Guará Rock City (1982-2025)
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Lá em Guará Rock City, havia os Magrelos, e a maioria de nós não passava dos 52 quilos. Mas eu nunca fui do "bando dos Magrelos" – eu era da Turma da Uva. Também frequentava o Sindicato do Reggae, e dizem que fui o primeiro roqueiro a cruzar para a trincheira deles. Afinal, eu morava na QE 32, um dos focos da cidade ao nosso redor.
Fui eu quem inventou esse negócio de "Guará Rock City" e também o "Jornal do Rock". E foi nessa época que entrevistei Renato Russo no primeiro show da Legião Urbana em Brasília, no Teatro de Arena do Cave. Eu queria rock'n'roll na linha do Status Quo, mas ouvíamos Judas Priest. Já em 1978, estávamos nas garras do Kiss, mas também curtíamos AC/DC, The Stranglers, Casa das Máquinas e Joe Perry Project, além de qualquer álbum pirata duplo ao vivo do Led Zeppelin que caísse em nossas mãos.
Havia os fã-clubes em Taguatinga, no Gama e em Sobradinho. Enquanto isso, começávamos a montar as primeiras bandas de rock, e eu ajudava indicando um guitarrista que tivesse instrumento. Isso foi há 43 anos. Nossa vida já era séria – quase séria demais – e o rock era o nosso lado mais soft. Os meninos tinham a cabeça no lugar, mas gostavam de ir para o mato, cruzar rodovias no dedão, no pedal ou em suas motos.
Íamos do Cruzeiro à quadra da Aruc, do Rock Cerrado aos EMGs (Encontros de Músicos no Teatro do Cave), e assim conhecíamos a cena musical de Brasília. Havia também os festivais estudantis, sendo o mais famoso o FICO.
Então é isso: ano sim, ano não, celebro essa trajetória – e você está convidado a me apoiar. O rock vai rolar!
O povo vinha de diferentes cidades-satélite e passava na minha casa antes de seguir para a festa. Nessa parada, eu mostrava meus recortes, LPs e, muitas vezes, dividia o que tinha na panela com eles. Em certo aniversário, inventei que Renato Russo viria nos visitar – depois me cobraram: "Mas você disse que o Renato Russo vinha..." E não deu certo?
Íamos até a chácara Pacheco buscar mandioca para preparar o caldo da noite. Para mim, essas festas sempre foram seculares e profanas. Antes dos condomínios, havia mais liberdade nos conjuntos residenciais, e a festa podia avançar madrugada adentro. Hoje, existem estatutos e regras – e a minha sempre foi evitar uma visita da polícia.
Nesse ar de rock, não precisamos de teatros, ginásios ou bandas que nem sabem que você existe. Rock’n’roll é uma pegada de vários calibres, e o que fica são as sensações – aquelas que fazem você rastejar pelo chão como se fosse um Ramone.
Não quero acreditar que tudo esteja morto e que eu tenha que assistir a um show pela televisão. Nos anos 80, ouvir pelo rádio era muito mais intenso – você ainda se lembra do rock’n’roll na rádio?
Hoje, falta o que ler no impresso, falta a coluna certa. Não gosto de rock em teatro grande, nem de ver show pelo telão. Queria o rock como uma exposição, um happening – cruzar labirintos, sentir o chão, as paredes, as extremidades. Ouvir um rock desafeto, sem limites, de guitarra de verdade, sem preocupação com sucesso, sem pensar se vai passar no DFTV ou se a Magaly vai aparecer. Quero rock sem revertério.