1976: O Caso de Rita Lee e a Repressão à Música
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25 de agosto de 1976 – Terça-feira
Foi na casa da Rua Pelotas, 497, na Vila Mariana, que Rita Lee foi detida, acusada de posse de drogas. Grávida de dois meses, estava tranquila. Desde que soube da gravidez, parou com tudo, até mesmo cigarros comuns. Quando os investigadores da Divisão de Entorpecentes do DEIC chegaram com um mandado de busca e apreensão, ela reagiu com bom humor: “Se vocês tivessem passado aqui uns meses atrás, teriam achado bem mais de um quilo. Mas agora não tem mais nada...”.
Os policiais disseram ter encontrado pontas de cigarros de maconha e um narguilé. Coagida, Rita assinou um documento reconhecendo a posse de drogas e foi enviada à Penitenciária Feminina, aguardando julgamento.
Impedidos de assistir ao show Entradas e Bandeiras, suspenso temporariamente, dezenas de jovens lotaram os corredores do Fórum Criminal de São Paulo para acompanhar a audiência da cantora diante do juiz Aurélio Antônio Maciel, da 20ª Vara Criminal.
Rita havia sido presa dois dias antes, junto com suas empresárias, Mônica de Mello Lisboa e Judy Spencer, e o baterista Antônio Carlos Fernandes da Conceição. A prisão ocorreu após uma semana de investigações no Teatro Aquarius. Desde a detenção de Gilberto Gil, um mês e meio antes, a polícia estava especialmente atenta aos palcos.
Na casa de Rita, os policiais apreenderam uma caixa com dez gramas de haxixe, outra com vestígios de cigarros de maconha e um narguilé. Na casa de Mônica e Judy, encontraram dez comprimidos de LSD, um de mescalina (LSD puro) e uma pequena porção de maconha, esta última na sacola de Conceição.
“Perdi o controle”
Aos 28 anos, Rita admitiu já ter usado drogas, mas afirmou nunca ter se viciado. Em depoimento, disse ter parado completamente três meses antes, ao descobrir a gravidez. Sobre as drogas encontradas em sua casa, alegou que poderiam ter sido deixadas por visitantes. “Perdi o controle do que acontecia lá”, justificou, explicando que estava de repouso após cair de uma escada.
Conceição, por sua vez, não soube explicar a origem da maconha em sua sacola e sugeriu que alguém poderia tê-la colocado lá enquanto distribuía folhetos do show.
O advogado José Carlos Dias trabalha para relaxar o flagrante e retirar Rita do presídio. Condenada à prisão-albergue domiciliar, ela foi obrigada a permanecer em casa à noite. No entanto, no fim do mês passado, o juiz corregedor Renato Laércio Talles concedeu uma autorização especial para uma única apresentação. Assim, no dia 16 de setembro, Rita e a banda Tutti Frutti subirão ao palco do Ginásio do Palmeiras, enquanto sua empresária tenta obter novas liberações para o espetáculo.
Agosto/Setembro de 1976 – Texto baseado na Veja
Rita Lee em outubro de 1976, ainda em prisão domiciliar. Foto: Arquivo Agência O GLOBO.
Fonte da foto: Rock Rádio Lágrima Psicodélica!