Israel pode revelar manuscritos inéditos de Franz Kafka

da BBC Brasil   



     14 jul. / 2008 - Documentos inéditos do escritor checo Franz Kafka, que ficaram trancados em um apartamento em Tel Aviv durante 40 anos, podem ser revelados por especialistas em Israel.

     O espólio do autor, que inclui manuscritos, cartões postais e rascunhos, foi mantido por Esther Hoffe, secretária de Max Brod, amigo de Kafka e para quem o escritor deixou seus pertences. Desde a morte de Brod, em 1968, Hoffe impediu o acesso público aos manuscritos inéditos de Kafka, que era judeu e escrevia em alemão.

     Os documentos só foram liberados e retirados do apartamento da ex-secretária por ocasião de sua morte recente, aos 101 anos. O material deixado pelo escritor será examinado por especialistas na cidade israelense, mas ainda não se sabe se os papéis continuam legíveis depois de tantos anos guardados.

     Segundo as autoridades locais, a umidade do apartamento de Hoffe e a quantidade enorme de gatos e cachorros que ela mantinha em sua residência podem ter danificado ou até mesmo destruído os papéis.

     Inéditos

     Antes de morrer de tuberculose, aos 41 anos, Franz Kafka ordenou que todos os seus manuscritos fossem queimados. Amigo e editor de Kafka, Brod não cumpriu com as ordens deixadas pelo escritor. As obras publicadas devem muito ao trabalho dele, já que Kafka finalizou poucos dos seus trabalhos literários.

     Antes da invasão dos nazistas à cidade de Praga, em 1939, Brod colocou os manuscritos em duas malas e fugiu para a Palestina.

     Depois de sua morte, os documentos ficaram com sua secretária, que não autorizou nenhum dos pedidos enviados por especialistas e até pelo Estado para análise dos manuscritos.

     Os resultados das análises dos documentos são aguardados com grande expectativa por acadêmicos e especialistas na obra do autor de clássicos como "A Metamorfose" e "O Processo".


Leilão de original é traição a Kafka
(Ézio Pires*)

 

     A vontade de Franz Kafka, manifestada em 1920, quatro anos antes de sua morte, ao seu amigo e editor Max Brod, de que destruísse todo o manuscrito de "O Processo", está definitivamente contrariada.      De Londres chega a notícia de que no próximo dia 17 a casa britânica Sotheby's colocará em leilão o manuscrito de 316 páginas, escritas com tinta preta em um velho livro de notas, contendo as correções, borrões e partes escritas em taquigrafia.
     E a vida continua, cada vez mais kafkiana nos seus lances do absurdo. Nem Kafka na criação de seu universo de homem solitário, pobre de grana, sensível e tuberculoso, ao escrever seus contos, suas novelas, romances e outras histórias de angústias, não poderia imaginar que seria tão traído na sua vontade póstuma. Não cumprindo a promessa ou o pacto de queimar ou destruir, por outros meios, o manuscrito de "O Processo", o editor alimentou apenas a certeza de ganhar dinheiro, sabendo que o morto não cobra. "Fique com estes escritos que devem ser destruídos logo após a minha morte", pediu Kafka a Brod.
     É uma história dramática em que a única certeza é a dúvida kafkiana: Max Brod, que deidiu conservar o manuscrito de "O Processo" e outros papéis de Kafka seria o quê? Um editor "amigo" ou "amigo" editor? Este editor conta sua história de perseguido, que abandonou a Tchecoslováquia para escapar dos nazistas. Foi em 1956 que fugiu de Israel, temendo uma guerra árabe-israelense. Depois em 1961 surgiu a notícia de que Max Brod, que ainda vivia carregando por toda a parte os papéis de Kafka, decidira fazer uma doação da maioria dos escritos à biblioteca de Oxford, menos o manuscrito que lhe pesava na consciência.
     Depois deste roteiro, o histórico manuscrito, com a morte do editor de Kafka, caiu nas mãos de um particular, cujo nome tem sido mantido em estranho segredo. Por quê? Quem se recusa a revelar o nome da pessoa com quem Brod teria deixado (será que deixou?) o manuscrito é exatamente a Casa Sotheby's. A informação que nos chega é a de que o manuscrito vai atingir o maior preço já consegido até hoje por uma obra de arte da criação literária.
     Em Londres, a imprensa já faz as suas previsões de que o tal manuscrito a ser leiloado devrá superar em valor (preço) um volume de poesia e prosa de M. B. Yeats, que fora adquirido há dois anos pela quantia de 250 mil libras (correspondente a Cz$ 180 milhões). Pela estimativas, os escritos de Kafka vão valer na bolsa de literatura de Londres uma grana superior a US$ 1,8 milhão (o que trocado em miúdos de cruzados brasileiros, seriam Cz$ 563 milhões).
     Não sei se ainda haveria tempo para uma reação de todos os escritores do mundo contra este negócio. O valor desta vontade traída na não destruição de "O Processo" é inestimável. Estes manuscritos deveriam ser arrancados daquela Casa londrina, por meios civilizados, para permanecerem em exposição pública permanente. Esta exposição poderia ser em Londres mesmo ou em outra parte qualquer do mundo, até quem sabe? — em Brasília num de seus diversos museus...
     Um dos tradutores dos livros de Kafka no Brasil, professor Modesto Carone, através da imprensa paulista anunciou o lançmento para os próximos dias, numa tradução diretamente do alemão, das obras completas de Franz Kafka em que evidentemente "O Processo". Carone não está contra o leilão, como foi feita aqui a sugestão, mas entende que antes deste tipo de negócio o documento "deveria ser submetido a uma edição crítica feita pela Universidade de Oxford, como já aconteceu em 1982 e 1983 com os dois outros romances de Kafka, "O Castelo" e "A América" já relançados no Brasil com o título de "O Desaparecido".

     * Correio Braziliense 9 nov. / 1988.

     


Homenagem
     
A cidade de Merano, no Alto Adige (Norte da Itália) confeccionou um inseto de metal cromado de oito metros para homenagear os 70 anos da morte de Franz Kafka (3 jul. / 1883 - 3 jun. / 1924). O escritor tcheco morou na cidade durante três meses.

     F. S. Paulo, 20 abr. / 1994.


Biblioteca de Kafka é reconstruída em Praga

da Ansa, em Praga

3 jan. / 2006 - A biblioteca de Franz Kafka será reconstruída fielmente em sua casa, na rua Siroka, na capital da República Tcheca.

O antiquário alemão Herbert Blank recompôs a coleção de livros e a vendeu à montadora de carros Porsche que, por sua vez, decidiu doá-la em maio de 2002 à Sociedade Kafka. Dessa forma, a Sociedade Kafk obteve a biblioteca como um presente, que foi levado da Alemanha para Praga.

Serão expostos 901 títulos, em edição idêntica àquela dos livros e jornais que Kafka leu durante sua vida, e cujos originais encontram-se preservados na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.