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"Essa música é um recado para aqueles que causam a dor a alguém e que com o mal de uma sociedade ele se beneficia... retribuímos com a mesma DOR que nos causam... TODA DOR PRA VCS!!!"

mfl

EM EXPOSIÇÃO NO Centro Cultural Banco do Brasil - telefone (61) 3108 7600

Cinema Urgente Brasileiro - Mfl / 17ª Mostra do Filme Livre  + 200 Filmes Debates Curso de Cinema
24 abril a 20 maio de 2018 para saber o horário: MOSTRALIVRE.COM

Jean-Michel BASQUIAT Obras da Coleção Mugrabi
21 abr > 1 jul 2018 / terça a domingo, 9h às 21h

 25 abr. / 2018 - Assisti aos 5:50 do novo videoclipe da Durangos DA América: "Corrida do Ouro" evidentemente reluz no resultado a luta e a limitação da grana mas não limita a criatividade e a paixão. De certa maneira, "Corrida do Ouro" narra a história da capital e seus conflitos, no final, o narrador da história é sacrificado, nada mais do que o relato de um filho candango nessa saga. O som é hard heavy clássico, o figurino e a guitarra estão em acordo. E o melhor é que eles mesmos vivem seus filmes e dispensam dublês e atores globais que é o que a maioria gostaria. Valeu, moçada!

Irmão Victor no Facebook

Então, me deu na telha de escrever um relato sobre algumas das delícias e castigos de ser músico de rua, coisa que comecei faz pouco pra tirar uma graninha aqui em Floripa.
Hoje saí de casa com meu amplificador, meu saxofone e meu violão, junto do meu querido Murilo Mattei, que também grava suas músicas e que me deu um auxílio pra levar as coisas pra rua. Saindo do prédio, a vizinha:
– Não me diz que vocês vão *pedir moeda*...
– Não peço. Quem quer dar dinheiro, dá.
– Hmmmmmm...em Paris tem muito disso...músico de rua, né...
Paris...
Um cara que toca no norte da ilha já tinha me alertado:
– É bom tocar quando tá nublado: madame acha que tá na Europa.
Fomos até a movimentada Felipe Schmidt, aqui no centro da cidade. Toquei nessa rua por uns dias até que o pessoal das lojas ao redor provavelmente se enojou dos meus barulhinhos e arrancou a tomada que eu usava.
Faz parte. Antes de arrancarem, eles taparam a tomada com fita adesiva. Um violonista uruguaio convenientemente chamado Yamandu veio em meu socorro aquele dia: arrancou a fita e enfiou meu amplificador na tomada:
– Toca. O pessoal do prédio aqui da frente que se foda. O dono da lojinha ali, um careca filho da puta que tá sempre de terno, faz de tudo pra boicotar a gente. Se faz de desentendido e mete pau.
Obedeci, mesmo um tanto constrangido quando o dito aparecia na janela, me encarando. Baixei um pouco o volume, fiquei na bem equilibrada diplomacia.
Mas agora não preciso mais de tomada nenhuma, com meu amplificadorzinho com bateria. Independência. Costurava todo o centro com meus instrumentos atrás de uma loja que me emprestasse uma mísera tomada. Sonho. Quando alguma cedia, eu voltava no dia seguinte e outros gerentes, com outras políticas, me barravam, com maior ou menor desprezo. Essa ciranda dos gerentes e das suas valiosas tomadinhas me deu nos nervos e mandaram minhas costas pras cucúias.
De qualquer forma, hoje eu mal tinha deixado tudo preparadinho e antes mesmo de tocar me jogaram umas moedas na caixa do sax. Uma senhora, moradora de rua toda esfarrapada que jogou, me olhou duro e foi dormir na frente de uma livraria. Depois veio um homem magríssimo, simpático. Esperou eu acabar a música e elogiou. O elogio foi virando uma autobiografia com bastante rapidez. Isso sempre rola: a quantidade de gente que anda pra cima e pra baixo no centro, querendo bater um papo é assombrosa, e muitos veem no músico tocando ali na rua alguém apropriado para conversar. Fato que o cara dormia no terminal de ônibus, ia para São Paulo hoje, não sabia se voltava, não sabia pra onde ir depois.
–Tu é de Passo Fundo? Vocês estão espalhados por tudo! Sempre gente interessante que nem você. – ele falou com um forte sotaque castelhano. "Gente interessante". Passo Fundo só tem maluco planejando exôdo: é notório.
Depois me mandei pra outra rua, tocar perto de um Mcdonalds e uma Magazine Luiza – os famigerados gerentes na porta, me olhando torto. Subi no murinho do Palácio Cruz e Sousa e fiquei tocando. Meu público cativo era uma guria esperando sabe-se-lá-o-que na frente do banco, com sua filha, um bebê de laço cor de rosa. As crianças são o melhor público, disparado, não têm pressa nem medo de dar uma dançadinha. Te olham fundo no olho, fazem corpo duro e os pais têm que arrastar pela mãozinha, seguir o dia. Compromissos...
Depois fui tocar na frente da Catedral da praça XV. Algumas pessoas entregando panfletos para liberarem o Lula, outras pegavam e amassavam, se exaltavam, bem à moda Brasil 2018. Bate boca estourando cada 10 minutos. Quando eu ia começar apareceu um velhinho com um microfone estragado e uma caixa de sapatos, segurando umas florezinhas amarelas. Era o que se costuma chamar de um louco. Desses tipos se vê muito quando se toca na rua. Quando as horas passam e o dinheiro não vem, rola até uma espécie de identificação mútua. Afinal, aqui não é Paris.
Depois de fazer um sinal da cruz fervoroso, o homem das flores amarelas começou a cantar, bastante bem até, "Não deixe o samba morrer". Berrava, dançava, completamente entregue. Acabou e bateu palmas orgulhosas para si mesmo. Da escadaria, um cara gritou:
– Canta um Roberto Carlos!
Ato contínuo ele canta aquela da namoradinha de um amigo meu. O pessoal dos panfletos se diverte, acha graça. Mais um pedido:
– Manda um Tim Maia!
– Você gosta de chocolate? – foi a resposta – Eu amo chocolate. Chocolate chocolate CHOCOLATE CHOCOLATE.
Quem viu ficou meio assustado, foi seguir a vida. Ele veio até mim, preocupado que estava cantando muito alto e não me deixava tocar. Insistiu pra eu começar. Toquei minhas coisinhas. Minha performance não era nada comparada com a dele, digo isso com toda seriedade. Toquei mal.
Ele adorou, dançou por toda a escadaria, parando às vezes para fazer o sinal da cruz. Quando acabei, veio aplaudindo e me disse:
– Eu gosto de cantar. Tenho dinheiro pra comprar meu café, comer, comprar um perfuminho. E deu! Eu poderia ser um grande jogador de futebol se eu quisesse. Andar de carrão. Rico. Mas daí eu não ia estar cantando aqui na frente da igreja, não é verdade?
E é.

manas

Quo de Suco Verde

por Isabelle Prado

Tinha o Manas burguer né, um lugar onde o sanduiche vinha pingando de óleo, e os mesmos não tem nome. Não existe um "x-frangão", "x-tudo"... era só "14", "8"...

Eai eu vi uma mulher dando batata frita pra um bebê de uns 3-4 meses.
Quando chegou meu hamburguer número 7, que tinha quase tudo que os outros, porque na verdade a grande mistura de ingredientes + aqueles molhos maravilhosos que ficam o dia todo fora da geladeira... é que faziam a mágica no meu estômago.

Eu vi um cara bem magro, tão magro que pensei que o sanduiche dele que ia comer ele. Ele besuntou aquele hamburgão com muito catchup e maionese, e quando mordeu caiu tudo na blusa da Sete Mares dele. Mas não era isso. Enquanto ele comia, dava pausas pra fumar um cigarro que tinha cara de ser bem barato. Acho que era pra ajudar na digestão.

Olhei para o lado, e dessa vez a mãe dava coca-cola pro bebê. Acho que era pra fazer digestão também.

Enquanto isso, eu continuava a comer bem devagar. Tava chovendo, então valia a pena aproveitar cada cena da noite.

O cara que fritava os hambúrgueres era o mesmo que recebia o dinheiro, o mesmo que servia as mesas e não usava luvas, e o mesmo que ria com o amigo que comentava o jogo, era uma quarta- feira.
Meu sanduiche estava ótimo.
Perguntei pra ele como fazia aquele molho verde e ele disse "ele mesmo fazia" e era só pegar várias coisas verdes e saudáveis e misturar com maionese no liquidificador, que era "tipo um suco verde" mas invés de água de coco ele colocava maionese.
Eu disse que tudo bem porque maionese eram apenas ovos e óleo batidos e que ovos eram saudáveis. O óleo era consequência do prazer.
Terminei meu hambúrguer, pedi uma coca-cola e ascendi meu cigarro... era bom pra digestão.