WALDEMAR JOSÉ SOLHA: O QUE NOS FAZ DISTRIBUIR NOSSOS LIVROS (2021)

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WALDEMAR JOSÉ SOLHA
O QUE ME FAZ DISTRIBUIR MEUS LIVROS

"Em um mundo onde não se incentiva o pensamento crítico, onde o grande barato é seguir pessoas e ser influenciado, a leitura não faz mais parte da receita para o sucesso. Lamentável!!" (RITA MANGUEIRA)


Bem , eles nunca foram “best-sellers”, apesar dos prêmios. A editora Record – que lançara meu primeiro romance, ISRAEL RÊMORA, em 1975, porque o prêmio Fernando Chinaglia incluía a edição do livro por uma grande editora – me respondeu, quando lhe perguntei se poderia lhe remeter os originais de outra obra: “Nem pensar!: o seu outro levou CINCO anos pra se esgotar!”
Por essa época, recebi ligação da editora Ática dizendo que o encalhe de mil exemplares de meu terceiro romance, A VERDADEIRA ESTÓRIA DE JESUS – apontado por Affonso Romano de Sant´Anna como “vanguarda na literatura brasileira”, ia ser destruído, pelo que perguntei por quanto me venderiam o lote. Acertado o preço, fechei negócio, mas no dia seguinte fui informado de que “por lamentável engano” os volumes tinham sido destruídos, o que me fez deduzir que sequer tinham sido impressos, pois estivera em São Paulo, no auge da repercussão dessa minha criatura e não a encontrara em nenhuma das grandes livrarias da capital. Já ao ganhar o prêmio de incentivo à literatura da Funarte, em 2007, com o romance RELATO DE PRÓCULA, me vi – surpreendemente – sem editor, paguei a edição de A GIRAFA . e a vi falir em seguida, com o estoque transferido para a Escrituras, que o repassou para mim a preço de banana. Aí ganhei o prêmio INL com outro romance, A BATALHA DE OLIVEIROS, que incluía distribuição de mil exemplares para bibliotecas públicas de todo o país. Coincidiu que , pouco tempo depois, fui convidado pela Biblioteca Nacional a dar palestras nas... bibliotecas públicas... de Manaus, Belém, Recife e Salvador, e em nenhuma vi meu romance. Aí a Bertrand Brasil lança minha HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA, que fica entre os finalistas do Jabuti no ano seguinte e ganha o prêmio da UBE–Rio da categoria, ligo perguntando se posso mandar os originais do romance ARKÁDITCH em seguida e ouvi que só editavam livro de um autor quando o anterior já houvesse coberto as despesas da edição.
A Civilização Brasileira me “cozinhou” por três anos sem a acertada publicação do ZÉ AMÉRICO FOI PRINCESO NO TRONO DA MONARQUIA, mandei o livro para a Codecri, que o lançou imediatamente, ... e faliu.
A coisa piorou quando inventei de criar meu primeiro poema longo, TRIGAL COM CORVOS. O mesmo Affonso Romano de Sant´Anna me disse que meu primeiro “tratado poético-filosófico” era um Zaratustra pós-moderno, mas que eu não iria encontrar editor para ele. Não encontrei. Daí que passei a sistematicamente bancar meus livros e a oferecê-los a quem por eles pudesse se interessar.
Vivi isso mais dolorosamente, porque ao vivo, com uma peça de teatro. Quando Fernando Teixeira foi fazer a estreia do PAPA RABO, genial direção dele em cima da adaptação que eu fizera do FOGO MORTO, botou duas moças do elenco pra vender ingressos na agência do BB – a da Praça 1817, onde eu trabalhava. De repente, vi um colega batendo boca com as atrizes, fui ver o que havia.
– Elas estão querendo empurrar um ingresso que eu não quero comprar.
– Elas não lhe disseram que a peça é minha?
– Sim, MAS EU NÃO QUERO!
E o pior foi que, teatro lotado, na estreia, não vi ninguém do banco, na plateia, apesar dos muitos ingressos que, apesar de tudo, tinham sido vendidos, lá. No dia seguinte, quando o terceiro colega me disse que não fora porque o filho adoecera, fiz uma proclamação geral: “Nenhum de você estava lá. Vamos, portanto, evitar o constrangimento das desculpas furadas. Vocês não se interessam por isso e estamos conversados”.
Ainda fui a uma sessão de autógrafos, na Universidade, onde mais dez livros estavam sendo lançados na mesma ocasião, com o meu SHAKE-UP. Autografei três exemplares. No lançamento de TRIGAL COM CORVOS, que fiz no Sebo Cultural, a convite do Heriberto, que estava inaugurando suas novas instalações em 2005, tive mais sucesso: nove exemplares – quase todos vendidos para tias de minha mulher, pelo que eu disse Não faço, mais, isso.
Aí a pergunta. Por que escrevo? Porque preciso fazê-lo. Deixei o teatro em 1988, a pintura em 2004, o cinema em 2010 para me dedicar exclusivamente a meus livros. OK. Mas por que publicá-los? Porque sei que há os que buscam o mesmo que eu e sinto necessidade de repartir o que foi conseguido, mesmo que para muito poucos. Para um... “band of brothers” – como diz Henrique V na peça de Shakespeare, ao se ver com forças inglesas terrivelmente menores do que as francesas.

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