JOHNNY WINTER: THE THINGS THAT I USED TO DO (2010)

Johnny Winter: The things that I used to do

Arranjos agitados & imaculadas intervenções em quarteto

por: Mário Pazcheco


Ferrock – Ceilândia-Brasília-DF
Sábado, 15 de maio de 2010

johnny   Johnny Winter: guitarras, slide e vocais; Vito Liuzzi, bateria; Paul Nelson, guitarra e Scott Spray, contrabaixo.
Vários amigos de décadas e fanáticos por blues e pelo guitarrista Johnny Winter,  se reencontraram nesta noite inesquecível quando o blues brilhou.

   Aos 66 anos, Johnny Winter é um misto de guitarrista com uma pegada de Guitar Slim e há algum tempo ele toca sentado numa cadeira como John Lee Hooker, seu toque é brutal e delicado lembra Albert King.

   O primeiro disco de Johnny Winter, “School Days” saiu independente em 1959 e somente uma década depois ele conseguiu assinar com uma grande gravadora recebendo o maior adiantamento já pago a um artista. Passou pelos selos Blue Sky, Columbia, GRT, Imperial, Janus, United Artists, Alligator, Back Track, Overseas Records, Crazy Cajun – e gravou discos com seus ídolos Muddy Waters e Sonny Terry agora ele está na Virgin.

   Tatuadamente esquálido e de chápeu, Johnny Winter lembra um velho fazendeiro do pantanal mato-grossense, dono de uma fazenda de búfalos, seu jeito caipira também lembra Helena Meirelles. Aquela imagem do anjo loiro vestindo terno de lamê ficou no passado.

   Sua entrada no palco é mágica, a multidão incrédula demora a acreditar que o homem está ali...

   No palco, Johnny Winter está um pouco mais lento e desorientado pode ser a postura ou a qualidade som que o fez errar os arranques, a banda como trio no início da apresentação também errou...

   A conhecida abertura de Hideaway proporciona velocidade nos sustains arrepiantes, como num tributo aos Blues Breakers, eles emendam All your Love, a dedeira no polegar direito dedilha   precisamente e os dedos traçam escalas desconcertantes.

   Johnny Winter após tantos anos de devoção  se tornou uma entidade blues, o corpo pode estar trêmulo e as veias estouradas   mas a voz ainda é quente e ele rosna “Sweet sweet rock’n’roll...”., enquanto toma generosos goles d'água.

   Ele  convida a platéia a curtir e emenda uma sequência de boogies,  a graça do embalo e o volume dos crescendos de uma guitarra shark negra de timbre metálico põe garotas novinhas para dançar e marmanjos exibicionistas fazem coreografias bizarras.

   A banda que o acompanha é o alicerce de um show mais pessoal, Paul Nelson o segundo guitarrista conhece o braço do instrumento e se reveza com o contrabaixo fazendo as células rítmicas e os desenhos de pica-pau, enquanto o contrabaixo de Scott Spray comanda o andamento e o início e o fim das canções, já a bateria de Vito Liuzzi é alta e  marcadamente vibrante marchando nestes clássicos do rock’n’roll como Roll with me e Bony Moronie cantadas em coro.

   Caprichosamente em Red House (clássico de Hendrix) impiedosamente Johnny winter erra o início, dá uma tradicional 'catada'.

   Com a tradicional guitarra Gibson Firebird, ele termina sua apresentação com It’s all over now dos Stones.  Não há mais aquele grande meddley de rock'n'roll  e Johnny Winter não faz mais acrobacias com a guitarra ao final dos shows, célere em câmera lenta ele abandona a cadeira. Antes em português pediu aplausos à banda.

   No camarim, a van o espera para levar ao hotel cruzando aquele mar de sinais verdes ou vermelhos, sem tempo para um autógrafo ou uma foto. Felipe CDC ainda ao microfone lembra como foi mágica a apresentação de Mr. Winter.

   “A heroína é amiga de ninguém...” (frase de Vladimir)

   Ainda nos anos 70, Johnny Winter experimentou ‘comebacks’ da sua descida ao inferno do hábito da heroína que o nocateou e o tirou do pico do sucesso.

   Repentinamente, Johnny Winter e seus maníacos do rock’n’roll eram estrelas atravessando meses a fio pelos Estados Unidos e Europa. E, rapidamente a pressão aproximou-se deles com uma grande nuvem branca de heroína. Depois de um álbum ao vivo a banda se separou.


“Finalmente eu saquei que era um viciado”. “E me toquei que o único jeito de parar era me trancando sem ter nenhum contato com outros viciados”.

Johnny Winter inscreveu-se num programa para tratamento de drogados durante um ano e em 1974 estava de volta.

Décadas depois a história repetiu-se envolvendo exploração empresarial (seu antigo técnico de estúdio e agora empresário desviou sua grana) e o vício em antidepressivos e metadona, novamente o levaram à lona.

No semblante, de Johnny Winter ‘7 Vidas’ fica claro o preço pago por anos de vício no blues!

Últimos Lances

Reinaldo e Mariana, da Berlin Discos, juntos na grade,  ainda não acreditam como Johnny Winter conseguiu terminar a apresentação...
No final do show, alguém da plateia jogou uma bandeira do Brasil no palco.


jwandjimi
Jimi Hendrix & Johnny Winter anonimamente canjam no The Scene em NYC;
Hendrix com outros guitarristas costumava tocar   contrabaixo
Foto: Johnny Winter Net

“Eu era uma tiéte de Hendrix, e ele era uma tiéte de Johnny Winter. Eu o amava, e nós tivemos chance de sair juntos, conversar e gravar juntos. Uma das coisas que o pessoal do estúdio estava interessado em lançar era uma velha canção de Guitar Slim, chamada The things that I used to do. Eu tocava slide e Jimi fazia a base e cantava: era só por curtição, mas isso era muito melhor do que as coisas que saíram depois que ele morreu”. (Johnny Winter)