10 LONGOS ANOS SEM ITAMAR ASSUMPÇÃO OU EU ACHO QUE VOU VIRAR ISCA DE POLÍCIA (2013)

Pra Itamar (Tony Lopes)
Bendito Itamar
Por que mares estas a navegar?
Tenho dito, Benedito
Digo, bendito Itamar
Que o mundo eh infinito
E em algum lugar vais ancorar
E de maldito, nego dito
Eu te digo beleleu
Não vale o grito
Que agora ecoa no céu
Eu não julgo
O teu vulgo
Que são múltiplos
E bem mais que meros rótulos
E pros que não entendem
E nem puderam te decifrar
Deixo a dica, nego dito
Cascavel.
 
A boa palavra de Luiz Tatit encontra o ritmo de Itamar
(Lauro Lisboa Garcia)
 
Parceria inédita dos dois ícones da ‘vanguarda paulistana’ está em "Ouvidos Uni-vos", terceiro CD-solo de Tatit
 
São Paulo. 18 jan. / 2006 - O bendito Itamar Assumpção (1949-2003) continua a dar repercussão. Só em 2005, Ney Matogrosso popularizou a sublime Canto em Qualquer Canto e Zélia Duncan gravou quatro canções dele (duas inéditas), emplacando o hit Vi, não Vivi. Com isso, finalmente Itamar tocou no rádio. Com Dor Elegante, também na voz de Zélia, quem diria, ele chegou à TV, na trilha da novela Belíssima. Mais três inéditas do compositor aparecem no terceiro CD-solo de Luiz Tatit, "Ouvidos Uni-vos" (Dabliú), no relançado "Ná", de Ná Ozzetti, tendo Só te Ver como faixa bônus e no segundo da banda DonaZica. Tatit também entregou a Ná várias canções que fez com Itamar e que devem ser gravadas por ela.
 
Além da inédita Dodói, composta pelos dois ícones da chamada ‘vanguarda paulistana’, Tatit homenageia Itamar com Rock de Breque, em que brinca com o estilo do parceiro. Foi de um verso dessa canção, de sonoro jogo de palavras, que ele extraiu o título do CD, que também serviu de mote para o projeto gráfico. É uma convocação procedente e oportuna não só sobre Itamar: “Todos nós, independentes, precisamos desse apelo, já que a nossa música não é muito difundida”, diz Tatit.
 
"Ouvidos Uni-vos" reúne canções compostas por ele nos últimos quatro anos, mas, apesar de fechar um ciclo e o álbum anterior se chamar "O Meio" (2000), este não completa uma trilogia, como se divulgou. É apenas a conseqüência natural de uma série. “Jamais houve a intenção de fazer uma trilogia”, confirma o compositor. Tatit também não organiza o repertório de forma conceitual. “Para mim, são canções individuais, que acabam tendo uma certa unidade por causa dos arranjos”, diz. E também pela própria característica de composição narrativa de Tatit. Só em Felicidade (1997) havia uma determinação prévia: “Como (o produtor) Costa Netto pediu para eu gravar Felicidade, acabei fazendo canções que tivessem esse mote.”
 
Desta vez, Tatit ampliou o número de parceiros. Além de José Miguel Wisnik, Ricardo Breim (que apareceram no CD anterior) e Itamar, ele divide canções com Dante Ozzetti, Chico Saraiva e Edward Lopes. No mais, ele simplesmente mantém-se coerente ao tratar a canção como uma extensão da fala. Usa poucos instrumentos nos arranjos, o que valoriza a palavra canto-falada. É de seu estilo jogar luz sobre situações até corriqueiras, mas com uma visão particular, precisa, nunca óbvia e geralmente impregnada de bom humor. A delicada Tietê até parece canção infantil, só que manda ver: “Rio do mal/ Nem bem entrou na cidade/ Virou marginal.”
 
 
 
 
 
Morre Itamar Assumpção, aos 53 anos
(Marco Antonio Barbosa*)
 
Compositor símbolo da vanguarda paulista faleceu vitima de câncer, em São Paulo, e deixa uma obra única na MPB
 
 
 
13 jun. / 2003. Depois de uma batalha de mais de quatro anos contra um câncer no intestino, morreu na noite de ontem (quinta, dia 12) o compositor e cantor Itamar Assumpção. O Nego Dito, um dos grandes nomes da vanguarda paulista, tinha 53 anos e faleceu em casa, acompanhado apenas pela esposa. Itamar vinha se tratando no Hospital do Câncer de São Paulo mas nos últimos tempos tinha abdicado de submeter-se à quimioterapia por estar, segundo amigos próximos, fraco demais. O corpo do compositor foi enterrado na tarde de hoje no cemitério Jardim das Colinas, na cidade de São Bernardo do Campo (ABC Paulista).
A doença vinha minando a carreira de Itamar desde 1999, ano da primeira crise grave de saúde do compositor. No ano anterior, Assumpção tinha lançado aquele que seria seu último disco, Pretobrás - Por que eu não Pensei Nisso Antes... , pela Atração Discos. Em setembro de 2000, submeteu-se à primeira cirurgia para tentar eliminar o tumor intestinal, que, aparentemente, tinha dado resultado. Apesar da batalha contra o câncer, o compositor não ficou inativo. Preparava o segundo volume da série Pretobrás, em parceria com Naná Vasconcellos (que seria uma trilogia), e tinha planos de lançar seu primeiro livro.
Taxado muitas vezes de "maldito" e incompreendido por aqueles que buscavam categorizações fáceis para sua música, Francisco José Itamar de Assumpção nasceu em Tietê (SP), no dia 13 de setembro de 1949. Acabou formando o núcleo da hoje famigerada vanguarda paulista ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Vânia Bastos e grupos como o Rumo e Premê. Baseado, como os outros citados, no Teatro Lira Paulistana, no começo dos anos 80, Itamar construiu uma obra interessantissima e que desafiava rótulos. Não se encaixava na MPB tradicional, por atirar no mesmo saco samba, elementos pop e influências da black music e da música africana. Também não era encarado como "poeta sério", por suas letras irreverentes, recheadas de irônicas observações sobre o cotidiano urbano. Adicione a isso arranjos complexos e cheios de referências e citações polirrítimicas, e tem-se uma música rica em conteúdo, mas de difícil acepção comercial. Entretanto, "maldito" era uma pecha que o cantor não fazia questão alguma de envergar.
Para complicar mais, Itamar manteve-se (nem sempre por vontade própria, diga-se) no mercado independente, numa época em que ser indie era estar relegado ao abandono da mídia. A trilogia de álbuns que inaugurou sua carreira solo nos anos 80 (Beleléu, Leléu, Eu , gravado em 1980 com a Banda Isca de Polícia; Às Próprias Custas S/A, ao vivo de 1983 e Sampa Midnight - Isso Não Vai Ficar Assim, de 1986) saiu pela gravadora paulistana Baratos Afins, para deleite dos poucos que conseguiram ouvir os vinis na época. Ao assinar com a gravadora Continental em 1988, intitulou ironicamente sua estréia em um grande selo como Intercontinental! ! Quem Diria! Era Só o que Faltava...
Enquanto a vanguarda paulista virava história, Itamar não se domesticava. Apenas assumia facetas menos iconoclastas. Conseguiu lançar três volumes da série Bicho de Sete Cabeças (em dois volumes: I e II , gravada com o grupo vocal feminino Orquídeas do Brasil, e reecontrava a tradição (mas com olhar crítico) ao regravar a obra de Ataulfo Alves em Pra Sempre Agora (1996). Seu último momento de glória foi justamente ao recuperar-se da cirurgia que fez em 2000, quando foi o convidado de honra de um show em sua homenagem que reuniu boa parte de seus contemporâneos (Arrigo, Ná Ozzetti, Tetê Espindola) e alguns artistas influenciados por sua música (Cássia Eller, Zelia Duncan, Chico Cesar), no Sesc Pompéia (SP).
 
*http://www.cliquemusic.com.br
* Texto originalmente publicado em Rock a música do século XX - Volume 2. Editora Rio Gráfica, 1983.
 
 
 

itamar

   Pra Itamar (Tony Lopes)
 
   Bendito Itamar
   Por que mares estas a navegar?
   Tenho dito, Benedito
   Digo, bendito Itamar
   Que o mundo eh infinito
   E em algum lugar vais ancorar
   E de maldito, nego dito
   Eu te digo beleleu
   Não vale o grito
   Que agora ecoa no céu
   Eu não julgo
   O teu vulgo
   Que são múltiplos
   E bem mais que meros rótulos
   E pros que não entendem
   E nem puderam te decifrar
   Deixo a dica, nego dito
   Cascavel.
 
   Segunda foto: Itamar Assumpção e também cantor e compositor.
   "A foto é de 27 de julho, dia do meu aniversário" César de PaulaTeatro Nacional (DF) 1996
 
 
   A boa palavra de Luiz Tatit encontra o ritmo de Itamar
   (Lauro Lisboa Garcia)
 
 
   Parceria inédita dos dois ícones da ‘vanguarda paulistana’ está em "Ouvidos Uni-vos", terceiro CD-solo de Tatit
 
   São Paulo. 18 jan. / 2006 - O bendito Itamar Assumpção (1949-2003) continua a dar repercussão. Só em 2005, Ney Matogrosso popularizou a sublime Canto em Qualquer Canto e Zélia Duncan gravou quatro canções dele (duas inéditas), emplacando o hit Vi, não Vivi. Com isso, finalmente Itamar tocou no rádio. Com Dor Elegante, também na voz de Zélia, quem diria, ele chegou à TV, na trilha da novela Belíssima. Mais três inéditas do compositor aparecem no terceiro CD-solo de Luiz Tatit, "Ouvidos Uni-vos" (Dabliú), no relançado "Ná", de Ná Ozzetti, tendo Só te Ver como faixa bônus e no segundo da banda DonaZica. Tatit também entregou a Ná várias canções que fez com Itamar e que devem ser gravadas por ela.
 
   Além da inédita Dodói, composta pelos dois ícones da chamada ‘vanguarda paulistana’, Tatit homenageia Itamar com Rock de Breque, em que brinca com o estilo do parceiro. Foi de um verso dessa canção, de sonoro jogo de palavras, que ele extraiu o título do CD, que também serviu de mote para o projeto gráfico. É uma convocação procedente e oportuna não só sobre Itamar: “Todos nós, independentes, precisamos desse apelo, já que a nossa música não é muito difundida”, diz Tatit.
 
"Ouvidos Uni-vos" reúne canções compostas por ele nos últimos quatro anos, mas, apesar de fechar um ciclo e o álbum anterior se chamar "O Meio" (2000), este não completa uma trilogia, como se divulgou. É apenas a conseqüência natural de uma série. “Jamais houve a intenção de fazer uma trilogia”, confirma o compositor. Tatit também não organiza o repertório de forma conceitual. “Para mim, são canções individuais, que acabam tendo uma certa unidade por causa dos arranjos”, diz. E também pela própria característica de composição narrativa de Tatit. Só em Felicidade (1997) havia uma determinação prévia: “Como (o produtor) Costa Netto pediu para eu gravar Felicidade, acabei fazendo canções que tivessem esse mote.”
 
Desta vez, Tatit ampliou o número de parceiros. Além de José Miguel Wisnik, Ricardo Breim (que apareceram no CD anterior) e Itamar, ele divide canções com Dante Ozzetti, Chico Saraiva e Edward Lopes. No mais, ele simplesmente mantém-se coerente ao tratar a canção como uma extensão da fala. Usa poucos instrumentos nos arranjos, o que valoriza a palavra canto-falada. É de seu estilo jogar luz sobre situações até corriqueiras, mas com uma visão particular, precisa, nunca óbvia e geralmente impregnada de bom humor. A delicada Tietê até parece canção infantil, só que manda ver: “Rio do mal/ Nem bem entrou na cidade/ Virou marginal.”
 
 itamar2   * Recorte da encadernada Rock a música do século XX - Volume 2. Editora Rio Gráfica, 1983.
   Morre Itamar Assumpção, aos 53 anos
   (Marco Antonio Barbosa*)
 
   Compositor símbolo da vanguarda paulista faleceu vitima de câncer, em São Paulo, e deixa uma obra única na MPB
 
    13 jun. / 2003. Depois de uma batalha de mais de quatro anos contra um câncer no intestino, morreu na noite de ontem (quinta, dia 12) o compositor e cantor Itamar Assumpção. O Nego Dito, um dos grandes nomes da vanguarda paulista, tinha 53 anos e faleceu em casa, acompanhado apenas pela esposa. Itamar vinha se tratando no Hospital do Câncer de São Paulo mas nos últimos tempos tinha abdicado de submeter-se à quimioterapia por estar, segundo amigos próximos, fraco demais. O corpo do compositor foi enterrado na tarde de hoje no cemitério Jardim das Colinas, na cidade de São Bernardo do Campo (ABC Paulista).
   A doença vinha minando a carreira de Itamar desde 1999, ano da primeira crise grave de saúde do compositor. No ano anterior, Assumpção tinha lançado aquele que seria seu último disco, Pretobrás - Por que eu não Pensei Nisso Antes... , pela Atração Discos. Em setembro de 2000, submeteu-se à primeira cirurgia para tentar eliminar o tumor intestinal, que, aparentemente, tinha dado resultado. Apesar da batalha contra o câncer, o compositor não ficou inativo.    Preparava o segundo volume da série Pretobrás, em parceria com Naná Vasconcellos (que seria uma trilogia), e tinha planos de lançar seu primeiro livro.
Taxado muitas vezes de "maldito" e incompreendido por aqueles que buscavam categorizações fáceis para sua música, Francisco José Itamar de Assumpção nasceu em Tietê (SP), no dia 13 de setembro de 1949. Acabou formando o núcleo da hoje famigerada vanguarda paulista ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Vânia Bastos e grupos como o Rumo e Premê. Baseado, como os outros citados, no Teatro Lira Paulistana, no começo dos anos 80, Itamar construiu uma obra interessantissima e que desafiava rótulos.
   Não se encaixava na MPB tradicional, por atirar no mesmo saco samba, elementos pop e influências da black music e da música africana. Também não era encarado como "poeta sério", por suas letras irreverentes, recheadas de irônicas observações sobre o cotidiano urbano. Adicione a isso arranjos complexos e cheios de referências e citações polirrítimicas, e tem-se uma música rica em conteúdo, mas de difícil acepção comercial. Entretanto, "maldito" era uma pecha que o cantor não fazia questão alguma de envergar.

Para complicar mais, Itamar manteve-se (nem sempre por vontade própria, diga-se) no mercado independente, numa época em que ser indie era estar relegado ao abandono da mídia. A trilogia de álbuns que inaugurou sua carreira solo nos anos 80 (Beleléu, Leléu, Eu , gravado em 1980 com a Banda Isca de Polícia; Às Próprias Custas S/A, ao vivo de 1983 e Sampa Midnight - Isso Não Vai Ficar Assim, de 1986) saiu pela gravadora paulistana Baratos Afins, para deleite dos poucos que conseguiram ouvir os vinis na época.
Ao assinar com a gravadora Continental em 1988, intitulou ironicamente sua estréia em um grande selo como Intercontinental! ! Quem Diria! Era Só o que Faltava...
Enquanto a vanguarda paulista virava história, Itamar não se domesticava. Apenas assumia facetas menos iconoclastas. Conseguiu lançar três volumes da série Bicho de Sete Cabeças (em dois volumes: I e II , gravada com o grupo vocal feminino Orquídeas do Brasil, e reecontrava a tradição (mas com olhar crítico) ao regravar a obra de Ataulfo Alves em Pra Sempre Agora (1996). Seu último momento de glória foi justamente ao recuperar-se da cirurgia que fez em 2000, quando foi o convidado de honra de um show em sua homenagem que reuniu boa parte de seus contemporâneos (Arrigo, Ná Ozzetti, Tetê Espindola) e alguns artistas influenciados por sua música (Cássia Eller, Zelia Duncan, Chico Cesar), no Sesc Pompéia (SP).
 
*http://www.cliquemusic.com.br