistado.
Desde já afirmo: darei só uma sílaba,
ou frases prontas sobre a poesia lírica, libertária e pan-africana
do poeta-morto Pezão do P. Norte.
Quero me desfigurar no melhor dos ácidos,
ver a verve escorrer da minha boca
num ato tresloucado e digno,
como um Hunter S. Thompson em chamas.
Queria conversar com as formigas
sobre essas trilhas doces que nos conduzem
a lugar nenhum —
mas cheias de sentido.
Mini-biografia literária
Livros publicados:
-
1991 – Balada do Louco (biografia de Arnaldo Baptista)
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1995 – Aventura Sem Dublê (ficção)
-
2003 – Blog do Próprio Bolso
-
2014 – 10.000 Dias de Rock
-
2018 – Coisa de Fã
-
2025 – Museu do Rock
Manifesto publicado por quem viveu e sobreviveu.
Escritor por necessidade. Testemunha por vocação.
Ficcionista por desespero. Cronista de uma capital alucinada.