CIAO MANHATTAN: FILMAGEM DUROU 5 ANOS (2002)

Ciao Manhattan filmagem durou 5 anos
(Marcelo Bernardes*)

 

 

Ciao Manhattan nasceu como resposta à saturação do underground de Warhol

Nova York - "Ciao Manhattan", último filme da atriz Edie Sedgwick, nasceu de um processo de ruptura.  "Estávamos cansados das experiementações underground de Andy Warhol, filmes esses que muita gente acreditava nem existir, pois eles não eram exibidos fora da Factory. Como resposta a isso, decidimos criar um movimento chamado above ground-underground, com filmes rodados em 35mm", explica David Weisman, que teve como inspiração para seu primeiro trabalho como diretor o longa "Performance", de Nicolas Roeg.

Rodado em cinco anos e em duas etapas, "Ciao Manhattan" conta a história de Susan, alter ego de Edie, que vive numa tenda armada na piscina vazia da mansão de sua família na Califórnia e adornada por pôsteres, revistas e outros souvenirs do tempo em que havia conquistado o demi monde novaiorquino. Susam/Edie surge no filme andando de topless numa estrada à beira do Oceano Pacífico. Ela é resgatada por um surfista, para quem depois reconstitui sua história de sucesso.

A parte nova-iorquina de "Ciao Manhattan", na qual Edie interpreta Edie e é vista ao lado de Warhol, no set de suas produções underground, posando para revistas de moda e na noite da cidade, foi rodada em preto-e-branco, em 1967. Já o bloco californiano, em cores, foi retomado em 71.

Para Weisman, as filmagens foram uma verdadeira odisséia, com inúmeras interrupções provocadas pelas crises emocionais e internamentos de Edie. Mas não foi só a atriz quem deu dor de cabeça ao diretor. O ator Paul America faria uma cena na frente do ex-edifício da Pan Am, no centro de Nova York, dirigindo seu Austin Healey Sprite. Só que Paul não saiu do carro até chegar a uma cidade do interior do Michigan. Ao descobrir o paradeiro de seu ator 17 meses depois, Weisman voltou a usar Paul America no filme, mas filmando do lugar onde ele se encontrava naquele momento: uma penitenciária (ele foi preso ilegalmente por estar doidão).  "Toda vez que saíamos para filmar, a gente achava que terminaria a cena ou o filme, mas sempre surgia algum problema", conta o diretor.

No bloco californiano, Edie aparece constantemente com os seios de fora. "Não foi idéia minha, mas sim de Edie, que queria mostrar seu recente implante de silicone", diz Weisman. "Edie sempre foi magérrima e, mais tarde, quis quebrar essa imagem e ser a anti-Twiggy". Da cintura para baixo, Edie foi vestida pela designer Betsey Johnson.

Além de Edie e Paul America, "Ciao Manhattan" têm participações de Baby Jane Holzer, Brigid Berlin, Viva, Allen Ginsberg e Roger Vadim. A única atriz profissional da produção foi Isabel Jewell (que trabalhou em "...E o vento levou" e "Horizonte Perdido"), no papel da mãe de Edie.

Apesar de influentes, a família de Edie nunca se opôs ao filme. "Na verdade, o pai dela se deleitou porque a estávamos mantendo afastada da família e, assim, dos problemas que ela trazia a eles", relembra Weisman. "Quando o filme ficou pronto, o pai de Edie já havia morrido, mas a irmã mais velha da atriz, que hoje mora em Portugal, se emocionou e chorou muito ao assisti-lo".

Em julho de 1972, um mês depois do filme finalizado e na noite em que o hotel Watergate, em Washington, foi invadido, o que culminou na renúncia do presidente Nixon, "Ciao Manhattan" foi lançado em Amsterdã, onde fez grande sucesso e abriu uma prolífica carreira européia. Distribuidores americanos foram mais temerosos e passaram o filme adiante. Apenas dez anos depois, no calor do sucesso do lançamento da biografia de Edie, escrita por Jean Stein (filha do criador do estúdio de Hollywood MCA) e o celebrado escritor George Plimpton (autor também da biografia de Truman Capote), foi que "Ciao" chegou aos cinemas de seu país de origem, com grande sucesso de público. A crítica ficou dividida: uns acharam o filme incompreensível, outros o emblema de uma época.

Com o dinheiro arrecadado por "Ciao" nos Estados Unidos, Weisman pôde comprar, do escritor argentino Manuel Puig, "O beijo da mulher aranha", além de pagar a Leonard Schrader para escrever o roteiro do filme, que teve quatro indicações para o Oscar. Weisman, que espertamente manteve seu filme fora de circulação por um bom tempo, acredita que "Ciao" voltou a ser valorizado e ganhou nova leva de fãs depois que o Canal Sundance comprou os direitos de exibição para a TV em 98 (o canal de Robert Redford recentemente exibiu o filme).

Apesar do sucesso na Europa e nos Estados Unidos, "Ciao" é desconhecido do circuito sul-americano. A versão em DVD do filme vai reparar essa ausência. A única exibição de "Ciao" no Brasil, se é que pode ser chamada assim, foi num laboratório cinematográfico do centro do Rio, durante o carnaval de 69. Na época, de férias na cidade, Weisman mostrou parte de um corte bruto para alguns amigos, incluindo o príncipe Johannes von Thurn und Taxis.

Há cerca de dois meses, o cineasta Mike Nichols manifestou intenção de transformar a vida de Edie numa produção de Hollywood. "Mike deu a ideia de George Plimpton e eu escrevermos o roteiro", explica Weisman. E quem seria uma atriz ideal para viver Edie? "Natalie Portman", responde Weisman.

     *Originalmente publicado em O Estado de S. Paulo - 25 jul. / 2002.

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