O livro inédito do Mel da Terra é o verdadeiro achado sobre o Rock Brasília

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"Isso só foi pra deixar a peteca cair um só segundo, O Mel mesclou baladas, rocks, frevos, deixando a mocidade com água na boca, com os pés em bolhas, com o coração em brasa. Um alô: O Mel começou a tocar nos concertos da 311, e foi crescendo, principalmente pela prática de shows nos mais diversos pontos da capital, e adjacências. Essa é uma receita boa para todos os grupos de música, teatro, dança, que querem ser mais que um tijolinho na página de serviço dos jornais do pedaço. O Mel malhou um rock esperto, com arranjos simples e originais. O mel do melhor. Vida longa a essa tropa, que encanta e seus males espanta!"

Livro Cabeças, de Néio Lúcio e Kido Guerra

 

Mel da Terra: a coragem de crescer

Texto: Mário Pazcheco

Fim da década de 70, aurora dos anos 80. Espalham-se festivais de música por colégios particulares e públicos pelas satélites de Brasília.
No Guará, na praça comunitária da QE 4, acontece o “Primeiro Encontro de Músicos do Guará”. A sigla EMG inspira a óbvia paródia fascista “encontro de maconheiros”. Sucesso de público, o festival  foi expandido para o Teatro de Arena do Cave. Fazia parte da essência do festival a participação de músicos amadores da cidade satélite. Lincoln, violonista do Grupo Essência, produzia o som de palco, onde o Mel da Terra pisou, e foi nosso primeiro contato. O primeiro EMG era acústico. Em realizações posteriores, ficará mais pesado, com a participação de bandas de hard rock cantando em português, material próprio. Fusão, Extremo.
Nossa Geração, nascida em 64, é personagem do livro Mel da Terra/Diário de uma banda de rock de Brasília.
Uma excelente reportagem de memória musical, que cobre o período de 1978 a 1982.

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Guitarra in concert, só no “Ginga Brasil” – com o 14 Bis e o instrumental do Ponte Aérea

Novos caminhos e horizontes são apresentados pelo pessoal da UVA, e quase sempre aconteciam com  as apresentações do quinteto Mel da Terra.
Hoje tem show do Mel!! Avisa!!! 
Narcisa Oliveira. E lá seguia  nosso séquito...  É incrível saber hoje que assistimos à banda nas mágicas apresentações de 1981, no Rock Cerrado e no Ginga Brasil, e inclusive o efusivo batismo do guitarrista Haroldinho Matos, que pisava no palco para tocar com a banda pela primeira vez.

Aconteciam festivais diferentes, como o Hare Krishna, com suporte musical variado de percussão e muita gente colorida. Ao dichavar, impregnava-se o ar com o aroma doce da erva.
Esses são retratos que vão perdurar pela nossa vida toda, como aconteceu em Penny Lane.
O som ao vivo do Mel da Terra fluía em corrente. Ligava os cérebros em comunhão. Consagrava o estilo jovem de pegar carona e ir para longe, para se pegar à natureza.
Nossa índole era para longos rolés alternativos de ‘camelo’ (bicicleta), ou em motos, para acampamentos, igual às visitas que fazíamos à maravilhosa queda do Poço Azul.
Os deveres civis estavam no pacote, jurar a bandeira, começar o terceiro grau  a eterna dívida aos nossos esforçados formadores e educadores, que entenderam a nossa necessidade de expressão.
Escrever sobre a  Música Popular de Brasília é desafiador. Este tema cai dos ares no original inédito Mel da Terra/Diário de uma banda de rock de Brasília, escrito por Paulo Maciel Tôrres, que nos faz mergulhar naquela vida que vivemos e em seguida correr atrás de velhos manuais, recortes de jornal, as parcas fotos pessoais, queridas lembranças...

Na Escola Parque 308 Sul - 1982
"Tocamos as três primeiras músicas e o teatro parecia que ia desabar. Todo mundo dançando e cantando com a gente. Quando começamos a tocar Estrela Cadente, me bateu um sentimento muito forte, algo me dizia que dali em diante seria tudo diferente, algo mudaria para sempre a minha vida e da banda. O público cantou em coro a música inteira, eu mal conseguia colocar os dedos nas notas certas; comecei a chorar muito no palco. O Sérgio olhava para mim com uma cara espantada, tentando descobrir o que o se passava. Pedia para eu segurar a barra, mas não dava, era uma emoção muito grande ver todas aquelas pessoas cantando minha música. Eu estava realizando um sonho, e ele estava bem ali a minha frente."

Trecho de Mel da Terra/Diário de uma banda de Rock de Brasília, livro inédito de Paulo Maciel Tôrres, baixista da banda

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Mel da Terra/Diário de uma banda de rock de Brasília é um relato corajoso, e necessário. Quem sabe ele defina o rumo de novas publicações sobre arte e cultura em Brasília nos últimos 30 anos!
A inocência é o fio condutor da narrativa espelhada na tensão familiar da nossa geração. O corte epistemológico é um feliz retrato da multidão num período cronológico mágico, 1978 a 1982!
A maioria dos livros de rock escritos no Brasil versam sobre interesses  narrados por vários pares de olhos e mãos.
Nesta literatura rock, feita de coragem e excessos, o termo tour de force pode ser corretamente utilizado.

Hoje, aos 48 anos, vejo com outros olhos, novos olhos, o problema das drogas que dizimou boa parte dos talentos da nossa geração e também da que a antecedeu, dos ídolos dos anos 60.

Por atualidade e necessidade, destaca-se o último capítulo, que aborda livremente a questão das drogas sem o circunloquialismo e a caretice conservadora, tão frequentes quando se a trata, mas de modo a relatar a lenta agonia que rola, em que a luz interior do artista brilha... e revela... justo em cima do palco... que ele tem que partir, que deve tomar outros desafios, que será finalmente bem sucedido.

Paulo Maciel participou de toda a história do Mel da Terra, do começo ao fim, até 1984. O livro cobre a trajetória até o Mel da Terra ir para São Paulo gravar o disco.

Em 2011-2012, a formação original do Mel da Terra, com uma vertente progressista, abrilhantou o Ferrock e O Cabeças Especial, e também gravou novo disco.


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O grupo de jazz Artimanha ensaia no Rádio Center
Rênio nos teclados, Toninho Maia na guitarra...

Rênio Quintas pelo facebook
A esclarecedora entrevista do maestro Rênio Quintas pode gerar polêmicas, mas também jogar luzes, após 30 anos da formação do fenômeno rock Brasília. Todos podemos nos contaminar com os termos da mídia, e nos esquecermos das referências iniciais.

Você vendeu algum instrumento para o Mel da Terra, no início da carreira deles?
Sim. Um baixo Diamond preto; meu xodó!
80 dólares?
Na verdade, nem me lembro "véia"; acho que tinha uma gambira no meio...
Você tocava nele?
Toquei nele, claro. Eu era baixista, violonista e pianista de todas as bandas em que toquei! Época anterior à Banda Porão, antes do Cafofo.
Gianinni?
Era.
Já no inicio da carreira do Renato Matos, ele era conhecido como cantor de reggae?
Sim, já tinha uma veia reggeira, sim. Mas não era exclusivamente reggae, não! Viajava com uma levada meio funk, já uma mistura. Na verdade, era um garoto compositor da Bahia, que chegou na city. Na época, tinha um guitarrista da pesada, você se lembra dele, o Ari Mendes? Eles se juntaram e fizeram a Banda Grande Circular!
Ari Mendes = Ney Matogrosso?
Exato, depois ele foi com o Ney...

Aristides

Aristides Marques Mendes

Pra falta de grana
Um concerto beleza
Cabeças não me
sai da cabeça


"Dando prosseguimento à solenidade, entrou um andarilho cantando Quampérius; entraram os poetas cantando suas musas; entrou o Renato cantando uma música. Renato e a toda-poderosa Banda Grande Circular, em traje de gala. Vai tocar bem assim em Liverpool, em Cuba, no Gama. Absolutamente soberba, com seu naipe de metais, digno das melhores orquestras do Caribe. Aristides derretendo a guitarra torta fez a plateia uivar em TabaUm telefone é muito pouco. Enfim, uma tremenda banda profissional numa terra de amadores. Dar seguimento é fundamental, marujada!"

Chacal - matéria publicada no Correio Braziliense de 9 dez. / 1980 - quando o Brasil acordou de um pesadelo John Lennon havia sido assassinado a poucas horas


Um recorte, nós mais novos, que não conhecíamos os punks na intimidade, nos referíamos a eles como "punks do Lago"; o pessoal do Plano Piloto chamava os punks de "punks de butique"?
A gente na real não chamava de punks de nada, não tínhamos esse olhar de rótulos, a gente era muito livre.
Punks da capital?
Na boa, "véia", eram os garotos do rock'n'roll pra nós.
Nossa sala no Edifício Rádio Center era a central. Passaram por lá Legião, Plebe, Capital, aqueles negões do Vida é alegria vida é prazer vida é a luz do dia... Obina Shock!
Nós fizemos som pra XXX, Escola de Escândalo e Finis Africae.
Mesmo no Plano Piloto, os músicos não tinham como comprar roupas em butiques, e as roupas dos punks eram compradas em butiques e massacradas, por isto, músicos de Brasília da sua geração se referiam a eles como "punkde butique"...
Que tchurma! Eu me lembro disso, mas quem viajava nessa não eram músicos, eram jornalistas de moda. Pra nós, eram os meninos do rock'n'roll; não eram nem do Ska nem do Punk nem do Reggae. A gente era uma tribo só naquela nau artimanhosa.
Tocaram juntos punks mpbsb e heavies?
Sim todos juntos nas festas, Legião Urbana e Artimanha e Renato Matos na casa do Marcelo Mexicano, nas quebradas do Marcão Adrenalina e nos Clubes da Cidade. Com exceção dos milicos Cresspom e Pandiá, a gente dividia com os grupos de baile. Tocávamos de segunda a segunda.
Me lembro que em 1982 já era assim, shows punksshows heavies...
Instrumental com rock'n'roll – reggae. Heavy Metal é uma tribo muito fechada, era eles que não se misturavam.
Os punks tinham a cultura do reggae...
Mas tinha alguns componentes que tocavam com a gente. Punks passavam pelo Ska. Eram mais nervosos pro reggae puro.

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À-Tentativa no pátio do Correio Braziliense
Foto: Wilson Pedrosa

Como era o À-Tentativa?
Era espetacular. Música À-Tentativa: Gato, Nonato Veras, Zé Miguel, vixe, era tanta gente. Acho que além do Nonato, tinha mais gente do Liga Tripa na música da cidade...
Pode ter algumas impropriedades de memória, mas dá esse desconto...!
Quebra tudo pero sin perder la ternura jamás!:-) e manda NOTA, de Bala, estamos cheios...

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