FRANÇOISE SAGAN APAIXONADA POR CARROS DE CORRIDA, ÁLCOOL E DROGAS (2004)

   Françoise Sagan apaixonada por carros de corrida, álcool e drogas

    (Mário Pazcheco)

   Françoise Sagan foi um sorriso melancólico, enigmático, distante e alegre. Seu estilo, que marcou uma geração em seu primeiro livro era preciso e perfeitamente desabusado.
   (Jean-Pierre Raffarin, primeiro-ministro da França)

   Impossível ler Françoise Sagan sem se lembrar de Jim Morrison, enquanto vivos eles escreveram sobre suas (as)pirações fantasmas e o perigo de uma diversão preocupante ante outros olhares mas particularmente divertida - um elo entre a velocidade e a morte e o fascínio que a literatura francesa exerce sobre os estrangeiros.

   Françoise Sagan lançou-se na aventura literária quando não conseguiu passar no vestibular. Em sete semanas escreveu Bom Dia Tristeza, relato realista das experiências de uma moça de 18 anos, Cecile; que descobre a sexualidade enquanto se intromete na promíscua vida amorosa do pai, com trágicas consequências. A obra, considerada imoral no pós-guerra, teve milhões de exemplares vendidos (um milhão nos Estados Unidos) e, tornou-a imediatamente famosa. Os romances que posteriormente escreveu mantiveram o mesmo nível do primeiro. Françoise Sagan evidenciava talento, apreciado por vasto público, para descrever a solidão e o tédio, duas constantes na vida das pessoas de uma certa classe.

   Era 1954 e, neste meio século, "a última das existencialistas" ou "ativista de esquerda", como foi muitas vezes chamada a escritora que frequentava o Quartier Latin ao lado de Sartre, Juliette Gréco e muitos outros, alcançou a aura de mito em seu país.

   Bom Dia Tristeza, adaptado para o cinema em 1958, com Debora Kerr e Jean Seberg. Além da obra romanesca, Françoise Sagan foi também autora de peças de teatro, ela lançou muitos outros romances depois. É autora de uns 50 livros, entre eles: Aimez-vous Brahms? (Você gosta de Brahms?), de 1959, ou La Chamade, de 1965 (título que designa tanto sinal que anunciava a capitulação dos sitiados quando à batida desenfreada do coração). No Brasil, foram publicados entre outros, Cansado de Guerra, Sangue de Aquarela, Minhas Melhores Lembranças. Sagan — pseudônimo tomado de Proust - nunca recebeu importantes prêmios literários em seu país. Sua obra chamava a atenção do público, apesar de tachada de superficial.

   Com sua morte, o país perde uma de suas mais brilhantes e sensitivas autoras, uma eminente figura em nossa vida literária (Jacques Chirac ex-presidente morto da França)

   O sucesso também não foi garantia de uma vida tranquila. A mundana Françoise Sagan, de uma criatividade hiperativa - apesar da solidão interior —, sempre gastou mais do que ganhou e era conhecida por beber demais. Passou por clínicas de desintoxicação e chegou a sofrer graves acidentes automobilísticos por causa do excesso de velocidade. A escritora que foi amiga de François Mitterrand, em 1992 foi condenada a um ano de prisão com direito a sursis por problemas com o fisco. A mulher que nos anos 60 encarnou o espírito de liberdade na França vivia na casa de amigos. Casou-se duas vezes, mas rapidamente se divorciou. Ela teve um filho. Morreu, aos 69 anos, de embolia pulmonar, em Honfleur, na Normandia.

"Tudo o que recebo por direitos autorais vai para o fisco. Não me deixam nem um euro para viver. Dependo da caridade e estou destinada ao hospício", disse Sagan poucos meses antes d emorrer, quando outros artistas se mobilizaram para pedir o perdão presidencial à escritora. Ela morreu jurando ser vítima inocente de uma 'armadilha'".

"Tenho sobre a cabeça esse sucesso que se tornou um refrão eterno"
Françoise Sagan (21 de junho de 1935 - 24 de setembro de 2004)