Paul McCartney: eu sou muito ligado nos anos 50
(Mário Pacheco*)

  
Paul & Carl Perkins


     

     Paul McCartney: carismático, exigente, belo de uma beleza um tanto infantil, uma super-estrela no sentido mais amplo da palavra, sempre foi o comunicador, por excelência, do grupo capaz de arrebatar os corações de qualquer platéia, de entender-se com a imprensa, de ir direto ao assunto.
     Co-autor de quase todo catálogo dos Beatles e também o mais ativo dos quatro, depois da separação, também a maioria das músicas de seu grupo Wings, criado em setembro de 1971, são de sua autoria.
     O compositor de maior sucesso de todos os tempos, o jovem condecorado pela rainha, o homem mais homenageado da música, o artista com número recorde de discos de ouro, um ex-beatle, e uma lenda viva, mas tudo isso não impede que Paul envelheça, no dia 18 deste mês ele completa 40 anos dos quais 24 são devotados à música.
     O fantástico Paul McCartney é geminiano com ascendentes Peixes e lua em leão. Isto indica uma personalidade moldável, adaptável, sensível, comunicativa e com um grande poder de expressão. Fora a musicalidade. Como gêmeos é a dualidade, em Paul esta característica aparece em sua vida musical. O sucesso da dupla Lennon & McCartney está aí para confirmar.
    Em seus estilos musicais além de músicas românticas como My Love, ou infantis, como Mary Had a little lamb, Paul teve duas músicas proibidas pela BBC: Hi, Hi Hi, considerada obscena e Give back to the Irish, por seu teor político. Diante de tal variedade de temas, Paul diz gostar de compor melodias antigas como When I’m sixty four, e se mostra satisfeito por não poder ser classificado musicalmente. Aos que ainda tentam inserí-lo na faixa do rock suave, ele responde não ter um estilo definido: “As minhas influências vêm de todos os lugares, sons que eu ouvi no rádio, que eu ouvia meu pai tocar no piano, sons que encontrei no rock – eu sou muito ligado nos anos 50 – e sons que os Beatles minha música é tudo isso”. Sua variedade de estilos inclui ainda músicas sob encomenda. Quando ainda integrava os Beatles, compôs a trilha sonora do filme “Family Way”, com uma canção nas paradas de sucesso, Love in open air. Mais tarde foi a vez de Live and let die, feita para um filme de James Bond. Um pouco depois aceitou fazer um jingle publicitário, e se defende da acusação de fazer música fácil por dinheiro: “Fazer uma música de 30 segundos parece ser muito simples, mas na verdade é dificílimo. Normalmente faço um verso que dura 30 segundos, mas eu tinha que por, além do verso, um coro e um final nos 30 segundos. É como tentar escrever um rock”. Além do mais, ele afirma gostar de escrever coisinhas frívolas, e que, embora nos tempos de beatle quisesse impressionar as pessoas com seu talento de músico, agora não está mais preocupado com essas coisas: “Não estou suando para tornar o Wings um grupo todo-poderoso, nem para me tornar a maior expressão da música pop. Quero fazer as coisas simples, com calma e sem pressões”.
     Paul McCartney é um assombro como músico popular igualmente um dos maiores, mais originais e expressivos do século. Não fosse ele a parte musical forte de algo tão forte como os Beatles. O que atrapalhou um pouco a mais profunda avaliação do talento de Paul foi à oposição que se fez talvez a níveis pessoais entre ele e John Lennon, durante um certo tempo. Mas o próprio John, que não era burro nem louco, sempre reconheceu mesmo nos momentos de maior fúria o extraordinário talento musical de Paul, concedendo-lhe o crédito total de algumas das mais belas e imortais canções dos Beatles. Claro, John sempre soube do talentaço de seu parceiro. Detestava-lhe, depois que evoluiu para os caminhos que trilharia até o final, uma suposta caretice existencial. A vida de Paul, o seu jeito de transar as coisas e as pessoas, isto tudo irritava John, inquieto, revolucionário, ousado sempre. Paul não, aquele grande músico, extraordinário escritor de canções que comoviam John, entre outros milhões. De certa forma Paul McCartney representa, a parte, digamos, “musical” dos Beatles (como se fosse possível departamentar o fenômeno assim...) o que há de melhor na música dita branca da segunda metade do século: o rock e as baladas, em que a origem inglesa se funde com as grandes bases da música negra, os bluesman, os gênios do rock’n’roll primitivo, tudo isso influenciou Paul tanto quanto os mais criadores de música de todas as cores e latitudes. Mas a música original que ele produziu é a síntese do que de melhor se fez nessa, em si só já sintética, música de rock do século XX, música popular da mais alta qualidade e de impressionante e crescente vitalidade. E Paul, sua cara, seu jeito de criar, são em si uma maneira de fazer música pop.

     Texto originalmente publicado no fanzine "Oldies but goldies", n.º2 - jun. / 1982