Diga não à destruição de obras de arte

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Blog da jornalista Rachel Martins. Aqui, todo mundo viaja junto. E não precisa de passaporte nem visto. Se você é um bom viajante vai se divertir, se ainda não é, pode se transformar em um.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Diga não à destruição de obras de arte

 
por Rachel Martins

O maestro Tom Jobim dizia: “Longa é a arte, tão breve a vida [...]”. É exatamente assim para um artista plástico quando cria uma obra. Ele pensa na posteridade da mesma (mesmo sabendo que ele não é eterno). E não fosse isso, certamente, hoje, não saberíamos muito da história do mundo.

O que quero dizer é que se o mundo fosse feito só de "Eike(s)" certamente, hoje, não conheceríamos nosso passado e muito menos poderíamos apreciar as obras - algumas milenares - espalhadas pelo planeta.

Muitos devem estar pensando - que pretensão desta jornalista querer comparar o artista plástico João Martins com os grandes mestres da pintura. Afinal João Martins não é Leonardo da Vinci.

E para responder tal questão uso a frase de um trabalho escrito pelo advogado autoralista
Rodrigo Moraes (mudando apenas o nome do artista plástico): "Ora, a arte de Leonardo Da Vinci não é mais digna que a do mestre João Martins. Cada artista expressa a sua verdade, a sua beleza, originalidade e missão dentro de um determinado contexto histórico. Arte é arte. Afirmar que Leonardo Da Vinci é mais digno que João Martins o é tão absurdo quanto afirmar que os alemães são mais dignos que os judeus, ou que esses são mais dignos que os palestinos".

A história de Van Gogh, não fossem as pessoas de sensibilidade, poderia ter tido o mesmo destino - caso tivesse encontrado "Eikes" pelo caminho - dos painéis de azulejos pintados à mão por mestre João Martins, no Hotel Glória, em 1960. E se isso tivesse acontecido, não seria possível, por exemplo, hoje, apreciar as belíssimas obras do pintor espalhadas por vários museus do mundo.

Van Gogh vendeu uma única tela enquanto vivo, "A Vinha Encarnada." Resumindo, ele nunca viu o reconhecimento de sua obra em vida. Ainda bem, que ao invés de "Eikes", pessoas sensíveis encontraram sua arte e puderam eternizá-la e, hoje, elas podem ser vistas por milhares de pessoas do mundo todo.

Claro, meu pai não era Van Gogh. Era João Martins, e, ao contrário do primeiro, conseguiu viver da arte (enquanto viveu). Foi com ela que sustentou - e muito bem - a mulher e os cinco filhos. E foi reconhecido em vida. Infelizmente, muitas pessoas têm uma impressão errada dos artistas - acham que todos eles são seres de outro planeta.

Não são. Quando digo que meu pai vivia em outro mundo - falo da questão da sensibilidade, que torna os artistas pessoas únicas, principalmente no mundo de hoje. Sem dúvida, não é fácil viver da arte (e quem trabalha com ela, sabe disso). Meu pai perdeu tudo, sim, materialmente, mas em nenhum momento escolheu outra coisa para fazer, senão arte. A assinatura João Ninguém era apenas mais uma de suas inspirações e, talvez, como disse
Jace Theodoro, uma previsão do que poderia acontecer, um dia, às suas obras.

Por isso, dói saber que os painéis do Hotel Glória foram simplesmente destruídos (quando podiam, no mínimo, serem doados. Ou voltar para a família). Mas ao invés de ficar chorando (até porque eles não vão voltar mais), resolvi transformar essa dor em luta - não apenas minha, mas de todos os artistas - e os que amam arte - que sabem o que significa uma criação. Todos podem ajudar.

A campanha que faço na internet (através de e-mails, facebook, twitter) tem como único objetivo levantar esse descaso no Brasil com às artes (os vários "Eikes) - basta uma pesquisa para ver o número de obras de arte que já foram destruídas pelo país afora). Lastimável. Porque um país sem memória, é um país sem história.

Eu prefiro não acreditar que em nome do dinheiro, ou do poder do mesmo, vamos continuar passivos diante da destruição de obras de arte (às vezes de uma cidade inteira, pois muitas são verdadeiros museus a céu aberto). Quantas cidades estão destruindo seus patrimônios históricos? Derrubam casas centenárias para construir megaedifícos, com toda tecnologia de ponta, mas não se preocupam, um minuto sequer, com a possibilidade de transferir, de alguma maneira, esse patrimônio. E por um simples motivo, não querem gastar o mínimo do valor empregado na obra para salvá-lo. Não. Mandam simplesmente destruir aos olhos passivos do povo. Estes são os "Eikes" que patrocinam arte, para quem é de interesse ao seu império, mas por trás agem de outra maneira, como bem disse
Jace Theodoro.

Claro, há exceções, e muitas. Pessoas que sabem valorizar a arte. E mesmo com olhos no progresso conseguem enxergar a beleza do passado, unindo as duas coisas num belo ambiente. Por isso, a campanha
#AzulejosHotelGloria, no twitter (@RachelMartins) precisa da sua colaboração. Os painéis não vão voltar, já viraram entulho, como bem disse Jace Theodoro na belíssima crônica do jornal A GAZETA, mas pelo menos podemos tentar mudar o futuro, tentando emplacar uma lei que não permita a destruição de obras de arte antes, pelo menos, de avisar o artista - ou os herdeiros do mesmo, - ou ficar realmente constatado a inviabilidade da preservação.

Caso contrário, a Geração Y só vai conhecer a história da arte brasileira - e mundial - através de uma tela de computador. O que será lastimável. As artes antigas devem ser preservadas, mesmo que no futuro venham dar lugar às artes virtuais, tão belas quanto. O que pode - e deve - acontecer é a união das duas, dando lugar a um novo estilo, que ainda iremos conhecer. Se deixarmos, é claro.


"DIGA NÃO À DESTRUIÇÃO DAS OBRAS DE ARTE".

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