REEDIÇÕES CLÁSSICAS OU 'TUPANZINE FEELINGS' NO CENTENÁRIO DO ZINE MAIS SEM ESCRÚPULOS DO PAÍS

Tupanzine feelings

por Ricardo Tubá

8 abr. / 2014 - Diz a lenda que o vocalista da banda OZ chegou de surpresa no natal de 93 na sua casa e além de ter comido juntamente com integrantes da banda, todo o pernil que seu pai preparou e ainda pegou emprestado o vinil doolittle do Pixies e nunca mais devolveu, no mesmo ano que os skinheads negros do Guará o espancaram no lord dim juntamente com os irmãos low dream . até que ponto esses episódios fortaleceram a união do May Speed para compor novas canções e ser objeto de culto das cidades satélites e conseguir fãs até de Aguas lindas, município mais violento do entorno de Brasília.

É impossível resistir ao pernil de natal lá de casa, um clássico até hoje. A cena musical de Brasília na época era sustentada pelo pessoal das satélites, digo, o plano tinha as bandas, mas grande parte do público era das satélites, que topava enfrentar mais de uma hora num busão da Pioneira ou VIPLAN tendo o dinheiro contado para comprar duas doses de pinga e as vezes a passagem de volta. Este show no Lord Jim Pub com os skinheads negros foi um marco: OZ, Low Dream e Sunburst tocando em um porão do Guará, tudo organizado pelo Retz um cara que merecia filme: pixador nos anos 80, produtor de festivais nos 90 e fundador do museu do vinil em 00 além de ter no currículo o fato de ter passeado com o David Bowie na Av. Paulista.

Segundo Rubens 500, o maior fã da May Speed em Brasília, ele chegou a montar um fã clube da banda no Cruzeiro com ex-góticos do templo do Gama fundado pela lenda viva do rock de Brasília, Boscox - o auge do May Speed foi numa famosa troca de farpas com a Low Dream, que já tinham lançado 5 clips na MTV, dois CDs gravados pela gravadora do Dado Villa Lobos, já eram considerados por zines de São Paulo e do sul do país como o My Bloody Valentine brasileiro e ainda foram elogiados pelo Renato Russo, duas semanas antes de morrer, enquanto a May Speed tinha uma demo mal gravado em quatro canais no banheiro da casa do Cesinha Legião. Como vocês conseguiram rivalizar mesmo com todas essas diferenças e ainda enfrentando o preconceito dos playboys do Plano Piloto contra os proletários do Guará?

O diferencial foi o Guará, que era o catalisador da cena local, possibilitando grandes contatos para o May Speed, todo mundo passava pela QI 6 conjunto N do Guará 1: fãs de Drum N Bass e Big Beat do Miqra, militares da aeronautica que se fantasiavam de Robert Smith nas horas de folga, poetas beat defensores da integridade do Morrissey, membros da Universal, fãs de Deep Purple, góticos do ritual do fogo com laranja. Vi muita gente chegar com um pacote de 10 fitas virgens e pedir desesperadamente para o Tubá gravar coisas como o Loveless MBV, Ride, Slowdive, show pirata do Legião Urbana e Rupaul. Fora os contatos pelo resto do Brasil e exterior. Tipo o gringo que mandava VHS com vídeos da MTV america e da Sub Pop recebendo em troca gravações das dançarinas do Faustão. Ou os primórdios do Midsummer Madness com o Lariu enviando demos via correio e emplacando uma banda pior que a outra. Um moleque de 14 anos lá de SP, um tal de Gilberto Custódio que escrevia resenhas sobre bandas que deviam ser escutadas acompanhadas de uma xícara de chocolate quente? Aliás os zineiros eram um caso a parte: Tinha o pessoal do Cabrunco, era sensacional pois cobriam toda a cena do Nordeste. O Ricardo Spencer que virou diretor de videoclipes escrevia para reclamar das ofensas desferidas ao Pavement. Brincando de Deus, que foi eleita melhor banda nacional de 1994 pelo zine. Alê do Pinups pedindo para que o zine parasse com as fotos de mulher pelada. A Paula Aryna, uma lenda da cena indie, que ligava para pessoas de todo o Brasil para discutir a realidade da cena. Um tal de Fábio Bianchini estudante de comunicação e shoegazer convicto. Bruno Privatti, o carioca guru da cena dos fanzines na época.

introducao

No primeiro dia de abril de 2017 estivemos juntos - A cara do Tupanzine é a cara do domingo, abri a janela e minutos depois o cancioneiro do vizinho da outra margem do córrego invadiu o recinto. Será um domingo terrível. O vizinho é completamente insano, ele começa no sábado e segue no domingo até depois do futebol, e incomoda a todos, matem ele. O cara do Tupanzine, Ricardo Tubá estava alto, falando das portas na cara da mídia que o rock indie deu e que merda são alguns caras dessas bandas de Brasília que são cultuadas no país. Dizem que eu estava puto com fulano porque falou mal da Plebe Rude, eu não conheço os Plebeus, o que não significa nada mas sempre surge alguém para falar da etiqueta do guitarrista - já insisti que não falaria de terceiros na ausência deles... Aniversário de Marlon e Sheila, aniversário de Sheila e Marlon - nós da rádio Zoom Music levamos um coquetel de cuba libre e os copos descartáveis se espalharam pelas mãos. Tomei um susto quando cheguei pois achei que havia mais de uma centena de pessoas ainda bem que vieram só os carros as pessoas ficaram e foi muito bom, especialmente os amigos do Marlon e mais uma vez a prometida pelada/golzinho ficou recheada de craques na intenção - vamos ver se a bola rola. Júlio 'Junky' apareceu e desapareceu para assistir a apresentação da Estamira. Tupanzine trará 4 bandas indies para tocar  no quintal do Guará, eu ofereci a Barbarella. Será uma clássica noite de rock indie com o apoio da revista de sacanagens Tupanzine. Ricardo Retz convoca a nação para o debate amanhã do grupo social no whatsapp: Bandalheiras - nesta segunda-feira. Os amigos que defendem a cena e escrevem manifestos se esquecem que Brasília é uma cidade sem rockeiros.  (Mário Pazcheco)