2001: VIOLETA DE OUTONO VOLTA DA DÉCADA DE 80 COM SHOW

VIOLETA DE OUTONO VOLTA DA DÉCADA DE 80 COM SHOW


Angelo Pastorello, Fábio Golfetti e Gregor Izidro, do Violeta de Outono, que se apresenta hoje, às 20h, no Teatro Popular do Sesi

"Não sabemos direito como definir nosso som porque nos inspiramos no rock da era anterior aos rótulos. (...) Acho que era mais fácil fazer discos assim, sem ter a preocupação de pensar em que prateleira iriam te colocar depois". (Fábio Golfetti, guitarrista, vocalista e fundador da banda Violeta de Outono)

por Cláudia Assef – Folha de S. Paulo

21 ago. / 2001 – Hoje à noite tem culto ao revival da música dos anos 80 em São Paulo: a partir das 20h, o trio Violeta de Outono, fundado naquela década, mostra parte de sua discografia soturna e sofisticada no palco do Teatro Popular do Sesi.

Para quem não conhece, é uma boa oportunidade de saber por que tanto se fala – ainda – sobre o movimento roqueiro da década de 80 no país.

Apesar de nunca ter atingido a fama de bandas contemporâneas como Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas etc., o Violeta amealhou uma pequena multidão de fãs e reunia em seus shows tribos tão distintas quanto a dos darks, rockabillys, neo-hippies.

Para quem já conhece o som do Violeta, o show de hoje à noite deverá mostrar que nem toda banda “idosa” precisa se perder ao longo da carreira.

De 1986 – quando foi formada em São Paulo – até hoje, a banda elabora rock psicodélico, livremente inspirado em Pink Floyd e Beatles, com boas letras em português. “Não sabemos direito como definir nosso som porque nos inspiramos no rock da era anterior aos rótulos”, diz o guitarrista, vocalista e fundador da banda, Fábio Golfetti, 41.

Ele se refere a bandas como Led Zeppelin, Yes, Pink Floyd, Black Sabbath, que segundo ele, eram classificadas apenas como bandas de rock. “Acho que era mais fácil fazer discos assim, sem ter a preocupação de pensar em que prateleira iriam te colocar depois”, completa Golfetti.

Hoje, com dois terços da formação original da banda (além de Golfetti, o baixista Ângelo Pastorello, do tri inicial, e Gregor Izidro, na bateria), o Violeta continua a fazer música como na época do LP Violeta de Outono, de 1987, um dos mais impressionantes registros de rock feitos na década de 80 no Brasil.

O disco foi lançado no formato CD em 1995 pela BMG e hoje está disponível pelo selo Voice Print, atual emprego fixo de Golfetti.

Depois de fazer um sucesso relativo com o disco de estreia, que vendeu cerca de 30 mil cópias no formato vinil, o Violeta passou rapidamente por uma fase “eletrônica”, com o LP Em Toda Parte, de 1989.

“Comecei a me interessar muito pela programação eletrônica, mas acho que o resultado final não foi muito feliz”, lembra Golfetti.

Depois da incursão pela eletrônica, o Violeta entrou em fase de adormecimento. E Golfetti criou o projeto paralelo Invisible Man, que acabou chamando alguma atenção no circuito underground inglês.

Em 1995, a banda se reuniu para gravar um CD ao vivo. Depois de mais alguns anos dormente, o Violeta retornou com o disco Mulher na Montanha, de 1999. O mais recente Reflexos da Noite, lançado pela Voice Print, saiu este ano.

Rave Gótica

Hoje, deslocados do cenário do rock pop nacional, o Violeta de Outono conseguiu se encaixar num roteiro no mínimo exótico. A banda foi convocada duas vezes para tocar em raves góticas.

“Até dá para entender por que nos convidam para tocar nessas festas. Temos umas letras meio sombrias”, pondera Golfetti. Letras como as de “Declínio de Maio” (“Este é o final da sua glória / Espero que fique além da memória”) e de “Dia Eterno” (“Você sabe que não temos tempo / Dia eterno, noite escura dentro”), por exemplo.

“E tem mais”, diz Golfetti, “é claro que a cor violeta sempre fez sucesso com esse pessoal”.

Violeta de Outono – Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, Cerqueira César, São Paulo. Quando: hoje, às 20h. Quanto: grátis.

Crítica

Banda toca o barco longe de modismo

Imagine um trio que toca rock lento, viajante, usando instrumentos de qualidade, a maior parte vintage (peças antigas, porém muito conservadas), cantando letras agoniadas, que você não precisa se esforçar para entender porque são em português mesmo. E, além disso, um palco bem simples, sem frufrus, apenas uma iluminação decente.

Têm sido assim ao longo dos anos os shows do Violeta de Outono. Com o meticuloso Fábio Golfetti, que, além de tocar (bem) guitarra, canta e organiza quase tudo relacioanado à banda, o Violeta toca o barco sem ligar muito para o que está na moda e muito menos para saber porque nunca se tornou um sucesso.

Para quem for ao Sesi apenas por nostalgia ou para a garotada que nem sabe direito o que The Dark Side Of The Moon, o clássico do Pink Floyd, a dica é a emsma: o negócio é ir com o mesmo espírito da banda – despretensioso.

Quem sabe você não ouve uma versão de “Tomorrow Never Knows”, um megaclássico dos Beatles, que ganhou do Violeta uma versão inspirada e completamente laid back. Ou ainda “Declínio de Maio”, um rock tristonho, arrastado, que tem um riff grudento e lindo de guitarra?

Portanto, hoje à noite, deixe o Red Bull na geladeira e vá lesar com o Violeta.