A louca, maravilhosa e assustadora poética insurgente de Celso de Alencar (2022)

testamentos

Breve Resenha Crítica por: Silas Corrêa Leite

A louca, maravilhosa e assustadora poética insurgente de Celso de Alencar

Dizem que Buda morreu de tanto comer carne de porco(...)/
Charles Manson é muito coerente no que diz./
Jesus Cristo teve um descontrole emocional na feira(...)/.
Não se vai à luz pela luz(...)./
Meditar adia o inferno, mas seria melhor acelerá-lo/.
Ao homem Deus deu seu coração e seu intelecto. /
À Lúcifer, Deus deu sua graça e sua fúria/.
Diogo Marciano

Todo Poeta é mesmo meio Poe... (Edgar Allan Poe, autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico em seu país, mas muito mais conhecido por suas histórias que envolviam o mistério e o macabro). Você vai lendo CELSO DE ALENCAR e vai pondo os ariscos pés em linhas que ultrapassam o jogo de amarelinha do céu e do inferno. E, parafraseando Caetano Veloso, não existem outros como Celso de Alencar...
De posse de seu livro TESTAMENTOS, que tive o prazer de receber pessoalmente dele em um coquetel de lançamento de livros , depois de conhecê-lo e sabê-lo profícuo produtor literário por amigos em comum e pelas lidas das redes sociais e afins, caiu-me a ficha, e logo caí de cara, boca, olhos e mentes no livro, e de presto enfiei-me pelo poeta-textamento furioso e benigno, meio sagrado-profano, mas ainda assim um, ponhamos, poemaço e tanto, tormentas vertentes de sua lucidez e qualidade lítero-poética. Está entre os melhores poetas vivos e na labuta, como Carlos Nejar, Álvaro Alves de Faria, Marcelo Ariel, só para citar alguns que curto, louvo, leio e admiro.
“A alma imortaliza-se quando é atravessada pelo delírio artístico e pelo sublime onde nos desviamos da normalidade através do pensamento intensivo que conquista e constrói tempo puro”, disse Luís Serguilha
Lendo Celso de Alencar você logo se acha perdido, entregue, e também acaba se perdendo de mala e cuia por assim dizer, e fica a murmurar como ele pode escrever isso, criar tanto isso tudo, saltar aos olhos as asas e as vísceras de tudo quanto ele carpinteiro das palavras labuta, no oficio de poetar talvez o inominável, o indizível, dando cria aos versos que beiram ao pastoreio de palavras como sentenças entre ovelhos negros.
Já elogiado por Márcia Denser “A obra de Celso de Alencar se alinha à de Roberto Piva, Paulo Leminski(...) e Ana Cristina César”; ou, Glauco Mattoso: “”A poesia de Celso de Alencar é autodenominada obscena(...) trabalha com enfoque chocante”; ou, Cláudio Willer: “Ao longo de sua produção poética, Celso de Alencar cresceu no sentido de vigor e precisão”. Celso de Alencar realizou bem seu ofício partindo de um cânone litúrgico de referência(...) conforme assinalou Paul Valéry, de que o oficio do artista é fazer alguma coisa a partir do nada”. Eis a poética de Celso de Alencar.
Segundo Maiakovski, Poesia é revolução. Para William Blake, Poesia é o casamento do céu com o inferno. Para João Cabral de Mello Neto, Poesia é arquitetura. Para Mallarmé, Poesia é mistério inteligente. Para Paul Celan, Poesia é uma espécie de regresso à casa. Celso de Alencar é um pouco de tudo isso e muito mais, por isso é único no gênero e estilo, diferenciado, portanto, fora do série, do sério, de série....
Celso de Alencar além de poeta primoroso é declamador portentoso, um paraense radicado em São Paulo. Para o poeta e crítico Cláudio Willer, trata-se do mais enfático poeta contemporâneo brasileiro, enquanto o compositor e poeta. Aliás, Jorge Mautner, o considera um poeta da 4ª dimensão, escandalizador e libertador de almas. É reconhecido entre os grandes talentos da geração de 70. A convite apresentou-se na Inglaterra, França e Portugal. Também é tradutor da poesia do nicaraguense Rubén Darío e intérprete da poesia de Mao Tse Tung. É ainda autor, entre outros livros, antigos livros como Tentações (1979), Salve (1981), Arco Vermelho (1983, 1985 e 1992), Os Reis de Abaeté (1985), O Pastor (1994, infanto-juvenil), O Primeiro Inferno e Outros Poemas (1994 e 2001), Sete (2002), A Outra Metade do Coração (CD- antologia poética), Testamentos (2003). Celso de Alencar também participou de várias antologias literárias entre as quais Poesia Contemporânea Brasileira (2001, ed. Alma Azul, de Coimbra), Poesia do Grão-Pará (2001), Scène Poétique (2003, dez poetas brasileiros e dez franceses, edição Cena e Consulado da França em São Paulo), Quando Freud Não Explica Tente a Poesia (2007), além de publicações em revistas e periódicos. Palestrante e integrante de diversos júris de concursos de poesia, foi diretor da União Brasileira dos Escritores (gestão 1990/92 e 1992/94). Tudo isso a saber, quando li apenas o TESTAMENTOS de Celso de Alencar, Editora Quaisquer, 2003, que recebi em mãos do próprio autor num evento líterocultural promovido pelas Editoras LetraSelvagem (SP) e Kotter4 (PR). É preciso ler mais Celso de Alencar.
Gerson Valle nos diz: “Às vezes pode parecer difícil o limite da Poesia com o inefável místico, fantasioso ou sonhador. As religiões permeiam tudo isto em sua essência. Mas a institucionalização que as secularizam materializam-nas a ponto de não lembrarmos mais o sentido de suas origens. A Poesia também pode permear objetividades mais próximas de narrativas prosaicas, chegando mesmo a se ater apenas a formalismos que a querem tipificar, quando é o intuito de uma perspectiva metafórica, alegórica, simbólica, em parábola do mundo que a situa significantemente(...). A Poesia contemporânea ao ânimo inefável trazido de suas origens, está na poesia do antigo Egito, no oriente, em Homero; passa por toda a cristandade medieval, tendo seu ápice em Dante, nada parecendo mais próximo ao subjetivismo poético que as sensações, intuições, apreensões místicas do ser humano. Por mais que a racionalidade dos iluministas e o materialismo do século XIX tenham marcado um afastamento científico das abstrações místicas, as indefinições psíquicas do “spleen”, um gosto tentado pela embriaguez, a índole amorosa, a perquirição do nunca acabado conhecimento, ou seja lá que outros percursos existenciais nos colocam frente aos mistérios jamais decifrados, as questões ditas do espírito nunca perdem sua primazia(...) Paul Claudel, de formação ateia, em plena Paris dos intelectuais materialistas de 1886, sente-se em “estado de conversão” num concerto da Missa Solene de Beethoven na Catedral Notre Dame de Paris, e, para o resto da vida sua poesia refletirá as “verdades reveladas” dos evangelhos cristãos. E ele mesmo chamará de “mística em estado selvagem” as “Iluminations” de Arthur Rimbaud, que antecede grande parte dos diversos “modernismos” da poesia do século XX. Como nos versos de “Zone” de Guillaume Apollinaire: “C’est le Christ qui monte au ciel mieux que les aviateurs / Il détient le record du monde pour la hauteur” (“É o Cristo que sobe ao céu melhor que os aviadores /Ele detém o recorde do mundo pela altura”). No Brasil, dentro do Modernismo, poetas como Jorge de Lima e Murilo Mendes, tangenciando o surrealismo tocaram plenamente na mística católica (que esteve, aliás, presente na primeira fase de Vinícius de Moraes)”.
Resumindo, Celso de Alencar elenca todas essas preciosidades, tanto moderno, crítico, talentoso, de verve, e ainda é só o primeiro livro dele que degustei, imaginem os outros... Pois, por essas e outras, seu livro ilumina e abarca, gostoso de ler, de se saber. Delírios de lírios sel-vagens.
Bravo
-0-

Silas Corrêa Leite
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Autor de TRANSPENUMBRA DO ARMAGEDOM, Desconcertos Editora, SP
Site:
www.poetasilascorrealeite.com.br

 

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