10 POEMAS DE JIM MORRISON TRADUZIDOS PELO REI LAGARTO (2020)

UMA DEZENA DE POEMAS DE MORRISON, TRADUZIDOS PELO REI LAGARTO (RJ)

  

Poder

O Mundo Em Chamas

O Filme

Petrificação Imaculada

Despertar dos Recém-Nascidos

 

 
Um Festim de Amigos

Lamento

Hora da Mágica

Canção Fantasma

A Liberdade Existe 

 


PODER

Eu posso fazer a terra parar em
suas trilhas. Eu fiz os
carros azuis irem embora.
Eu posso me tornar invisível ou pequeno.
Eu posso me tornar gigantesco e alcançar as
coisas mais distantes. Eu posso mudar
o curso da natureza.
Eu posso me colocar em qualquer lugar
espaço ou tempo.
Eu posso invocar os mortos.
Eu posso perceber eventos em outros mundos,
na minha mente interior mais profunda,
e na mente dos outros.
Eu posso.
Eu sou. 

 

O MUNDO EM CHAMAS

O mundo em chamas...
Táxi da África...
O Grand Hotel...
Ele estava bêbado
uma grande festa na noite passada
de volta voltando
em todas as direções
dormindo nessas horas insanas.
Eu nunca vou acordar
de bom humor novamente.
Estou farto dessas botas fedorentas. 

 

O FILME

O filme começará em cinco momentos.
Anunciou a voz amente
Todos aqueles sem assento aguardarão o próximo show.
Preenchemos devagar, languidamente o saguão.
O auditório era vasto e silencioso
À medida que sentávamos e escurecíamos, a voz continuou
O programa desta noite não é novo.
Vocês já viram essa atração repetidas vezes.
Vocês viram seu nascimento, sua vida e morte.
Vocês podem se lembrar de todo o resto.
Você teve um bom mundo quando morreu?
O suficiente para basear um filme?
Estou saindo daqui.
Onde você vai?
Para o outro lado da manhã.
Por favor, não persiga nuvens, templos.
Sua boceta o agarrou como uma mão quente e amigável
Está tudo bem, todos os seus amigos estão aqui.
Quando posso encontrá-los?
Depois que estiver alimentado.
Eu não estou com fome.
Uh, queríamos dizer espancado.
Fluxo de prata, grito prateado
Oooooh, concentração impossível.

 

PETRIFICAÇÃO IMACULADA

Eu vou te dizer isso...
Nenhuma recompensa eterna nos perdoará agora.
Por desperdiçar o amanhecer.
Naqueles dias, tudo era mais simples e mais confuso.
Uma noite de verão, indo para o píer.
Encontrei duas meninas.
A loura se chamava Liberdade.
A morena, Iniciativa.
Nós conversamos e elas me contaram essa história.
Agora ouça isso...
Vou falar sobre a Rádio Texas e a grande batida.
Conduzida suavemente, lenta e louca.
Como uma nova linguagem.
Alcançando sua cabeça com a fúria repentina e fria de um mensageiro divino.
Deixe-me falar sobre mágoa e a perda de Deus.
Vagando, vagando na noite sem esperança.
Aqui no perímetro não há estrelas.
Aqui estamos petrificados.
Imaculados.

 

DESPERTAR DOS RECÉM-NASCIDOS

 Delicadamente eles se mexem, gentilmente se levantam.
Os mortos estão despertando recém-nascidos.
Com membros esfolados e almas molhadas.
Delicadamente, suspiram extasiados com espanto funeral.
Quem chamou esses mortos para dançar?
A jovem estava aprendendo a tocar a música fantasma no seu bebê grandioso?
Foram as crianças selvagens?
Era o próprio deus fantasma, gaguejando, torcendo, tagarelando cegamente?
Eu te chamei para ungir a terra.
Liguei para você para anunciar a tristeza caindo como pele queimada.
Liguei para você para te desejar tudo de bom.
Gloriar-te como um novo monstro.
E agora te chamo para orar.

 

UM FESTIM DE AMIGOS

Uau, estou farto de dúvida
Vivo à luz da certeza
Sul
Laços cruéis.
Os servos têm o poder
homens-cães e suas mulheres mesquinhas
puxando cobertores pobres sobre
nossos marinheiros
(E onde você estava na nossa hora de descanso)
Ordenhando o bigode
ou moendo uma flor?
Estou farto de rostos severos
Me encarando pela TV
Torre, eu quero rosas em
meu mirante de jardim; sacou?
Bebês nobres, rubis
devem substituir agora os abortados
Estranhos na lama
Esses mutantes, refeição de sangue
para a planta que é lavrada.
Eles estão esperando para nos levar para
o jardim cortado
Você sabe quão pálida e lascivamente emocionante
chega a morte numa hora estranha
sem aviso prévio, sem planejamento
como uma convidada assustadora e amigável que você
trouxe para a cama
A morte faz anjos de todos nós
e nos dá asas
onde tínhamos ombros
suaves como as garras
de um corvo
Chega de dinheiro, chega de roupas chiques
Este outro reino parece de longe o melhor
até outra mandíbula revelar incesto
e pouca obediência a uma lei vegetal.
Eu não irei
Prefiro um festim de amigos
Para a Família Gigante.

 

LAMENTO

Lamento pelo meu pau
Dolorido e crucificado
Eu procuro te conhecer
Adquirindo a sabedoria da alma
Você pode abrir paredes de mistério
Stripshow
Como adquirir a morte no programa da manhã
Morte na TV que a criança absorve
O mistério da consciência fatal que me faz escrever
Trem lento, a morte do meu pau dá vida
Perdoe os pobres idosos que nos deram entrada
Que nos ensinaram deus na reza pueril à noite
Guitarrista
Sátiro Antigo Sábio
Cante sua ode ao meu pau
Acaricie seu lamento
Endureça e nos guie, congelamos
Células perdidas
Conhecimento do câncer
Para falar ao coração
E dê o grande presente
Palavras Poder Transe
Este amigo estável e a besta do seu zoológico
Pintinhos de cabelos selvagens
Mulheres que florescem em seu cume
Monstros de pele
Cada cor se conecta
para criar o barco
que embala a corrida
Poderia algum inferno ser mais horrível
Do que agora
e real?
Eu pressionei sua coxa e a morte sorriu
Morte, velha amiga
A morte e meu pau são o mundo
Eu posso perdoar meus ferimentos em nome de
Sabedoria Luxúria Romance
Sentença após sentença
As palavras são o lamento da cura
Para a morte do espírito do meu pau
Não têm sentido no fogo suave
As palavras me feriram e me curaram
Se você acreditar nisso
Todos se juntem agora e lamentem a morte do meu pau
Uma língua de conhecimento na noite de penas
Garotos ficam loucos da cabeça e sofrem
Eu sacrifico meu pau no altar do silêncio

 

HORA DA MÁGICA

Zombaria residente
nos dê uma hora para mágica
Nós de luva roxa
Nós de voo de estorninho
e hora de veludo
Nós da raça do prazer árabe
Nós do domo do sol e da noite
Dê-nos um credo
Para acreditar
Uma Noite de luxúria
Confie em nós
A Noite
Dê cor
Centenas de tons
uma mandala rica
Pra mim e pra você
E para sua sedosa
casa almofadada
Uma cabeça, sabedoria
E uma cama
Decreto conturbado
A Zombaria residente
te reivindicou.
Costumávamos acreditar.
Nos bons velhos tempos.
Ainda recebemos em
pequenos caminhos.
As Coisas da Bondade
Uma sobrancelha antidesportiva
Esqueça e permita.

 

CANÇÃO FANTASMA

Acordado.
Sacuda sonhos do seu cabelo
Minha linda criança, minha querida.
Escolha o dia e escolha o sinal do seu dia
A divindade dos dias
Primeira coisa que você vê.
Uma vasta praia radiante numa lua fresca de jóias
Casais nus correm em sua margem calma
E rimos como crianças macias e loucas
Presunçosas nos cérebros de algodão lanosos da infância
A música e as vozes estão à nossa volta.
Escolha, eles cantarolam os antigos
Chegou a hora novamente
Escolha agora, eles cantarolam
Debaixo da lua
Ao lado de um lago antigo
Entre novamente na floresta doce
Entre no sonho quente
Venha conosco.
Tudo está quebrado e dança.

 

A LIBERDADE EXISTE

Você sabia que a liberdade existe
Nos livros escolares
Você sabia que loucos estão
Dirigindo nossas prisões
Dentro de uma prisão, dentro de um cárcere
Dentro de um branco protestante livre
Redemoinho
Estamos empoleirados de cabeça
À beira do tédio
Estamos alcançando a morte
No final de uma vela
Estamos tentando algo
Que já nos encontrou.

 

JIM MORRISON CULTUADO NO GUARÁ
por: mário pazcheco

“Sabes que não seria verdade / Sabes que seria um mentiroso / Se tivesse que te dizer / Não podíamos ir mais além”

(“Light my fire”)

De volta, Pamela cruzou os céus do Atlântico. Na escala em São Paulo, o homem do alicate vazou a capa do disco.

No fim do conjunto C, Rubens me mostrou o álbum-duplo que acabara de ganhar de presente vindo dos Estados Unidos. O disco tinha odor almiscarado. Era uma capa fotográfica, cinematográfica, encerada. Desde aquela tarde, passei a sonhar com Absolutely Live. Pamela disse a Rubens que era um disco “com os poemas mais bonitos de todos os tempos”.

“Café da manhã, quando se leem as notícias / meninos da televisão alimentam-se /
futuras vidas, vivas, mortas / a bala atinge a cabeça sob o capacete”.

Maio de 1991 - Pré-estreia do filme The Doors, de Oliver Stone. Ganhei ingressos na rádio; disseram bastava chegar à bilheteria e falar seu nome. No Fusca, fomos eu, Joel, Eli e Zé. Não entrego quem carregava a garrafa escura de Dreher 900ml. Chegamos ao Cine Brasília às 10h da manhã!

“Meu nome é Mário, eu queria as cortesias!”, “Não, não tem cortesia!”. A típica porta na cara: “Senhora, quem é o produtor da festa? O responsável pela distribuição do filme? Estou aqui com meus amigos e não vou ficar do lado de fora.” Dito isto, ouviu-se, seco e súbito: “Podem entrar”. Éramos fãs Th’os Doors, do tipo daqueles que dançam ao redor de velas.

Trilha das festas

“Vamos nadar até a lua / Vamos içados na maré
Penetremos na noite em que a cidade para ocultar-se dorme".
(“Moonlight drive”)

A trilha da festa de Tom Zen eram os discos esgotados The Doors in Concert e o The Best Of. Na UVA, dançava-se o avassalador “Roadhouse Blues” tocado pelo Status Quo: “É praticamente impossível não beber quando se escuta Doors, ao menos pra mim, porque é o hedonismo do rock sessentista. Os Doors têm aquela veia dark do Velvet Underground, dos Stooges, da Nico, e obviamente do Blues que faz sentir um gosto escuro tocando e cantando “The End” ou até mesmo “Soul Kitchen”, que já é mais dançante...” (David Kaus)

Depois, numa caixa d'água no alto de um bloco a 36 metros de altura, esperavamos o sol chegar.

A nova música psicodélica brasiliense

Eram 20 anos que o poeta-esteta ascendera ao palco dos céus. Na sua ausência, nenhuma, outra estrela na ativa marcou tanto o rock guaraense quanto Jim Morrison, o líder dos míticos The Doors.

De Nova York, Danny trouxe uma fantástica fita VHS de Dance on Fire. Agora sabíamos de cor os clipes coloridos que tanto os livros e as telas de cinema exibiam. Víamos o ídolo – vivo – em ação.

Mauricio Melo declamava os versos em edição portuguesa. Marcelo cantava poética niilista no Política do Êxtase, Dagoberto gesticulava, criava mascaradas ao microfone da Trappus e Farrapus.

Rumores de Garagem, Os Poortas, Psicodélico Azul, Lusbell, Juca Sequela, Terno Elétrico, Os Mamutes; Farrapo Joe; Submundo Stewart.     

“A figura do Jim Morrison é um deleite para o vocalista de Rock, e até pros que não gostam dele, porque essa é uma visão de concordância: ele era inteligente, bonito, destemido, e transpassou o Rock, ele emana o que o espírito humano deveria ser. Sem contar os arranjos do Ray Manzarek, com pitadas de clássico e cabaré, o blues flamenco psicodélico do Robby Krieger e a batera que beira o rock, mas ainda se alicerça no blues e no jazz de John Densmore. E The Doors pra improvisar no violão ou na guitarra ou no vocal ou na vida é muito natural... Tocar e cantar e escutar e ler The Doors é um gozo da Alma, implorando pra se tornar do Corpo.” (David Kaus)