ENTRE ELES ABBIE HOFFMAN (1989)

 

   Beatles, Timothy Leary, Allen Ginsberg, Peter Fonda, Jimi Hendrix, Pink Floyd, Janis Joplin, os Rolling Stones, os maiores nomes dos anos 60 e entre eles Abbie Hoffman

   por Mário Pazcheco


 

   Na TV Bandeirantes e TV Tupi vi Abbie Hoffman, corria o ano de 1979, e os dez anos da Nação Woodstock eram revisitados. Bem antes do jogador Vampeta, o líder da esquerda hippie americana dava cambalhotas ao sair dos tribunais. Seus desalinhados cabelos escuros emolduravam um sorriso largo e gentil. Rápido no raciocínio e nas tiradas sempre apoiava-se na máquina do sistema para vender a contra-revolução. Microfones e câmeras voltadas à sua pessoa. Então sua desobediência civil abalou a reeleição de Nixon - quando vivo Glauber indicou Fellini como ditador. As histórias de Abbie Hoffman são o cartão de visitas do sonho da contracultura, no auge de 1967 em Washington, apareceu na Casa Branca levando a passeata a abraçar o Pentágono e fazê-lo levitar, ao oferecer o chá lisérgico para o presidente foi preso. No ano seguinte, novamente preso por conspiração ao ultrapassar os territórios americanos e na Convenção de Chicago oferecer um plano de paz para o Vietnã. Sete acusados (Dave Dellinger, Jerry Rubin, Rennie Davis, Abbie Hoffman, John Froiners Lee Weiner e Tom Hayden) de: desobediência civil, depois de várias apelações o processo ruiu com a queda vertiginosa de Nixon.

   Os líderes contestadores do Youth International Party (YIP - Partido Internacional da Juventude) conhecido pela abreviatura Yippies da contracultura levados a sério pelo sistema por demais politizarem; tiveram um fim inglório: Jerry Rubin instalou-se na iniciativa privada fazendo propaganda de cartão de crédito e Abbie Hoffman, co-fundador do Partido Internacional da Juventude, morreu jovem demais em 12 abr. / 1989. Numa pesquisa na rede, encontrei este artigo que revela a condição da pessoa por dentro do sistema, uma experiência angustiante capaz de por fim à própria vida mas o que valeria a vida sem envolvimentos? Em algum lugar da memória ainda vive, um retrato meu jovem no “Jegue Elétrico” folheando “Woodstock Nation” de alguma maneira as idéias de Abbie Hoffman foram um manual fundamental para a sobrevivência de seus pares brasileiros nos anos de chumbo no coração do Brasil.

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Ousadia
O Guerreiro Errante Benny Avni entrevista Abbie Hoffman
: http://www.cjb.org.br/hod/comport/ouasdia.htm

O avô de Abbie Hoffman (1936-1989) chamava-se Shapoznikoff. Imigrante russo, entrou na América com documentos roubados de um alemão, o verdadeiro Hoffman, que ficou a ver navios. Inventor dos anos 60 e rebelde de todas as causas (da condenação à guerra do Vietnã ao "chauvinismo adulto"), Abbie foi definido por Norman Mailer como produto da "concepção imaculada" entre Fidel Castro e Groucho Marx. Fundador do partido Internacional da Juventude (Yippie), forjou a síntese do movimento hippie com o ativismo : tentou levitar o Pentágono meditando e ameaçou jogar LSD nos reservatórios de água de Nova Iorque. Teatro, riso e manifestação política. 

Processado e perseguido pela polícia desde os "Sete de Chicago"- grupo de jovens radicais acusados de conspirar contra a convenção do Partido Democrata, em 1968 - , Hoffman caiu na clandestinidade em 1974. Fez cirurgia plástica para escapar a uma condenação por posse de cocaína e assumiu o nome de Barry Freed. Tornou-se líder comunitário e militante ecológico. Entregou-se ao FBI em 1980, quando imaginou que o ódio nutrido pelo "sistema" contra ele já havia arrefecido. Foi preso, pela última vez, em 1987, por liderar um protesto contra a CIA.
Abbie foi encontrado morto, em seu apartamento, derrubado por uma overdose de barbitúricos (150 pílulas, segundo a autópsia). Maledicência: suicídio de um "delinqüente juvenil" em crise com seus cabelos grisalhos ( ou os cabelos grisalhos deste final de século). Ativista político nos anos 60 e profeta nos 80, Abbie Hoffman viveu, de forma singular, a experiência de um judeu a tecer, "ainda em nossos dias", a irrupção da Era Messiânica. (M.L.)
Abbie Hoffman , o ícone dos anos 60 que morreu recentemente de uma enorme overdose de pílulas para dormir, era, a seus próprios olhos, o último rebelde judeu. Conheci-o somente há três anos, quando estava fazendo um perfil dele para uma revista semanal de Tel Aviv. Uma das primeiras coisas que ele disse foi que o nome que ele e o co-fundador Jerry Rubin haviam dado ao seu famoso movimento, Yippies - o qual acreditava ser um acrônimo para Youth International Party ( Partido Jovem internacional) - na verdade vinha de Yiddisher Hippies.
O ambiente para nossa conversa era perfeito, tipo do lugar que somente um mago da mídia como Hoffman poderia ter imaginado. Eu disse que gostaria de entrevistá-lo acerca de suas raízes judaicas e então ele me levou para uma delicatessen de bairro em Nova Iorque, na rua 34, onde a amável garçonete perguntou com sotaque idish: "Quer que embrulhe o resto da salada para você, Abbie?" Ele fez questão, quase que cerimoniosamente, de me fazer pagar a conta. Eu era o Sistema.
A música que saía suavemente dos provectos alto- falantes era uma versão soft de Jealous Guy, de John Lennon, e Hoffman fechou os olhos e cantou um verso junto. "Vamos rezar", ele disse. então observou que Lennon , um velho amigo, era muito mais radical do que sua imagem pública indicava e que ele, Hoffman, sempre tentara ajudar a Lennon tornar-se mais político.
Tudo estava pronto para os dois temas principais da entrevista: judaísmo de delicatessen em Nova Iorque e o radicalismo dos anos 60. No entanto, estávamos no final dos anos 80. O sucesso de Lennon soava relaxado, tipo muzak ( música de fundo)). Até mesmo eu, que assisti à revolução americana dos anos 60 de longe, um adolescente de cabelos compridos, senti-me nostálgico e triste.
Devo observar, entretanto, que naquela época, quando o caminho aberto por Abbie era muito mais trilhado, "nostalgia" era palavrão. Isso era algo que os adultos de cabelo grisalho tinham e nós sabíamos, como disse Hoffman uma vez, que não se devia confiar em alguém com mais de 30 anos.
Falamos sobre seus pais. Quando seu pai morreu, Hoffman era um fugitivo. No funeral havia agentes do FBI pelo lugar, só esperando que o filho famoso aparecesse. Ele não foi porque estava na América Latina e só soube da morte do pai meses depois. Perguntei se ele achava que havia decepcionado seu pai.
"Ele tinha ambiguidade", disse Abbie. "Ele queria que eu fosse um homem de negócios bem sucedido. Era presidente de uma organização judaica. Claro que a notoriedade é um certo tipo de sucesso, mas ele era ambíguo em relação a isso. Então acontece Watergate, e tudo que estava acontecendo com os líderes contrários à guerra veio a público. Assim meus parentes se desculparam, mas não o meu pai."
E sua mãe, disse ele, nunca se lhe opunha, por mais ultrajantes que fossem suas idéias, "a não ser quando eu reclamava de Israel". A entrevista aconteceu antes da tomada de consciência de alguns judeus americanos quanto ao sofrimento dos palestinos e antes da intifada e perguntei do que reclamava de Israel.
"Um monte de coisas sobre Israel me deixam louco", ele disse. "Seu militarismo; seus laços com a África do Sul e outros regimes, como o Chile; algumas questões como a de que eles estariam fornecendo fundos aos contras na América Central; que estariam com certeza apoiando o governo da Guatemala; fornecendo armamentos para regimes de direita pelo mundo. (...) Também critico Israel por ser um estado religioso. Acredito na separação entre igreja e estado e o movimento que está crescendo agora em Israel me assusta, é um movimento que coloca ênfase no estado judeu. Isso é diferente de um lar judeu. Claro que sou a favor da sobrevivência do Estado de Israel e acredito numa terra natal judaica, mas isso é diferente de um estado."
Hoffman nunca conseguiu ir a Israel. Ele me perguntou se algo não poderia ser organizado através de alguma organização estudantil. Ele disse que "estaria interessado em ir a Israel, porque lá há mais discussão, no Knesset, na imprensa, nas universidades, nas ruas, nos restaurantes". (...) "Então, Israel tem uma Lei do Retorno para os judeus.
Quando eu era um fugitivo, de 73 a 80, um advogado de nome Bem Weinglass, um dos meus inúmeros advogados, foi ver se Israel deixaria Abbie Hoffman entrar no país e a resposta foi n-ã-o. Em outras palavras, a Lei do retorno era para alguns judeus, mas não para outros."
Benny Avni - De quem foi a resposta?
Abbie Hoffman - Não posso dar o nome das pessoas. Naquela época não podíamos nos aproximar formalmente do Ministério de Imigração, porque eles contariam às autoridades americanas e eu tencionava permanecer clandestino. (...)
Avni - Isso o magoou como judeu?
Hoffman - Claro que me magoou. Você mede a democracia pela liberdade que dá aos seus dissidentes, não a liberdade que dá aos conformistas assimilados. Eu sou um dissidente. Estive preso quarenta e uma vezes; fui espancado em diversas ocasiões; fui torturado pelo governo dos Estados Unidos. Tenho uma gravação de Nixon e Haldeman contratando brutamontes para me dar uma surra. Por quê? Porque "os Sete de Chicago eram todos judeus". Abbie Hoffman é judeu, ele não eram todos judeus: eu os vi no chuveiro. Quando a gravação apareceu, foi matéria de primeira página do New York Times e nenhuma organização judaica falou nada. A Liga de Antidifamação da B'nai Brith teria feito um escândalo de São Francisco a Tel Aviv, mas como este não é o mais respeitável membro da comunidade judaica, disseram "não vamos pensar nisso"- a mesma coisa que os judeus assimilados fizeram na Argentina há quinze anos e os judeus alemães nos anos 30.
Avni - Este é o modo pelo qual você sempre foi tratado pela comunidade judaica?
Hoffman - Em geral, escrevem sobre mim favoravelmente. Ele dizem: "Ele é judeu, vamos convertê-lo." Os judeus não te renegam. Os góim te renegam. E então eles queriam me converter.
As drogas nunca serão tão baratas
Avni - O que é o judaísmo para você?
Hoffman - Vejo o judaísmo como um modo de vida. Ser um oprimido, o que vê de fora, um crítico da sociedade. O garoto no canto que diz que o rei está nu. O profeta. Você está conversando com um profeta judeu que costumava ser um guerreiro viajante judeu quando era mais jovem.
Avni - Então a idéia dos Sete de Chicago foi uma idéia judaica?
Hoffman - Um número desproporcional de judeus estava envolvido no movimento organizacional, na esquerda e no movimento de direitos civis, na luta pelos direitos da mulher, nos movimentos sociais progressistas e estavam envolvidos na liderança. Quer dizer, já que você vai se envolver, porque não ser líder?
Todos temos opções (...) e o primogênito homem tem uma escolha entre ir atrás do guelt ( dinheiro) ou ficar "duro". E tem as pessoas que mudaram a sociedade que eu admiro e são judeus. Pessoas que disseram "Trabalhadores do Mundo, Uni-vos", "Enforquem seus Patrões", ou então "Todo Garoto Quer deitar com a Mãe", ou "E é igual a MC ao quadrado"- sabe, todos estes judeus que não escolheram ir atrás do dinheiro. Eles optaram por ficar "duros", eu vou terminar meus dias "duro".
Avni - E você também mudará a história?
Hoffman - Eu já mudei a história. Como um organizador comunitário, organizei dezenas de projetos em vinte e cinco anos que ainda estão por aí. Você pode ter esta visão dos anos 60 de que tudo era sexo, drogas e rock'n'roll e que era tudo muito divertido. Mas havia gente do meu lado que foi torturada, morreu, foi presa ou morta pelo governo. (...) Fui banido de onze Estados. Agora eles me respeitam. Chamam-me de "senhor".
Avni - Talvez você não esteja mais esperneando...
Hoffman - Durante os últimos dez anos estive envolvido em batalhas do meio ambiente. Veja todas as batalhas regionais que ganhei sob o pseudônimo de Barry Freed. Sabe, todos os nomes que escolhi para a clandestinidade são nomes tipo judaicos. Suavemente judaicos: Freed, Michaels, Samuel. É interessante que psicologicamente, como outra pessoa, eu ainda insistisse que era meio judeu.
(...)
Avni - Você está cansado de lutar?
Hoffman - Estou cansado o tempo todo. Preciso do meu caldo de galinha uma vez por dia, vou fazer 50 anos em novembro.(...) Todas as pessoas da minha geração que foram julgadas em Chicago hoje são milionárias. Eu sou "duro" e vou morrer "duro". E é você que paga o almoço. Certa vez, Jerry Rubin fez questão de humilhar as mulheres judias e então casou-se com uma mulher que ficasse bem num casaco de peles. É decepcionante. É como pegar o jornal e ler que meu filho entrou para os Marines.
Avni - O que você faz para ganhar dinheiro?
Hoffman - O mesmo de sempre; dou palestras, falo nos campi das universidades, recebo uma percentagem sobre a venda de meus livros, faço apostas em esportes, levanto uns US$ 5.000 por ano jogando.
Avni - E isso é suficiente para você?
Hoffman - Não é o suficiente. Não tenho seguro médico, gostaria de ter um a partamento, gostaria de ter algumas coisas a mais, que são consideradas armadilhas básicas da classe média. É estranho, porque sou famoso. Espera-se que quem é famoso tenha dinheiro. Ser um dissidente não dá dinheiro.
Avni - Qual é o problema? Faça um filme em Hollywood e será o bastante.
Hoffman - Bem, fale com seus amigos israelenses da Cannon. Em se falando de pessoas de esquerda dos anos 60 - exceto Martin Luther King, porque está morto e eles podem fazer o que quiserem com ele - sou o mais vendável, porque sou divertido.
(...)
O rock nunca será tão bom
Avni - Então você está zangado com o pessoal de sua geração que foi para Wall Street?
Hoffman - Não tenho nada contra as pessoas que vão para Wall Street, mas não vou dedicar minha vida a isso. Como todos os americanos, tenho a fantasia de ficar rico. Claro que o que eu faria com o dinheiro não é o mesmo que todos os americanos fariam. Não sou a Irmã Tereza. Ela tem uma grande organização apoiando sua pobreza. Eu não tenho nada. Nem parentes, nem amigos. Sou o guerreiro errante judeu. Roubo gasolina. Se tenho que ir contra a lei, eu vou. Faço o que tiver que fazer, dentro dos meus limites. Se eu tivesse dinheiro, viajaria pelo mundo em desenvolvimento, pela África, Ásia.
Avni - Falando em dinheiro, quantas notas de um dólar você jogou no chão da bolsa de Nova Iorque?
Hoffamn - Trezentas notas novinhas, mas não importa. Isso é um mito, uma violência simbólica. Recentemente fizemos um protesto quanto a testes de urina ( para detectar drogas). Eu coletei urina da platéia e mandei para o presidente.
Avni - Nos anos 60 o pessoal fazia coisas assim.
Hoffman - Isso não as torna menos eficazes.
Avni - Torna sim, porque estamos nos anos 80 e poucas pessoas aderem.
Hoffman - Nós não estamos nos anos 80; estamos numa delicatessem na cidade de nova Iorque.
O sexo nunca será tão livre
Avni - Certo. O que quero dizer é que nos anos 60 você era jovem e cheio de gás e a coisa funcionava. As "massas" o seguiam.
Hoffman - As massas não são nem mesmo a maioria. Em 1968, no auge dos anos 60, os dois americanos mais populares nos campi eram Richard Nixon e John Wayne. Embora 20.000 tivessem ido clandestinamente para o Canadá e para Estocolmo para evitar a guerra, houve três milhões e meio de americanos que puseram o uniforme e foram para o Vietnã. Não se podia falar nunca de maioria; podia se falar de o bastante.
(...)
Avni - Mas hoje em dia os jovens não são mais radicais. Ninguém escreveria sobre uma Nação Woosdstock. Talvez sobre uma Nação Wall Street.
Hoffman - É verdade.
Avni - E você não se importa e simplesmente continua com as mesmas táticas?
Hoffman - Sou um guerreiro errante (road warrior), igual ao filme, só que judeu. Se estou sozinho, estou sozinho. Mas nunca estou sozinho.
Avni - Mais isolado?
Hoffman - Estou mais solitário. As pessoas ficam presas ao seu estilo de vida.
(...)
Avni - Você acha que haverá um retorno dos anos 60?
Hoffman - Nunca. Por causa da demografia, da economia. As drogas nunca serão tão baratas. O rock nunca será tão bom. O sexo nunca será tão livre. Era possível viver com quarenta dólares por semana na época. Pular fora de sua carreira era mais fácil.
Avni - Como se sente quanto ao movimento New Age?
Hoffman - Acho que é misticismo, como uma fuga à realidade. Já é muito antigo.
Avni - Como o Maharishi para os hippies?
Hoffman - A diferença é que , para ter uma experiência mística na Califórnia hoje em dia, você paga mil dólares pelo fim-de-semana. A moda dos hippies saía das lojas do Exército da Salvação. Era uma moda barata, de roupas usadas. Agora eu posso levá-lo a butiques no Lower East Side onde eles vendem roupas que eu usei em fotos dos anos 60 por US$600 o casaco. Na época, a comida era barata, a vida era barata. Era contra a corrente. De todas as rebeliões jovens, o movimento hippie foi o mais político.
Avni - A maioria dos hippies não tinha consciência disso.
Hoffman - Você tomava sua vida em suas próprias mãos: isso era como fazer uma declaração política. Então agora os anos 60 são uma moda, junto com os anos 50 e os 40, o que me faz achar que uma mudança está por vir. Mas esqueça os anos 60. A demografia é diferente e não dá para ter uma cultura jovem. A história se move em ondas e curvas. Eu diria que o Nosso Lado está indo para cima, nos dois últimos anos.

*Benny Avni é o correspondente do jornal diário israelense Há'aretz, em Nova Iorque. Traduzido da revista TIKKUN junho/julho 1989.


 Frases soltas

 “Mick Jagger é a Myra Breckinridge da Nação Woodstock” – (Abbie Hoffman). Nota: Myra é uma personagem transexual de Gore Vidal que se transformou em mulher e em filme;

 “Se todo mundo que tomou ácido nos anos 60 tivesse enlouquecido, metade dos caras que hoje têm quarenta anos estaria no hospício”. (Abbie Hoffman);

 "Quando tomava LSD, eu pegava o telefone e ligava para Deus a cobrar" (Abbie Hoffman).

 “Sou a favor do canibalismo compulsório. Se as pessoas fossem obrigadas a comer o que matam, não haveria mais guerras" –      (Abbie Hoffman)

“Naquele tempo, tínhamos cabelos compridos, usávamos roupas hippies, andávamos descalços, fumávamos maconha, ouvíamos rock e mandávamos tudo à merda. A contestação era clara, tanto que a sociedade reagia brutalmente e mandava a polícia impedir-nos de viver como queríamos. O movimento hippie não tinha nada de político. Os hippies não pretendiam modificar a ordem política do país, queriam apenas ser deixados em paz. Nós, ao contrário, quisemos transformar isso tudo, fundamos o movimento yippie, para politizar a contestação(...) (Abbie Hoffmann - in Cohn-Bendit, 1987).


Bibliografia

The Trial - de Tom Hayden, 1970, o líder estudantil complementava os sonhos de Abbie Hoffman com uma crítica e um anseio: “Abbie é um pioneiro nessa luta, mas até agora sua Nação Woodstock é uma coisa puramente cultural, um estado mental partilhado por milhares de jovens. O estágio seguinte será transformar esta Nação de Woodstock numa realidade organizada, com suas próprias instituições revolucionárias e, já a partir de agora, com raízes em seu próprio território”.

Woodstock Nation - O líder yippie Abbie Hoffman lançava, poucas semanas depois de Woodstock, esse livro, uma cartilha revolucionária ilustrada, paginada pelo colaborador de McLuhan, o programador visual Quentin Fiore. Abbie Hoffman corporificava, pelo menos no plano do discurso, elementos até então dispersos e fracionados da contracultura e falava da Nação Woodstock como se ela fosse um país de verdade

Woodstock - The Oral History - (9,9 libras, editora Sidwick & Jackson), que chegou às livrarias de Londres (na segunda semana de agosto quando o festival completava vinte anos), é exatamente o que o título sugere: 361 páginas de aspas. O autor, Joel Makower, transcreve depoimentos de muitos dos que fizeram o festival - empresários, artistas, seguranças e membros do publico.

Makower, um jornalista da Califórnia, limita-se a intercalar as falas segundo os temas abordados. É uma linguagem típica de documentário de televisão que não funciona no papel, em parte porque o autor não se deu ao trabalho de limpar o texto das redundâncias e vícios de retórica da língua falada.

O maior mérito do livro deve-se ao acaso. Sem saber, Makover fez a última grande entrevista com Abbie Hoffman, conhecido ativista político e co-fundados do Partido Internacional da Juventude, que morreu em 12 de abril de 1989, pouco depois de o livro ter sido concluído.


Uma história...


Abbie Hoffman subiu no palco, agarrou o microfone e começou a discursas sobre "os porcos" e "O cerco de Chicago".

Eu disse: "Oh, meu caro, isso não é uma boa pra nós". Então fiz sinais pros caras do tipo: "vamos dar o fora daqui...".

A turma do equipamento começou a guardar tudo, tudo menos o mjicrofone que Abbie estava usando. Finalmente disseram: "Uh, Abbie, desculpa, a gente tem que... dar o fora daqui". (John Sinclair)


outra história...

Assim, no fim do show - ou seja, no momento do tradicional quebra-quebra da aparelhagem – Pete Townshend, o guitarrista viu um sujeito entrar em cena para participar da cerimônia. Nada mais nada menos que Abbie Hoffman, o líder da esquerda hippie americana, que acabou expulso do palco a pontapés. Foi uma das poucas brigas públicas de Woodstock.

Poucos dias depois do festival, o yippie Abbie Hoffman se instalava no chão atapetado do escritório de um grande editor de Nova York - "dopado de adrenalina, emoção, sono atrasado, música de rock e fumo" - para escrever Woodstock Nation "a obra definitiva" sobre a contracultura.