Quando os Led Zeppelins sobrevoavam a Terra

John Paul Jones cantando no Led Zeppelin?

A eterna voz do Led Zeppelin, o vocalista Robert Plant teria supostamente revelado algumas raridades da ex-banda, incluindo duas faixas com o baixista John Paul Jones nos vocais, e que podem vir a aparecer numa série de vindouros relançamentos em ‘boxed sets’.

“Eu achei algumas fitas de um quarto de polegada recentemente”, disse Plant, “E tive uma reunião com Jimmy [Page], e nós as ouvimos, e há alguns trechos muito, muito interessantes que provavelmente aparecerão nesses discos, eu estou tentando desesperadamente achar essa faixa – ou as duas faixas de John Paul Jones cantando. E até agora ele já me ofereceu dois carros e uma estufa de plantas pra que elas não apareçam em disco. Ah, John, onde quer que você esteja.. você mal pode esperar pra ouvir a si próprio cantando por todo o mundo! La la la la la la la...” por Del Nacho from whiplash

Fonte: Led Zeppelin: Plant fala de inéditas que devem sair nos remasters http://whiplash.net/materias/news_822/190620-ledzeppelin.html#ixzz2iU9F9tiy 

 

 

O Amanhecer do Agora, o primeiro capítulo de Led Zeppelin – Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra

Você é Jimmy Page. Estamos no verão de 1968 e você é um dos mais conhecidos guitarristas de Londres – e um dos menos famosos. Mesmo os dois últimos anos com os Yardbirds não lhe trouxeram o reconhecimento que você sabe que merece. As pessoas falam dos Yardbirds como se Jeff Beck ainda fosse o guitarrista, e não você, apesar de tudo o que fez por eles; desistindo das apresentações de dinheiro fácil que compraram sua casa perto do rio; dando a eles uma última volta no carrossel com sucessos de linha de frente como Happening Ten Years Time Ago, mesmo com Mickie Most sugando a vida deles e obrigando-os a fazer bobagens como Ha Ha Said the Clown; ficando com eles enquanto desapareciam de vista, junto com sua própria autoestima. Eles ainda significam algo nos Estados Unidos, pouca coisa, mas em casa estão acabados. E qual é o sentido de vagar pelos Estados Unidos, eles e a outra meia dúzia de conjuntos num único pacote, ganhando menos em uma semana do que você em uma única apresentação, quando ninguém sabe seu nome nem quanto você é importante para o esquema todo?

Jeff Beck? Jeff é um velho camarada, mas quem foi que o recomendou? Quem lhe fez o favor quando ele estava lá em cima? Você – Jimmy Page. Aquele que rejeitou os Yardbirds depois que Clapton saiu, não porque tivesse medo, como Eric, de que o desejo de alcançar o estrelato arruinasse sua imagem de “purista do blues” – você nunca foi um desses, seu amor pelo folk, rock’n’roll, jazz, música clássica, indiana, irlandesa, qualquer coisa e tudo, significava que você sempre sentiu pena daqueles pobres coitados que só conseguiam gostar de uma forma de música – mas porque secretamente você tremia com a perspectiva de percorrer os pubs e clubes do país, sacolejando na traseira de uma van de merda como já fizera antes com Neil Christian and the Crusaders, acabando por ficar tão doente que não conseguiu sair da cama durante três dias. Sem poder sequer ganhar o pão com isso. Coisa para um bando de soldados.

E então você recomendou seu velho camarada Jeff, que estava sem fazer nada. E ficou assistindo enquanto os Yardbirds com Beck decolavam como um foguete... For Your Love, Heart Full of Soul, Shapes of Things, um sucesso atrás do outro… Logo depois, você também foi parar nos Yardbirds. Não era para durar, e você nunca prometeu nada, mas tinha de admitir que estava tudo bem. Mesmo que fosse apenas para dar uma força até eles encontrarem alguém para substituir Samwell-Smith, fazendo o baixo vibrar como uma risada, o som era bom. Quando eles sugeriram colocar Chris no baixo, com você e Jeff na guitarra, não deu para acreditar! Você ficou imaginando por quanto tempo Jeff conseguiria lidar com isso, mas enquanto durou foi realmente muito bom. Não só o som – você e Jeff sempre tocaram bem juntos –, mas o astral, o cenário. Parecia um presságio quando você viu que estava agendado para aparecer com eles no filme de Antonioni, "Blow Up". Tudo de que precisava era fazer de conta que estava tocando em um clube, descarregar a energia, uma grande gargalhada. Apesar de Jeff ter resmungado quando o velho diretor lhe pediu para destruir sua guitarra. Ele teve de fazer isso seis vezes,  fingindo ser Pete Townshend, antes de o velho italiano ficar feliz. Por Deus, ele resmungou! Mas você não conseguia parar de rir.

Então ele saiu. Jeff Beck, o grande herói da guitarra que não tinha disciplina alguma, brilhante numa noite, menos na outra; o chamado gato  cool que não conseguia compor uma canção original para salvar sua vida  e que tinha liquidado tudo para Mickie Most e seus sucessos prontos. Jeff  é um camarada e você não gosta de falar mal dele, mas até Jeff sabe que Hi Ho Silver Lining era um monte de bobagens velhas; todo mundo sabe  que era um monte de bobagens velhas. No entanto, lá estava ela assim que ele deixou os Yardbirds, cortesia de Mickie, nas paradas e nas discotecas,  no rádio e sendo dançada por todas as garotas de pernas finas e minisssaia no Top of the Pops.

Bem, bom para Jeff Beck, mas e quanto a você, Jimmy Page? O que vai fazer agora que Jeff foi cuidar das suas coisas e os Yardbirds estão finalmente acabando? Você não sabe. Ou melhor, sabe, mas só instintivamente. Você ainda não tem a prova, mas a resposta – você tem praticamente certeza – está em pegar os Yardbirds e fazer algo a partir deles, pegar seu rock’n’roll gasto e a chamada experimentação – seus truques – e  transformá-los em algo muito mais deliberado; algo que o faça arfar, não  apenas suspirar, algo para concorrer realmente com Hendrix e o Cream e  os Stones e os malditos Beatles. Que realmente mostre ao mundo quem é quem e o que é o quê.

Mas você também tem receio de perder o pouco de fama que conquistou, por menor que seja. A maioria das pessoas pode pensar que Jeff Beck  ainda é o guitarrista dos Yardbirds, mas pelo menos ouviu falar dos Yardbirds. Quem ouviu falar de Jimmy Page, além dos produtores e dos chefões das gravadoras, dos varredores e das lindas recepcionistas dos estúdios? Além de todos os guitarristas que você substituiu nas sessões ao longo dos anos – o cara do Them. O cara do Herman’s Hermits, os inúmeros outros de cujo rosto você não se lembra mais e que de qualquer maneira nunca reconheceriam o que você fez por eles, que nunca agradeceram...  Pelo menos você sabe onde está. Autoconfiante, bem de vida, acostumado a depender apenas de si mesmo, sempre foi alguém que sabia exatamente onde estava, mesmo quando era garoto e tocava nas sessões para os mais velhos como Val Doonican. Sempre andou de cabeça erguida, sempre soube qual era o seu valor mesmo quando os outros o minimizavam, mandando você para a sessão seguinte – às vezes três em um único  dia, seis dias por semana, sem que você soubesse o que lhe pediriam para tocar em seguida, ganhando um bom dinheiro, sem correr os riscos – e nenhuma glória, também, quando dava certo.

Agora é sua vez de brilhar. Você está com 24 anos, é um profissional de gravação calejado que sabe tudo sobre o trabalho em estúdio, pegando as dicas de produtores famosos como Shel Talmy e Mickie Most, tocando com outros profissionais de estúdio como Big Jim Sullivan e Bobby Graham, dividindo um cigarro nos intervalos, conversando a respeito, cruzando caminhos inúmeras vezes ao longo dos anos como gatos pretos da sorte. Agora você quer fazer algo para si mesmo. Sempre quis. Chegou a hora. Algo grande, como Eric com o Cream – só que melhor. Como Jeff com Rod Stewart e Ronnie Wood – só que melhor. Como George Harrison e Brian Jones com suas cítaras da Índia, apesar de você ter sido o primeiro – só que muito, muito melhor, espere e verá.

Primeiro, porém, precisa juntar as peças, encontrar os cantos do quebra-cabeça. Os anos em que trabalhou nos bastidores – no escuro, um pistoleiro contratado, fazendo o que lhe mandavam, olhando e ouvindo e assimilando, dividindo um cigarro e rindo às escondidas –, aprendendo mais do que apenas tocar. Você sabe onde colocar os microfones. “A distância dá profundidade”, como gostavam de dizer os veteranos. Você agora sabe como operar a mesa, o que faz com que os grupos sejam bons e que os grupos bons fiquem melhores. Sabe que não basta saber tocar, do contrário havia muito tempo seria uma estrela. Também aprendeu algumas coisas a respeito do negócio. Reconhece o valor de um nome e de uma boa gravadora por trás de você, os caras certos de terno. E para isso sabe que vai precisar de ajuda. Mas você está começando com vantagem. Os Yardbirds ainda tem um nome – só isso –, e você não vai abrir mão disso. Ainda não. Primeiro deve ter certeza; tem de ser preciso; seu timing, como profissional, terá de ser perfeito, você sabe disso.

O problema é que o tempo está se esgotando. Só 24 anos, mas a música já está andando sem você. Você não diria isso em voz alta, mas sabe que é verdade. O Cream já está chegando ao fim e você sente que nem começou. Para todo mundo, Hendrix é o deus da guitarra, mas você ainda nem mostrou o que é capaz de fazer, não teve a oportunidade, além das sessões de gravação e dos estúdios esfumaçados e das bandas desmoronando por dentro, perdidas em algum lugar na estrada americana, só contando os dias até surgir algo melhor. O tempo está se esgotando e, apesar de nunca ter dito isso em voz alta, você está começando a pensar se não teria perdido o maldito barco; se não tomar cuidado, terá de voltar para as sessões de gravação. “Virar uma daquelas pessoas que odeio”, como você diz aos amigos.

A última turnê dos Yardbirds termina em Montgomery, no Alabama, com a apresentação nos Speedway Fairgrounds, um dia depois de Bobby Kennedy ter sido assassinado em Los Angeles. Vocês veem na televisão do hotel e todos fazem “óó” e balançam a cabeça e acendem mais cigarros. Mas isso não significa nada para você em comparação com a dissolução do grupo. Em meados de junho você está de novo em casa, na casa perto do rio, em Pangborne – uma casa vitoriana junto ao Tâmisa, a cerca de 40 quilômetros de Londres, com um daqueles ancoradouros no porão, não que você tenha um barco –, imaginando que diabos vai fazer agora.

Felizmente, você tem uma carta escondida na manga; alguém que sabe o que você pode fazer, quem você é e o que poderia se tornar, e que compartilha com você a determinação de fazer algo, de tirar o coelho da cartola: Peter Grant. “G”. O gigante supersensível que coadministra os Yardbirds com Mickie e que te manteve em segurança durante todas as viagens, especialmente naquela terrível última turnê pelos Estados Unidos, quando Keith Relf estava saindo dos trilhos, ficando bêbado no palco todas as noites e apenas Chris Dreja ainda parecia interessado em manter as coisas de pé. G, que sentou no carro ao seu lado, preso no trânsito da Shaftesbury Avenue, poucos dias depois de voltarem dos EUA, ambos sabendo que a banda tinha acabado, falando do que iam fazer agora. G, que senta e te ouve dizer finalmente, com a voz tranquila, educada, o que você vinha pensando em segredo durante todo esse tempo, falando finalmente em voz alta: que você acha que pode pegar o grupo e fazer melhor, colocar novos membros, compor novas músicas, fazer melhor.

Led Zeppelin – Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra
Autor: Mick Wall
Editora: Larousse do Brasil
Págs: 550
Preço: R$ 99
Tradução: Elvira Serapicos

 

 

Confira mais um trecho da biografia sobre o Led Zeppelin


Canhões! - capítulo 6

Depois de incitar o cão a fazer cunilíngua na garota colocando pedaços de bacon frito na vagina dela, Cole pôs Bonham, completamente bêbado, no lugar do cachorro. Cole depois diria ao escritor Stephen Davies: “Então, Bonzo estava lá transando com a mulher, e juro que ele me perguntou: ‘E aí, como estou?’ Eu disse que ele estava ótimo. Daí Grant entrou com uma lata enorme de baked beans e despejou-a em cima de Bonzo e da garota. Depois abriu uma garrafa de champanhe e despejou-a sobre os dois”.

Essas diversões barulhentas são típicas de músicos de rock entediados com a estrada e longe de casa. Enquanto um Bonzo nu era coberto por feijão frio, Jimmy Page estava em seu quarto sendo fotografado enquanto outra groupie famosa, a GTO Miss Cinderella, fingia comer vísceras espalhadas sobre seu corpo. Anos depois, entretanto, a lembrança desses incidentes acrescentaria várias camadas ao mito Led Zeppelin. Na verdade, Elvis e os Beatles tinham feito coisas bem piores muito tempo antes de o Led desembarcar nos EUA. Em meados dos anos 1950, muito antes da chamada revolução sexual, um membro da máfia de Memphis, Lamar Fike, disse à Mojo: “Elvis via mais bundas do que o assento da privada. Seis garotas no quarto de cada vez... quando saíamos era preciso chamar a Guarda Nacional para limpar o lugar”. Ou, como contou depois John Lennon a Jann Wenner, a respeito das aventuras dos Beatles na estrada: “Pense em Satíricon [filme de Fellini]. Onde quer que estivéssemos, havia sempre alguma coisa acontecendo. Os quartos dos hotéis estavam constantemente cheios de malucos e putas e sabe lá mais o quê”.

Mesmo que o público continuasse a ignorar esses absurdos, a fantasia do astro de rock vivendo uma vida de abandono hedonista como se fosse algo a que tinha direito já se firmara; ideia fortalecida por imagens provocativas como a de um quarto cheio de mulheres nuas na foto da capa do álbum de Hendrix, Electric Ladyland, ou a famosa foto da bacanal dos Stones tirada por Michael Joseph para a o álbum Beggars Banquet, ambos lançados no final de 1968. O público que agora comprava os álbuns não era nada inocente e assistia a filmes como Blow Out, Easy Rider e, depois, Performance, Woodstock, Zabriskie Point, e até os filmes dos últimos dias dos Beatles, como Yellow Submarine, bastante influenciado pelo ácido, e Let It Be, com sua ambientação que refletia claramente a nova consciência de sexo e drogas, evidente em todos os aspectos da experiência do rock nos anos 1960.

As GTOs eram uma meia dúzia de groupies amigas que ficaram famosas com o patrocínio de Frank Zappa, que teve a ideia de transformá- las em um grupo de verdade que gravaria para seu próprio selo independente, apropriadamente chamado Bizarre Records. Havia Miss Cinderella, Miss Christine, Miss Pamela, Miss Mercy e Miss Lucy (mais, em épocas diferentes, Miss Sandra e/ou Sparky). Elas apareceram no palco em vários shows do Mothers of Invention como dançarinas e/ou vocalistas de fundo. Como lembraria depois Alice Cooper, outro músico notável do selo de Zappa, em sua autobiografia Me, Alice: “As GTOs eram mais um evento de mídia do que de música. As pessoas só se divertiam com elas. Era uma viagem estar com elas...”

Até um libertino desavergonhado como Cole reconhecia que as groupies desempenhavam um papel importante para o bem-estar das bandas que trabalhavam nos Estados Unidos no final dos anos 1960. “Acho que você nunca encontrará um músico inglês que fale mal dessas garotas chamadas de groupies, porque não eram vadias ou prostitutas ou algo assim. Elas livraram minha cara muitas vezes, porque não é fácil lidar com moleques de 20 anos que estão longe de casa. Essas garotas tomavam conta deles e eram como uma segunda casa. Você podia confiar nelas. Não te roubavam.” Não era só em Los Angeles ou Nova York que as tribos se reuniam. “Havia algumas delas”, Plant lembra com um sorriso. “Miss Murphy, The Butter Queen, Little Rock Connie, do Arkansas. Algumas ainda estão por aí – mas agora são professoras e advogadas.”

Não havia groupie mais famosa em Los Angeles, em 1969, do que a bela GTO Pamela Ann Miller, conhecida como Miss Pamela ou Pamela Des Barres (como passou a se chamar em meados dos anos 1970 depois de se casar com o cantor de rock Michael Des Barres). Miss P, como também era conhecida, cuidava da turma de Zappa, fazia blusas para seus namorados e, como ela disse, “era romântica demais para uma noite apenas”. Se estivesse com você, era “para toda a turnê – pelo menos localmente”.

Lembrada por Alice Cooper como “uma garota de sorriso aberto parecida com Ginger Rogers”, tinha o cabelo loiro, um sorriso infantil e muitas sardas; Miss Pamela era a epítome da California girl cantada pelos Beach Boys. Apesar de estar com apenas 20 anos, já tinha uma longa história de envolvimento com estrelas do rock antes de conhecer Jimmy Page, incluindo Darryl De Loach, cantor do Iron Butterfly, Jim Morrison, Noel Redding, do Jimi Hendrix Experience, Chris Hillman, dos Byrds, e o ator/cantor Brandon de Wilde. Ela também já estivera com o Jeff Beck Group.

Quando o Led voltou a Los Angeles para se apresentar novamente no Whisky A Go Go em 29 de abril, Miss Pamela estava lá. Ela depois lembrou como sua amiga e groupie de Chicago, Cynthia Plaster Caster (das Plastercasters of Chicago, grupo famoso por moldar os pênis dos astros do rock em gesso), a avisou de que “a música era fantástica, mas eles eram realmente perigosos, seria melhor ficar longe deles”. Mas ela foi de qualquer jeito, com a GTO Miss Mercy. Page parecia frágil e indefeso, ela pensou, “como Sarah Bernhardt”, e ela se sentiu instantaneamente atraída pela postura “tímida, quase feminina” do guitarrista; em seu livro de memórias, I’m With the Band, ela se lembra de Page usando um terno de veludo rosa no palco, “seus longos cachos pretos empapados de suor... No final da música ele caiu no chão e saiu carregado por dois roadies...”

Depois do show houve uma festa no Thee Charming Experience, onde Miss Pamela avistou o Led “enchendo a cara na mesa mais escura do fundo”. Ela se sentiu “muito orgulhosa por não os conhecer” ao ver Richard Cole “carregando uma garota de cabeça para baixo, os saltos flutuando no ar, a calça girando em torno do tornozelo. A cara dele estava enfiada na virilha da moça e ela estava agarrada aos joelhos dele, a boca aberta num grito que ninguém conseguia ouvir. Era difícil dizer se ela estava gostando ou vivendo um pesadelo. Alguém mais estava mandando ver bem ali na mesa”. Mas ela não conseguia tirar os olhos de Jimmy, que “estava sentado à parte, observando a cena como se a tivesse imaginado: supervisor, criador, incrivelmente bonito”. Atônita, ela sumiu dali, apesar de estar com as “coxas grudentas”. Mas tinha sido notada, e, quando a banda voltou para Los Angeles, Page mandou seu
farejador, Cole, atrás dela...

Embora o grupo não pudesse ser responsabilizado pelas coisas estranhas ou perturbadoras que aconteciam com eles quando estavam na estrada (por exemplo, quando chegaram certa manhã a Detroit, depois de ter passado a noite em um avião, deram com um corpo sendo retirado em uma maca, enquanto no chão do lobby uma grande mancha de sangue marcava o lugar em que a vítima havia sido baleada), eles certamente adoravam o caos que a sua simples presença parecia causar aonde quer que fossem. Foi também em Detroit que a jornalista da revista Life, Ellen Sander, se juntou à turnê. Sander queria cobrir o The Who, que também estava em turnê pelos Estados Unidos naquele verão, mas não deu certo e acabaram inventando uma matéria sobre o Led Zeppelin para entrar no lugar. Era sua primeira matéria para a Life, e ela estava ansiosa, apesar de um pouco decepcionada por não estar cobrindo o The Who, banda bem mais famosa na época. Observando seu entusiasmo, Cole imediatamente organizou uma aposta para ver quem seria o primeiro a transar com ela.

De sua parte, Sander iria caracterizá-los com precisão. Page era “etéreo, efeminado, pálido e frágil”. Plant era “bonito de uma forma grosseiramente obscena”. Bonzo “tocava a bateria com fúria, quase sempre sem camisa e suando, como um gorila enfurecido”. Jones era o que “unia as  coisas e ficava nas sombras”. Ela concluiu que a banda “tinha o fogo e a habilidade musical a seu favor e muito incentivo; dessa vez, em sua segunda turnê, desde o início eles já eram quase estrelas”. Sander passou a maior parte do tempo com Page, não dormindo com ele como o grosseiro Cole havia previsto, mas interrogando-o constantemente a respeito dos abusos que ela havia observado na relação dele com as groupies. Ela cita Page: “As garotas aparecem e posam de starlets, provocando e agindo de maneira arrogante. Se você as humilha um pouco, costumam voltar numa boa. Todo mundo sabe para o que elas vieram”.

No final da turnê, quando foi até o camarim para se despedir, ela disse: “Dois membros do grupo me atacaram, rindo e agarrando minhas roupas, totalmente descontrolados”. Bonzo se aproximou primeiro, Sander disse, seguido por “algumas... todas aquelas mãos em cima de mim, aqueles caras grandes”. Incapaz de identificar alguém no meio da confusão, ela não tem certeza se foram mesmo os membros da banda ou os roadies. Apavorada, achando que seria estuprada, Sander diz: “Lutei até ser salva por Peter Grant, mas não antes de eles conseguirem rasgar meu vestido nas costas”. Furiosa com aquela agressão, Sander se vingou recusando-se a fazer a matéria para a Life, negando à banda  o que poderia ter sido uma publicidade importante em grande escala, algo que os Stones teriam depois. Mas ela expressou seus sentimentos em um livro que escreveu depois, Trips, onde concluiu: “Se você entra nas jaulas do zoológico, consegue ver os animais bem de perto, passar a mão no pelo e sentir a energia por trás da mística. Também sente o  cheiro de merda bem de perto”.