Buraco de rato

Buraco de rato

Por Fabio da Silva Barbosa

 

Era apenas mais um final de tarde de calor intenso pela cidade. Trabalhadores corriam atrasados como baratas envenenadas. Menores infratores e mendigos transitavam observando supostas presas. Alguns punks se reuniam na esquina, enquanto contavam moedas para comprar uma garrafa de qualquer coisa e argumentavam sobre o show da banda de noise que se apresentaria naquela noite. Universitários sentavam nos bares para debater sobre algum ilustre intelectual morto com sua insípida lógica acadêmica, ao som de Chico Buarque e outros nomes da MPB. Enquanto isso, Pedro levava sua namorada, conhecida como Boceta de Vaca, a um motel barato das redondezas. Chegando lá, começaram a se agarrar como dois lutadores de sumô.        

No meio da mistura de salivas, seus corpos despencaram sobre a cama. O estrado rangeu e as mãos começaram a explorar todos os cantos dos corpos. Peças de roupas eram atiradas a esmo. Os seios se espalharam ao se verem livres do sutiã, exibindo as enormes “calotas”. Tirando as botas da menina, Pedro apreciou um pouco seus pés e caiu de boca no dedão atrofiado da “donzela”, enquanto aspirava seu agradável odor. A língua foi deslizando pela sola do pé, causando frenesis no corpo branco e flácido de Boceta de Vaca. Continuou alimentando o banho de gato até chegar à virilha cabeluda de sua amada.  O suor temperou toda aquela carne em que se deliciava sem pudor. Continuou o passeio linguístico Até chegar às axilas, onde ficou um tempo a mais entre beijos e lambidas. Adorava axilas. Principalmente as maus raspadas como aquela.

Boceta de vaca já agarrava o membro do namorado com força entre seus dedos dos pés, mostrando suas habilidades. Nesse momento, Pedro chupava os dedos de sua mão. Algumas buzinas tentavam trazer o engarrafamento e tudo o mais do desinteressante mundo exterior para aquela cama. Pedro agradeceu a Satanás por aquele momento sublime, em que não precisava compartilhar da rotina dos demais seres tidos como humanos. Passou a mão pela vagina de sua companheira sentindo o enorme grelo e confirmando o porque do infame apelido ao enfiar seu dedo na genitália mais que dilatada. Ela já estava em “ponto de bala”. Já estava mais que encharcada. Pensou em voltar para entre as pernas e sentir um pouco do sabor de todo aquele smegma, mas ela o surpreendeu e rolou se pondo por cima. Segurou o “pau” com violência e caiu de boca sem dó nem piedade.

O ar condicionado só fazia barulho e os corpos se dissolviam. Ela sentou no membro incandescente largando um suspiro doloroso. Aranhas e traças assistiam a tudo de cantos escondidos. Várias posições alegraram os coitos que se seguiram. Aquela sagrada sensação de que nada importa transbordava. O inimaginável era permitido sem precisar pedir licença. Antes de voltarem para o mundo, tomaram um banho e Boceta de Vaca pediu um minuto para esvaziar o intestino. Ao sentar no vaso, uma enorme ratazana que vinha pelo esgoto entrou pelo cu da “madame”. Ela sentiu uma dor lancinante. Pedro se assustou com o grito.

— Tudo certo aí? – perguntou com o ouvido encostado na porta. Só a idéia de ver a namorada cagando o deixava excitadíssimo.

— Acho que hoje você caprichou. Estou arrebentada.

Os dias se passaram e nada mais saía pelo “rabo” da coitada. Sua barriga começou a inchar e dores terríveis assaltavam-na por todo o momento. Procuraram um médico e durante o ultrasson visualizaram o invasor.

— A senhora está grávida. – Declarou o decrépito doutor.

— Grávida?! – Assombraram-se sem entender.

 — Mas a criança apresenta estranhas deformações e parece estar fora do útero. É algo tão bizarro que posso garantir nunca ter visto.

Aquilo já era demais. Não tardaram a decidir pelo aborto.

Na semana seguinte as dores causadas pela prisão de ventre e pelo roedor se alimentando de seu intestino não a deixavam mais andar. Pedro chegou abatido.

— Está aqui a solução. Tome esses comprimidos e nos livraremos desse pequeno infeliz. Não precisamos da burocracia hospitalar para resolver nossos problemas.

Boceta de vaca pôde perceber a incerteza na voz de Pedro.

— É o melhor mesmo, não é? Às vezes penso que você está concordando com isso apenas porque não desejo esse monstrinho.

— Estou vendo o que ele está causando a você. Isso não é uma gravidez normal. Já transei com uma garota que teve um filho meu uma vez e não foi assim. Isso que está acontecendo não é normal. Ele está vivo fora do útero.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA...

As contrações aumentaram. O grande acúmulo de fezes já expulsava a ratazana com toda a pressão possível. Pedro deixou os comprimidos caírem.              

— Puta merda. A cabeça do desgraçado já está saindo. E é como o médico falou. É uma aberração. Mas espera. Ele tá saindo pelo seu cu.

A menina já estava roxa quando o animal foi expelido, acompanhado por um jato de bosta e sangue. Pedro correu e pegou a vassoura que repousava no canto da quitinete de Boceta. O animal estava gigantesco, como se tivesse passado por algum tipo de mutação intra-intestinal. Correu para uma quina e se pôs de pé. Pedro o seguiu com a vassoura pronta para o ataque.

— Você pode ser meu filho, mas...

  As mãos fraquejaram soltando a vassoura.

 Ah... meu deus. O que estou fazendo? O monstro aqui sou eu.  Caindo de joelhos estendeu

os braços.  Como posso ser assim... Tão egoísta.

A ratazana o olhou por algum tempo e correu para a janela, que pulou depois de uma rápida escalada. Pedro entrou em desespero e se jogou em seguida, tentando salvar seu rebento. Enquanto seu crânio explodia na avenida, Boceta de Vaca se via as voltas com a agonia do último suspiro. A ratazana correu para o lado oposto e entrou em um bueiro. No dia seguinte os jornais lucravam com as manchetes sobre um acontecimento macabro em uma quitinete do subúrbio. O calor continuava impossível e os carros buzinavam com trabalhadores apressados correndo entre eles.

 

 

Estou enviando em anexo alguns contos meus para uma galera que acho que vão curtir.

Alguns deles podem ser encontrados no livro "UM ANO DE BERRO —365 DIAS DE FÚRIA", que saiu pela Editora Independente, de Brasília ( http://www.editoraindependente.com.br/index.php?option=com_booklibrary&task=view&id=15&catid=24&Itemid=53). Os que não estão lá podem ser encontrados em meu blog www.rebococaido.blogspot.com

Boa leitura a todos Fabio da Silva Barbosa