Raul Seixas: O Homem que Mostrou o Invisível (2025)
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"Olha com clareza aquilo que é posto ante teus olhos, e não invoques a sombra daquilo que jamais se mostrou."
"Do Desbunde e do Julgamento: Aforismos para um Tempo de Raulzito"
É preciso destrambelhar para o lado do aforismo, pois a lógica do sistema não explica o delírio do espírito. A minissérie Raul Seixas: Eu Sou ergue-se em oito fragmentos do tempo e da carne. E logo surgem vozes – apressadas, ressentidas – que julgam antes de ver, que declaram sem ter escutado, que encerram sem ter iniciado.
A crítica rasteira rasteja – cruel, mecânica, sem coração. Reduz-se ao grunhido: “Não gostei”. Como se isso bastasse. Como se o mundo de Raul coubesse em um "like".
Quantos filmes biográficos já foram feitos? E quantas vezes saímos perguntando: "Terá sido assim mesmo?" Nenhum roteiro deve se curvar ao que tu pensas. O cinema é feitiçaria, não é ata cartorial.
Escuta: os diálogos da série revelam o que fervilhava nas cabeças libertas do desbunde. A caracterização não é erro – é símbolo, é rito, é delírio estético. Mas os críticos, cegos em seus próprios clichês, repetem o erro de acusar o erro – e assim erram em dobro.
Críticos não são xamãs da memória. Não são biógrafos, nem diretores, nem visionários. São o eco do senso comum travestido de análise.
Desconfia da crítica. Ama o filme. Eis uma sugestão digna do mago.
Sim, é corajoso mostrar o desbunde e seus excessos. Corajoso é quem encara o abismo e volta com uma canção. O filme de Raul, como o de Morrison por Stone, não é uma câmera grudada ao cotidiano: é viagem alquímica. São imagens em transe, diálogos entre o saber e o sofrimento, entre a mutação e o medo, em meio à repressão orquestrada que escrevia a norma no corpo dos dias.
Dá uma chance à paz. Dá uma chance à loucura lúcida.
Raul – o Seixas, o Raulzito – deixou claro, com cada acorde e cada grito, o preço pago pelas consequências de sua paixão. O filme é apenas uma chave. A porta, quem abre, és tu.