LSD: O EXPOENTE MÁXIMO

 


O expoente máximo
(Mário Pazcheco)

 

O objetivo de Hofmann era estudar a utilização da droga como estimulante do sistema circulatório. A pesquisa com a substância foi deixada de lado pela indústria química e farmacêutica Sandoz, onde Hofmann trabalhava, porque os resultados desejados não puderam ser obtidos em experiências com animais.

Cinco anos depois da descoberta, em 16 de abril de 1943, Hofmann repetiu a síntese do LSD-25, mas foi forçado a suspender seu trabalho e voltar para casa por causa de “um estado de intoxicação não desagradável, caracterizado por uma imaginação extremamente estimulada”. A droga provocou alucinações por cerca de duas horas, mas o pesquisador só relacionou a viagem à substância três dias depois, quando resolveu estudar os inesperados efeitos mentais dessa droga. De volta ao laboratório, ele ingeriu 200 microgramas de ácido lisérgico, o que provocou novas e mais intensas experiências alucinatórias. Sentindo-se muito desorientado, retornou para casa mais uma vez. Viu-se, segundo sua própria descrição, imerso “em outra realidade”.

As cores misturavam-se, seu corpo parecia abandonado. Flutuava no espaço. “Pensei que estivesse louco”. O cientista Albert Hofmann relata uma das mais memoráveis corridas de bicicleta da história: “Sentia algo estranho. As cores haviam mudado, as paredes haviam mudado, meu humor havia mudado. Ao fechar os olhos, comecei a ter belíssimas fantasias”. Hoje, sabe-se que uma dose apenas de 20 microgramas de LSD é suficiente para provocar um efeito que pode durar até dez horas. A dose usual é de 50 a 100 microgramas (um micrograma é igual a um milésimo de miligrama).

O LSD é incolor, não tem gosto nem cheiro. Altamente potente, é tomado em doses microscópicas. Uma das características mais intrigantes do LSD é a pequeníssima quantidade capaz de causar efeitos. Uma onça, apenas, de LSD fornece cerca de 300 mil doses, e alguns quilos seriam suficientes para, depositados num reservatório de água potável, envolver toda uma grande cidade em seus efeitos. Sua ação psíquica assemelha-se à de outros alucinógenos, como a mescalina, extraída de um cacto mexicano, o peiote ou a psilocibina, extraída de um cogumelo.

Não se injeta em veias tumefactas e calosas, Não se engole pesadamente, não se aspira com sofreguidão, o LSD penetra no organismo por absorção da pele ou através de um minúsculo cristal e pode ser administrado em injeções ou pílulas. Devido à sua falta de cor, cheiro e gosto, pode ser dissimulado em torrões de açúcar ou misturado à água e ingerido inadvertidamente por qualquer pessoa. Muitos usaram involuntariamente, já que a droga pode contaminar ou ser facilmente colocada em alimentos ou bebidas.

E a sua utilização ficou restrita aos laboratórios de pesquisa até o início da década de 60, quando a droga passou a ser usada pelas agências de espionagem e divulgada por Timothy Leary que sempre se preocupou quanto as acomodações para suas experiências.

Hofmann criticou a vulgarização do uso do LSD. Segundo ele, a droga deveria ser usada com cuidados especiais. Comparando o uso da substância com o das drogas preparadas pelos índios, o pesquisador chegou à conclusão que eles só as tomavam quando fornecidas pelo curandeiro da tribo, que acompanhava todo o ritual. “Mas os hippies e as pessoas em geral tomavam LSD em qualquer lugar - em uma discoteca, por exemplo - sem estar preparados. Começou a acontecer aquilo que os índios mexicanos, que há séculos de dedicam ao culto da carne dos deuses ou carne do diabo e ingerem alucinógenos em seus rituais religiosos, sabiam. Os que utilizavam a droga se tornavam loucos, acabavam em hospitais, em clínicas psiquiátricas”, disse Hofmann.

Apesar do LSD ser pesquisado há cerca de 40 anos, os cientistas ainda não chegaram a uma conclusão sobre a maneira como essa droga age sobre o sistema nervoso central. Não se sabe com exatidão sua maneira de atuar no cérebro. Parece que interfere em todas as funções cerebrais que recebem e elaboram para a consciência as informações dos sentidos. É certo que inibe a produção das enzimas que regulam o suprimento de glicose às células cerebrais. Outras substâncias, contudo, fazem o mesmo, sem provocar os poderosos efeitos do LSD, o que leva a crer que este possua outras profundas consequências: seu uso caiu muito depois que pesquisas mostraram seus efeitos extremamente nocivos, mesmo após uma única dose, e que poderiam deixar consequências para o resto da vida.

Segundo Elizaldo Carlini que pertenceu ao Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, o Lsd atua sobre várias áreas receptoras de estímulos do cérebro, mas seu mecanismo de ação nesse órgão ainda é desconhecido.

A sinestesia (fusão dos sentidos) é um desses mecanismo de ação, seu efeito consiste na mistura dos sentidos, a pessoa “vê” sons, “saboreia” cores. O estímulo que atua sobre um canal sensorial parece evocar imagens de outro canal tão prontamente como se fossem sensações do mesmo “modo” - visão com os ouvidos e audição com os olhos. O mecanismo da sinestesia ocupou o centro de um dos grandes problemas que marcaram o psicodelismo, a ligação entre o rock e as drogas.

“Em Music and Communication, Terence McLaughlin define a sinestesia como ‘qualquer erro do cérebro em sua interpretação da massa de dados sensoriais que nossos olhos, ouvidos, órgãos do tato, etc., estão continuamente enviando para os centros cerebrais’. Na vida ‘normal’ - naquilo que Freud adequadamente chamou de psicopatologia do cotidiano - a sinestesia se manifesta sob a forma de pequenas alucinações, como a sensação muito comum de queda física que se tem ao adormecer. Essas pequenas manifestações são, de certa forma, o equivalente, no plano sensorial, dos atos-falhos e lapsos-de-linguagem que Freud observou em seus estudos do comportamento humano. Prossegue McLaughlin: ‘É provável que as drogas psicotrópicas como o LSD ajam, pelo menos parcialmente, inibindo a ação dos censores mentais que nos impedem de dar atenção a nossas visões.      Em vez de ignorar as semelhanças ocasionais entre as impressões sensoriais, ou de reprimi-las de nossas mentes conscientes, tais drogas induzem as pessoas a um interesse renovado por tais fenômenos. Certamente a sinestesia é um dos efeitos das drogas comumente observados, entre outras alucinações. A associação sinestésica entre a música e os outros modos sensoriais há muito tempo vem sendo reconhecida e discutida”.

O LSD é o mais eficiente psicodélico que se conhece, nova designação para substâncias, como a mescalina, que possuem a propriedade de liberar o inconsciente, ampliar a área da consciência e modificar a recepção dos estímulos sensoriais pelo cérebro. Também, ao contrário dos tóxicos, o LSD não cria hábito e não prejudica o organismo, se administrado a pessoa física e mentalmente saudáveis.

A viagem, como a chamam os apreciadores dos efeitos do LSD, passa por quatro etapas principais. A primeira, logo depois de ingerida a dose, dura de meia hora a 45 minutos. Se, ao invés de ingerida, a dose for injetada na corrente sanguínea, os efeitos se manifestarão mais rapidamente. Verificam-se ligeiras náuseas, algumas angústia, dilatação da pupila, taquicardia e outras reações do organismo - que, porém, cessam completamente na fase seguinte.

Esta é a experiência propriamente dita. Dura de quatro a oito horas e consiste em ilusões sensoriais a que se tem chamado, não muito propriamente, de alucinações, pois o efeito do LSD não anula a consciência. O paciente sabe o que vê, embora as coisas ganhem para ele um significado diferente do habitual. Espaço e, principalmente, tempo passam a não ter importância. Desenvolve-se uma especial sensibilidade para as cores, que parecem mais vivas e mais belas. Muitos se sentem mergulhados num estado de inocência e pureza infantis; alguns experimentam uma sensação de regressão ao estado fetal e outros revivem experiências infantis ou emocionais de importância particular de suas vidas. O estado emocional é transformado, geralmente para uma desinibida euforia, que provoca um riso fácil e abundante. Verificam-se certo descontrole no sistema muscular e acelerado processo de ideação, com um fluir muito rápido de idéias e a sensação de uma grande lucidez. Ao contrário do que acontece na embriaguez alcoólica ou no uso de tóxicos, como a morfina, heroína ou cocaína, essa lucidez não é apenas aparente, pois pode ser integrada na consciência do indivíduo, o que permite o emprego do LSD no tratamento do alcoolismo e psicoses indeterminadas (Lauaria).

As mudanças de personalidade são frequentes e as condições psíquicas de cada indivíduo, sob a ação do LSD, podem originar uma série de manifestações imprevisíveis. Muitos vêem as pessoas, ou a si próprios, como outras pessoas. Uma dose exagerada ou, mesmo, uma moderada, em psicóticos, pode conduzir a estados aterradores, de medo absoluto e sensação de morte iminente. A bad trip é vulgar em psiconautas com psicoses tendenciais e é um autêntico furacão a devastar o ego.

A terceira fase é de recuperação do transe. Pode durar diversas horas e durante elas o paciente atravessa sucessivamente períodos em que se sente, de novo, perfeitamente normal, e períodos em que se manifesta o transe do LSD. A quarta e última fase, que dura até vinte e quatro horas depois ou mais, é de fadiga, fome e, frequentemente, tensão nervosa.

Muitas vezes, principalmente quando usado por psicóticos, o LSD tem efeitos de grande duração e provoca reações alucinogênicas que podem voltar até três meses depois de tomada a dose. Novas doses não são necessárias: o simples fato de assistir outro em transe pode provocar essas reações.

“Um novaiorquino narrou, para a revista americana The New Republic, suas duas primeiras viagens com o LSD. A primeira forneceu-lhe um verdadeiro carnaval de sensações maravilhosas. As cores e as visões que tinham eram tão indescritivelmente belas que ele soluçava de alegria: ‘Oh, meu Deus, como é adorável, como é maravilhoso, como é belo o que vejo’. Palácios de cristal estendiam-se por quilômetros de veludo. Seu corpo parecia dissolver-se em mel e prata. Viu um Buda de bronze começar a viver e ouviu uma gravação de Ella Fitzgerald, My Ship, de uma forma tão maravilhosa, que entregaria a alma para ouvi-la de novo da mesma maneira. Finda a viagem, foi pra casa e dormiu tranquilamente. Estava certo de ter descoberto um novo mundo.

(...) Um mês mais tarde, fez sua segunda viagem. Esta, porém, foi diferente. Eis como ele narrou: ‘... A face de meu guia mudou. Ficou abstrata, reduzida a uma série de planos. Seus olhos fecharam. No seu rosto, havia uma indiferença perfeita, uma paz total. Uma auréola de luz prateada envolvia-lhe a cabeça. Entre seus olhos, um pouco acima do nível de seus olhos, vi o terceiro olho, o olho da alma. O quarto escureceu e a música silenciou. Eu estava deitado de costas no chão. O próprio quarto desapareceu, e senti que estava afundando, afundando, afundando cada vez mais. De longe ouvi muito fracamente uma palavra: morte. Afundei mais, sentia que caía da Terra a uma distância de milhões de anos-luz. E ouvi a palavra cada vez mais forte e mais insistente. Tomou forma, envolveu-me, fechou-me, Morte... Morte... Morte. Pensei nos olhos de meu pai em seus últimos momentos. Finalmente, diante de minha própria morte, gritei Não! Terror absoluto. Horror total. Com imenso esforço, tentei erguer-me novamente de volta à vida. Pareceu que levei uma eternidade’.

(...) No quarto, ele tremia em convulsões violentas. Mais tarde, contou a terrível viagem a
Richard Alpert, dizendo-lhe: ‘Eu só queria sair dali, terminar a experiência’. O sacerdote do LSD encarou-o fixamente e perguntou: ‘Você tem certeza?’.

(...) Em 1962, o escritor Paulo Mendes Campos relatou uma experiência com o LSD, que estava sendo conhecido, em todo o mundo, como uma droga mais poderosa do que a própria mescalina.

(...) Depois a descoberta transformou-se em moda. Enquanto, por um lado, médicos investigavam as suas qualidades terapêuticas, por outro, artistas e intelectuais passaram a usá-lo para estimular sua capacidade criadora. Em Nova York, o poeta Allen Ginsberg liderou um movimento de opinião que reivindicava a liberação legal do LSD e da marijuana, que, como o primeiro, é um psicodélico, embora bem mais fraco. Os resultados foram surpreendentes e, para as autoridades norte-americanas, assustadores.

(...) O LSD foi produzido e traficado clandestinamente, como se fosse um tóxico, segundo uma pesquisa do Instituto Gallup, nos Estados Unidos, o número de usuários, entre estudantes de universidades, quadruplicou entre 1967 e 1969. 20 a 30% da juventude universitária norte-americana tomava Lsd como quem fuma um cigarro. Nos Estados Unidos, como em vários outros países do mundo, o LSD era a onda. Em Greenwich Village, era a maneira in de take off. Estudantes de vinte e uma escolas de Nova York, possuíam seus próprios laboratórios para o fabrico de LSD misturado a tóxicos. A administração de Alimentos e Drogas e o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos abriram campanha contra a droga e provocaram uma retração da única empresa que o fabricava legalmente, a Sandoz Pharmaceuticals, Inc. A verdade é que, nos Estados Unidos, o LSD começou a substituir a marijuana, a heroína e a cocaína, todas elas postas na ilegalidade”.

Menos pelo aspecto quantitativo embora largamente consumido o LSD foi, acima de qualquer outra, a droga da década: em torno de seus efeitos articulou-se uma rede de discursos psiquiátricos ou “anti-psiquiátricos”, derivou de seu universo perceptivo e imagético uma série de espectros luminosos apresentando uma literatura e uma poesia revitalizadas pelas novas cores da consciência filtradas por um canal espansor enigmático e indecifrável, no rock o volume nunca foi tão alto, nas telas, roupas e películas a cultura do surreal. Após anos de bolor e poeira, as cores alegraram e edificaram o psicodelismo. A respeito da reserva do inconsciente, tratados, livros e enciclopédias justificaram explorações e explicações “filosóficas”, acreditavam que a grande busca do jovem na década de 60 - livre de faixa etária, enquadração e consciente da inutilidade do serviço militar - estava “acorrentada” à política do êxtase, (nascida da angústia da Beat Generation) e que consistia na exploração sistemática de efeitos sinestésicos, afirmando o Princípio do Prazer sobre o Princípio da Realidade. 

A descoberta das virtudes e vicissitudes lisérgicas originaram verdadeiros cultos frequentemente de inclinações místicas e orientalistas. Se o ópio, o haxixe, a cocaína e até a mescalina já possuíam uma galeria de notáveis experimentadores e explicadores - Charles Baudelaire, Thomas de Quincey, Jean Cocteau, Walter Benjamim, Sigmund Freud, Conan Doyle, e o próprio Huxley - a droga do doutor Hoffmann produziria os seus intelectuais, que se notabilizariam pela divulgação de um certo irracionalismo arrazoado, de tendência libertária, contracultural e pacifista.

Para fazer frente ao aumento do uso de Lsd, as autoridades norte-americanas começaram a empregar contra ele a mesma solução que, há anos, vinha empregando, sem nenhum resultado positivo, contra os tóxicos, isto é, a repressão policial. O promotor público Aaron Koota foi o líder da cruzada contra o LSD, mas, em Greenwich Village, as exposições passaram a ser de “pintura psicodélica” e o conjunto, The Turtles, afirmava tocar “música psicodélica”.

Toda manifestação expressiva derivada do rock está voltada para essa superposição dos canais sensoriais. Os mais velhos têm dificuldade ou total impossibilidade de ler os pôsteres de rock, os programas de concertos, as ilustrações, e principalmente a nova linguagem usada nos textos dos jornais underground, os head-comix (quadrinhos-de-cuca), etc. Em termos de comunicação, é a cultura-em-mosaico tomando o lugar da tradicional cultura linear. 

Na revista Partisan Review, o ensaísta, Leslie Fiedller, escreve que a juventude americana começa a esposar um novo programa de vida, anti-puritano, hedonista e tendenciosos à indiferença. “Da maneira que o liberalismo de hoje é o LSD dos velhos, o LSD é o radicalismo dos mais jovens”. Onde não existiam outras formas de ser radical, a aventura interior do transe do LSD era a possibilidade de protesto.

Uma dose de LSD custava, nos Estados Unidos, comprada das mãos de traficantes, cerca de US$ 5 dólares. Suas características - incolor, inodoro, insípido - dificultavam o trabalho dos detetives encarregados da repressão aos narcóticos. O LSD não exige seringas e, traficado sempre em pequeníssimas quantidades, era facilmente escondido. A repressão policial, na verdade, estimulou o tráfico clandestino e o uso cada vez maior da droga sem assistência médica, a qualidade do LSD declinou em compostos criminosamente casados com a estricnina (um veneno speed). Em 1968, em Amsterdam sabia-se a outra dimensão e os experimentadores tiveram uma dilatação da consciência quase inflacionaria.

Na revista Science de 8 de maio de 1970, o Dr. S. Krippner denunciou que vinte por cento das amostras do LSD que se encontravam no mercado não eram LSD, e os potheads (viciados em marijuana) e os speedfreaks (adictos às anfetaminas) caíam no mesmo logro, que se paga caríssimo, já que habitualmente consumiam produtos impróprios; e nesse sentido podemos afirmar que toda a droga é perigosa.

Apesar do apostolado de Timothy Leary, da justiça da revolta ética dos beats e, mesmo, da utilidade médica do LSD, a droga também pode ter consequências negativas. Sua ação constante pode fazer o cérebro descarregar uma substância orgânica ainda não identificada. Essa descarga pode provocar profundas mudanças na personalidade do indivíduo - que não serão, necessariamente, para melhor. Muitas pessoas, após o uso do LSD, sofrem violentas convulsões epiléticas. Em personalidades psicóticas, ele pode estimular o impulso ao suicídio. Em outras, provoca sensações de terror tão fortes que os tranquilizantes e barbitúricos são impotentes para curar. Só um controle cuidadoso seleciona as pessoas que podem experimentar, sem perigo de prejuízos sérios, uma viagem de LSD. De maneira geral, devem ser excluídos, em princípio, todos os que sofrem de enfermidades cardíacas ou hepáticas, os epiléticos, os que sofrem de personalidade instável e os portadores de tendências esquizóides.

O LSD não é totalmente inócuo, como se ouve dizer: o Dr. L. Hirschhorn afirma que ataca ruinosamente os agrupamentos cromossomáticos e os reagrupa em direção a uma entropia leucémica. Os danos cromossômicos possivelmente diminuem a fertilidade e o aumento da incidência de abortos. Tal como a maconha, o Lsd não tem possibilidade cientifica de ser detectado no sangue dos viciados, mas os efeitos de uma trip de ácido, reversíveis, duram a vida inteira.

Sabiamente administrado o LSD é um antídoto de qualidades comprovadas para a dor e outras drogas narcóticas, melhor até que a Ciclazocina. As outras qualidades positivas do LSD ainda não estão suficientemente estudadas. A mais propalada delas é sua possível faculdade de aumentar o poder do intelecto e de criação do homem. Dois recentes relatórios norte-americanos apresentaram a esse respeito resultados contraditórios. Um deles, fruto de experiências com estudantes universitários, afirma que o LSD não tem influência sobre a capacidade intelectual. Outro, de observações entre escritores e artistas de talento, verificou um aumento de fertilidade criadora entre essas pessoas. Ao que parece, o LSD realmente não cria nada nem pode dar talento a quem não o tenha, mas possui um efeito liberatório.

O importante fato de que o transe do LSD não suspende a consciência, mas fornece experiências que ela é capaz de aprender e assimilar, permite o seu emprego no tratamento dos alcoólatras e viciados em entorpecentes. As experiências do LSD são mais gratificantes do que as dos tóxicos, permitem a reflexão e a decisão para curar-se, indispensável no tratamento dos viciados. Embora não crie hábito, o LSD é mais potente do que qualquer tóxico. Essa vantagem, porém, acarreta num terrível perigo: seus efeitos são muito mais espantosos, para explorar os espaços psíquicos, descoberta por acaso pela ciência, o LSD pode ser o sintoma mais grave da crise da juventude moderna.


*PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA “DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I